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que m´a deram; mas não posso respeitar igualmente pelo mais. Sr. Presidente, eu sei o que é realisar a receita, eu sei o que é fazer um sacrificio necessario para realisar a receita, eu sei o que se pratica a este respeite lá fora, e direi a S. Exa. O illustre Ministro da Fazenda, que quando em uma Sessão anterior S. Exa. me disse que eu não tinha tido fundamento para as arguições que lhe havia dirigido pela avaliação de um rendimento do Estado, eu esperava esta resposta, porque sei que é a que se costuma dar.

Mas S. Exa. disse ainda outra cousa, e permitta-me lhe observe que o que disse, não tem o menor fundamento. E nem o dito, nem o acto de SS. Exas. excitaram a minha susceptibilidade: eu não tenho susceptibilidade neste ponto, parece-me que se fosse Ministro da Fazenda, se tivesse essa desgraça, não havia de ter susceptibilidade por isto, parece-me que não; mas póde estar descançado S. Exa. que não se ha de dar o caso de virem provas praticas abonar este meu sentimento; e só continuarei na opinião de que nenhum Ministro da Fazenda devia ter susceptibilidade - Porém eu não disse absurdo quando opinei que o orçamento da receita podia ser calculado pela receita mesmo, sem ser preciso ir ao capitulo da despeza: foi isto uma cousa que causou riso; riram-se da minha ignorancia. Ora, Sr. Presidente, eu digo que tenho visto mais orçamentos do que o de Portugal, e vi o de uma Nação, que apesar de ser muito mais nova na vida social é politica do que nós, vai-nos muito adiante, e alli observei que o rendimento da receita é calculado pelo termo medio do que produziu nos tres annos anteriores, e não por um lançamento fantastico: e aqui está a auctoridade de que eu entendo que posso servir-me para mostrar que não é absurdo avaliar a receita pela receita mesmo, e que o contrario é que é absurdo; e por consequencia, não me parece que fosse objecto de causar riso.

Sr. Presidente, diz-se muita cousa nestas questões de Fazenda; e ou não posso nem quero cançar a Camara, porque seria abusar da posição em que se colloca quem apresenta uma proposta de adiamento; mas não posso deixar de dizer alguma cousa sobre alguns casos - Fallou-se na importancia da existencia deste Estabelecimento, e disse o Sr. Ministro que sem tal existencia, e de tal modo que possa ajudar o Governo com os meios necessarios, não se póde organisar a Fazenda. Ora isto é um modo de ver a questão, e cada um a vê a seu modo; eu entendo que não ha systemas absolutos para organisar todas as questões do Fazenda; entendo que o systema de Fazenda bazêa-se em diversos systemas, e no mesmo paiz, e por: consequencia S. Exa. dizendo que é necessario que haja um Estabelecimento acreditado que empreste dinheiro ao Governo, segue no meu entender um systema erroneo se o quer applicar a todos os systemas. Disse S. Exa. que os emprestimos era uma cousa diversa dos supprimentos, que era necessario não confundir emprestimos, e antecipações com supprimentos, e adiantamentos: eu já disse que tinha amor proprio em não ser financeiro; sei que se tem dado diversos nomes ás antecipações e aos emprestimos; tem-se-lhes chamado supprimentos, adiantamentos e outros nomes, mas chame-se-lhes o que se quiser, a differença do nome não muda a essencia da cousa, e S. Exa. hade concordar em que tem havido muitos adiantamentos como mesmo effeito dos emprestimos e antecipações, e ás vezes ainda peores. Mas note S. Exa.; eu o que disse não foi absurdo; houve emprestimos, e emprestimos são sempre pessimos para o credito publico, isto não é absurdo; agora o que é absurdo, o que em toda a parte se considera absurdo é estar um Governo a fazer emprestimos por um lado para satisfazer a despesas correntes, e a amortisar por outro lado, isto é que eu sustento que é absurdo, e embora me não deem apoiados nesta Camara, estou certo que fóra d´aqui alguem mos ha de dar. O que sei é que na Inglaterra quando a despeza excede um real á receita, cessa a amortisação; vem o Chanceller dizer á Camara; não ha amortisação por que a despeza excedeu á receita; e em Portugal não ha isso, em Portugal até se capitalis: o que sei é que em França, no tempo da Monarchia de Julho de 1830, tratou-se de fazer obras publicas; pois fizeram-se com os fundos destinados para a amortisação, e esses fundos é que cobriram o deficit dessas obras altamente productivas para o Estado.

E, Sr. Presidente, esta realisação de receita, esta necessidade de obter dinheiro por meio de emprestimos seria um bom argumento, senão houvesse ao mesmo tempo o atraso que ha; porque, para que se realisa a receita, se se conserva o atraso em que estamos? Eis-aqui logo outro systema errado; porque na minha opinião o Sr. Ministro desde que vê no paiz um atraso de dezoito mezes a uma classe qualquer, todos quantos sacrificios houvesse de fazer, deviam ser para cobrir esse atraso. Lá fóra não se realisa a receita para conservar o atraso.

Estas questões são importantes, e eu não sou competente para as tractar, conheço isso; mas peço perdão ao illustre Deputado para dizer, que eu tambem tenho a desgraça de pensar nellas ás vezes, e não é com palavras de pessoas, muito respeitaveis sem duvida, que se podem combinar as considerações que se fazem sobre este assumpto; todos devemos estudar, o illustre Deputado sabe isto muito bem, e o caso é que nós estamos n´uma situação especial, que nos faltam esclarecimentos para fazer idéa do verdadeiro estado em que estamos, e dos melhoramentos que se nos pintam, e esses esclarecimentos são o Relatorio do Banco, e o Relatorio do Sr. Ministro da Fazenda. E ainda que S. Exa. diz que o seu Relatorio não nos vem esclarecer em nada sobre este ponto, eu julgo que é modéstia em S. Exa.: pois S. Exa. póde avaliar as impressões que o seu Relatorio me póde causar sobre este objecto? Pois S. Exa. póde fazer idéa do pensar dos outros, que seguem um systema diverso em finanças? Póde S. Exa. avaliar para que me podem servir os esclarecimentos que apresentar? Não póde de certo. Eu entendo que S. Exa. foi muito modesto; estou convencido de que esse Relatorio me ha de esclarecer muito, porque sei que S. Exa. costuma prestar a sua attenção a estes trabalhos, e que não gosta de apresentar senão documentos que illustrem os assumptos a que se referem. Conheço que isto não é argumento para os outros que não precisam destes esclarecimentos, mas é-o para mim.

Sr. Presidente, o Governo de Portugal está-se obrigando áquillo que não póde a respeito de Fazenda, a experiencia o tem demonstrado; o Governo de Portugal está pedindo emprestado sobre dinheiro, e já ouvi fallar um Sr. Ministro, citando como uma gran-