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98 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ía referir-se aos tumultos, que se estão dando no paiz, e cuja origem se prende com esta discussão.

O governo, pela voz do sr. presidente do conselho, continua a affirmar que o paiz está tranquillo, quando ao mesmo tempo os telegrammas de todos os pontos confirmam o contrario.

Hoje eram os ultimos os tumultos em Chaves, onde quatro freguezias se revoltam contra o inquerito, mandado fazer por um governo que não tem sabido administrar os tributos que elles pagam, receiando por isso os povos que elle venha exigir-lhe mais, para compensar os esbanjamentos, que se fazem.

Que a phrase do sr. presidente do conselho "de que o governo fica" faz lembrar uma chistosa charge de Albert Millaud, a proposito de Julio Grévy, esse velho tão honrado quanto desgraçado que nos seus ultimos dias de vida politica dizia o mesmo.

Albert Millaud comparou Grévy a um capitão de um navio que o vão alijando para evitar o naufragio, ficando no seu posto só para cumprir o seu dever.

Assim tambem o sr. José Luciano de Castro já alijou do navio as licenças e o inquerito agricola.

Se o paiz se levantar contra os addicionaes, os addicionaes terão a mesma sorte que as licenças, porque o dever do governo é ficar, e a esse dever não póde faltar!

Se o paiz se levantar contra a questão das obras do porto de Lisboa, o sr. Emygdio Navarro irá borda fóra, e o governo fica.

Se isto ainda não bastar, quando chegar a desgraçada questão dos tabacos, se for necessario, sacrificar-se-ha tambem o sr. MarianNo de Carvalho.

Uma VOZ: - Se elle deixar.

O Orador: - Não lhe parece, porém, que n'esta occasião o coração do sr. presidente do conselho sangre muito! (Riso.)

Se o paiz tambem não quizer a reacção religiosa, que á sombra d'este governo se está manifestando muito e desenvolvendo, o sr. Barros Gomes irá até Roma, até onde os peregrinos mais religio-os desejam ir. Mas o sr. presidente do conselho ficará, porque esse é o seu dever.

Que no fim de toda esta comedia parlamentar, s. exa. acabará por ter a mesma sorte, e irá para a rua dos Navegantes, assim como Julio Grévy foi para a avenida d'Iéna.

S. exa., porém, diz que conhece bem a opposição. Ao principio muito furor, mas depois amaina.

Pois, se assim succeder, então s. exa. fique no poder, e varra d'aqui como um lixo immundo esta opposição, e elle, orador, o ajudaria.

A opposição, comtudo, não procede assim; e ao contrario bastantes rasões temos nós para julgar bom fatal e prophetico o discurso do sr. Elvino de Brito.

Já em 1886, s. exa. levou tres dias a defender enthusiasticamente o governo, e o governo tinha deixado de ficar, antes de s. exa. acabar.

Conclue dizendo que estima muito para consolação dos seus collegas da maioria, que não tenham agora tal surpreza, e muito mais breve do que se espera.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

(O discurso do sr. deputado será publicado na integra quando s. exa. restituir as notas tachygraphicas.)

Leu-se na mesa a seguinte:

Moção de ordem

A camara, considerando que o governo carece de auctoridade moral para manter a paz e tranquillidade publicas, passa á ordem do dia. = Franco Castello Branco.

Foi admittida.

O sr. Carlos Lobo d'Avila: - Por parte da commissão de resposta ao discurso da corôa mando para a mesa o projecto de resposta.

O sr. Eça de Azevedo: -(O discurso será publicado na integra quando s. exa. o restituir.)

O sr. Dantas Baracho: - Quando hontem fallava o sr. presidente do conselho fiz uma interrupção dizendo que hoje faria a narração dos factos que se deram em Ourem, e a que s. exa. se referiu; mas quando fiz esta promessa esperava que hoje me coubesse a palavra sobre o assumpto da ordem do dia.

Infelizmente, a palavra não me chegou na altura competente para me occupar de uma materia que ha de ser vasta, e por essa occasião hei de confrontar outros factos que se têem dado da mesma Índole, e pôr em relevo o procedimento do partido regenerador.

Agora devo dizer que ouvi com toda a attenção o illustre deputado o sr. Eça de Azevedo, mas permitia-me s. exa. que lhe diga que não serei eu quem lhe satisfaça o desejo de pôr termo n'esta questão, pelo contrario, porque emquanto d'esse lado da camara partirem insinuações contra a opposição, como ainda hoje fez o sr. Antonio Maria de Carvalho e hontem o sr. presidente do conselho, eu e os meus collegas havemos de repelil-as com toda a energia. (Apoiados.)

Pelo adiantado da hora não posso entrar em mais largas considerações, mas quando me chegar a palavra sobre o assumpto que constitue a ordem do dia, eu hei de largamente procurar os meios de liquidar esta velha questão, já que o sr. presidente do concelho deseja que lhe faça essa vontade.

O sr. Presidente: - A ordem do dia para segunda feira é a continuação da de hoje.

Está levantada a sessão.

Eram mais de seis horas da tarde.

Redactor = Rodrigues Cordeiro.