O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

 

dispôs de tanto dinheiro para a educação. Portanto, se educação não há é porque o dinheiro é mal gerido. É mal gerido, por exemplo, a começar pelas universidades, quando todos nós sabemos os milhares de contos que se gastam nas chamadas reuniões de júri para doutoramentos, concursos e agregações, coisas que podiam fazer-se por fax.

O Sr. David Justino (PSD): - Por fax?!

O Orador: - Por fax, com certeza! Se me incumbirem de fazer uma prova, certamente que não preciso de estar na presença do reitor da universidade para dizer que a faço! Passam a vida a passear entre universidades! Em parte nenhuma do mundo isto se faz! Era o que faltava!
Como reitor sempre me chocou a quantidade de viagens que tinha de fazer, e que deixei de fazer - recusava-me a fazê-las - porque considero que se trata de um dispêndio no erário público absolutamente desnecessário. Se houvesse um caso "bicudo", por exemplo, de insultos, de rivalidades, de "canibalismo universitário", então, sim, era necessária a nossa presença.
Cada qual pensa como quer, mas de qualquer maneira penso que os universitários estão habituados a gastar muito dinheiro, embora ganhem modestamente. Portanto, este é o exemplo de uma situação em que podia poupar-se alguma coisa.
No que diz respeito ao dinheiro à disposição do ensino, penso que o mesmo seria suficiente caso houvesse medidas que obrigassem as escolas a administrar bem, porque seriam avaliadas.
Como é evidente, falar num orçamento na especialidade sem ter um balanço para saber qual foi o resultado do orçamento anterior não convence nenhum accionista. Em qualquer empresa seria assim, mas aqui somos forçados a falar de aumentos e de diminuições da taxa de inflação sem saber se, por exemplo, em certos sectores aquilo que se conseguiu no ano transacto foi 90%, 80% ou 70%.
Quero insistir na questão do ensino básico, visto que o meu colega David Justino já referiu o ensino pré-escolar, que considero extremamente importante, embora há 20 anos não soubesse sequer o que isso era nem o considerasse muito importante, porque nunca o tive - não consideramos importante aquilo que nunca tivemos e nunca conhecemos - e não era especialista em ciências da educação, felizmente, pois nesse caso a educação ainda estaria pior.
Recebi várias cartas de escolas do 1.º ciclo de diversos pontos do País em que criancinhas me perguntavam se no século XXI ainda terão os manuais tão complicados que os obrigam a decorar e se ainda terão de passar o frio que passam nas escolas. Outro dia - não sei se na Comissão de Educação, Ciência e Cultura -, alguém disse que Portugal era um país com um clima temperado e que, portanto, o aquecimento nas escolas não era necessário. Penso que foi um Deputado açoreano quem disse isto….

O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): - Eu?!

Risos.

O Orador: - Estava a lembrar-me de quem tinha dito aquilo porque, de facto, os açoreanos não têm frio, pois têm uma amplitude térmica relativamente pequena!
Portanto, como eu estava a dizer, recebi cartas de crianças a perguntar se ainda continuarão a passar frio nas escolas. Será o estado actual financeiro do orçamento dedicado ao ensino básico suficiente?
Bem sei que a resposta ao problema que enunciei é "Isso é competência da autarquia!". Até admito que seja competência da autarquia, mas tem de haver um entendimento, porque até sou a favor da descentralização nas decisões, mas a descentralização nunca se deu - aliás, outro dia falei na sua "capoeira das musas" - era assim que Calímaco chamava ao museu de Alexandria -, na 5 de Outubro.
Portanto, Sr. Ministro, gostaria de saber se vão ser tomadas algumas medidas efectivas no sentido de as crianças terem, pelo menos, alguma qualidade de vida, que se reflectirá, certamente, na escola e na qualidade de aprendizagem. E já não digo na qualidade de ensino, porque há professores que não são recuperáveis. Aliás, este é outro aspecto que seria aqui de frisar.
Outro dia, na reunião do Conselho de Reitores, o Presidente, o Reitor da Universidade do Algarve, disse-nos com uma certa graça que Portugal precisava de engenheiros e de menos humanidades. Eu, que sou da área de humanidades, sou capaz de concordar com ele, porque sempre defendi que um país onde se estuda sobretudo Direito está necessariamente condenado a ser um país conflitual. Não há dúvida nenhuma que no dia em que os advogados não tiverem assuntos para resolver em tribunal o País desfaz-se. Portanto, desde os bacharéis de Direito do século XIX até hoje, a profissão preferida de um País conflituoso e conflitual (diz-se de brandos costumes mas não é; têm medo de levar na cabeça, mas brandos não são!) é o conflito.
Estive a ver as estatísticas e julgo que este livro que tenho em meu poder, embora me tivesse chegado bastante tarde às mãos, elucida sobre certos números no ensino. Na parte de ciências há uma predominância grande de inscrições, há mais pessoas na ciência do que nas humanidades e nas artes. Portanto, não sei onde o Presidente do Conselho de Reitores foi buscar aquela ideia, muito embora considere que se Portugal tivesse mais tecnologia não perdia nada.
Sr. Ministro, como tive ocasião de lhe dizer aquando do debate das Grandes Opções do Plano, de que nos serve alta tecnologia se não temos tecnologia média? De que nos servem os altos quadros saídos da universidade, que em geral têm uma preparação teórica "manualista" extremamente aplicada, se, por exemplo, em relação aos alunos de Agronomia, que têm três anos de alta matemática e vêem fitopatologia em slides, quando chegam ao campo, não sabem distinguir qualquer erva daninha da aveia selvagem, o chamado balanco?
No que diz respeito ao ensino tecnológico em geral, estive a informar-me, pois outro dia os Professores Nóvoa e Vítor Crespo insistiram comigo em como o ensino profissional estava a desaparecer nos países europeus, o que não é verdade, e posso dizer que os alemães, os franceses, os austríacos continuam com este tipo de ensino, aliás, estes últimos até têm aulas aos sábados.
Sr. Ministro, pergunto-lhe o seguinte: será suficiente o ensino tecnológico incidir só nos três últimos anos, que depois poderão dar acesso, evidentemente, ao ensino superior (para mim isso nem é objecto de discussão)? Para