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6 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Este apoio do Sr. Julio de Vilhena ao Governo é verdadeiramente excepcional! Que bella camaradagem politica !

S. Exa. entende que o inimigo a atacar é o Sr. Ferreira do Amaral!

No seu discurso, o Sr. Julio de Vilhena comparou-se áquelle personagem de Corneille, a quem, atacado por três, só restava morrer. Morrer! Então o Sr. Julio de Vilhena estará isolado?

Onde se acham então os marechaes do partido regenerador, visto que é só o Sr. Pimentel Pinto que assiste com frequencia ás sessões d'esta Camara, e o Sr. Moraes de Carvalho que algumas vezes apparece, retrahido na penumbra a que injustamente quis condemnar-se.

E os outros marechaes? Onde estão elles. Não são marechaes, são conegos.

E que é ser conego? Canonico, dizia-me um espanhol em Salamanca, es el que gana los seis mil reales y que canta si quiere e si no quiere está sentado . . .

(Hilaridade na Camara e na galeria}.

O Sr. Presidente : — Advirto a galeria de que não pode manifestar-se.

O Orador: — Como os marechaes regeneradores não fazem nada, e o Sr. José Luciano cá não vem, os marechaes progressistas podem talvez auxiliar o Sr. Vilhena, mesmo para não perderem o habito de coadjuvar o chefe.

Quanto á irresponsabilidade do Rei, disse S. Exa. que defende o mesmo principio que eu defendo.

Parece-me bem que não, porque o Digno Par teve bastantes contradições no seu discurso.

Disse tambem S. Exa. que estava de harmonia com a proposta do Sr. Ba racho, excepto com o n.° 3.°

Neste caso eu entendo que o Sr. Baracho devia sacrificar o n.° 3.° da sua proposta a fim de a ver approvada pelo partido regenerador.

Devo dizer agora que, como o Sr Julio de Vilhena se referiu, a proposito de adeantamentos, a eu ter sobraçado a pasta de Ministro dos Estrangeiros, que durante o tempo em que fui Ministro da Marinha, da Instruccão e dos Estrangeiros, com meu conhecimento não se fez adeantamento algum á Casa Real.

Fui Ministro, e não fui ouvido sobre algumas medidas.

Poderão perguntar-me porque não sai logo do Governo?

Quem sabe o que tem sido a vida constitucional portuguesa calcula perfeitamente que, se na epoca em que eu fui Ministro, viesse declarar que saia do Ministerio por não ter sido presente em conselho uma determinada medida, ninguem a

Estava-se na epoca da submissão aos dois gran-vizires; quem entrava para um Ministerio tinha de acceitar tudo como de bom ouro de lei.

Quem foi Ministro sob um tal regime, sabe muito bem- como se vivia, e sabe igualmente que muitas vezes, nem inciativa tinha para nomear o pessoal privativo do seu Ministerio.

Em tal conjuntura, um Ministro que quisesse mandar, era logo arredado.

Eu, se hoje me encontro isolado, é porque tive a coragem de reagir contra esse estado de cousas.

Sempre entendi que um chefe politico não é um mandão de provincia ou aldeia. Um chefe politico é um cerebro regulador, um apparelho de união e concordia; é uma força de coordenação, e não um tyrannete conspirando contra individualidades.

Havia de soar — digo-o bem alto — a vez de se ouvir um brado de indignação contra um tal regime bastardo, aviltante e infame a que se sujeitaram homens publicos nesta terra!

Com tal regimen não se conformaram Emygdio Navarro, Marianno de Carvalho, Antonio Ennes, Alpoim e mesmo eu..

O regimen dos gran-vizires acabou de uma vez para sempre; e se existe ainda um d'esses gran-vizires, elle que appareça para não occultar as suas responsabilidades, e para pagar com o sacrificio da sua propria individualidade todo o mal que fez ao seu partido e ao seu país!

Os partidos rotativos encontram-se numa grave situação, e o Sr. José Luciano acha-se perante uma affirmativa tão falha de intelligencia como inexacta, e não vem aqui!

Isto é uma alta questão de moralidade politica; e os partidos teem de declarar se estão dispostos a sanccionar os erros do passado, os seus defeitos actuaes, e a mante-los no futuro com as suas consequencias.

A proposito da susceptibilidade doentia do Digno Par Sr. Julio de Vilhena susceptibilidade que lhe faz ver as cousas por um prisma errado, devolvo-lhe a frase de Shakspeare, que S. Exa. citou, lembrando-lhe que os rotativo olham para trás a ver se alguem os vê, e cheiram para cima a ver como de Já apreciam os seus actos.

Disse ainda o Digno Par que não advogou a abdicação do Rei D. Carlos nem defendeu a revolução.

Disse tambem que o partido regenerador não queria fazer a revolução

Direi agora eu que tanto o partido regenerador como o partido progressista, se em algum momento historico deram provas do seu nenhum valor collectivo, foi no ultimo periodo do consulado franquista.

A sanha, a ira, a colera, a condemnação e a apostrophe ficaram só a dentro das paredes das salas onde se realizaram as assembleias das agremiações rotativas!

Quando era necessario chegar á coordenação patriotica dos meios violentos, os partidos rotativos deram a mais triste prova da sua inanidade!

Que fizeram?

Nada

Tiveram manifestações platonicas e nunca orientaram um movimento serio, o unico que podia concorrer para salvar a liberdade!

Não tiveram forças, alma e vida para se lançarem no unico caminho que então se impunha e que estava indicado, principalmente aos homens que tinham sido aggravados tanto no país como no estrangeiro: a revolução.

Nada fizeram; gritaram, mas não se moveram.

Os partidos politicos portugueses deram ao país o espectaculo estranho de verem tratar como criminosa a maioria dos seus homens publicos, sem que d'aquellas collectividades saisse um grito de desespero e de indignação!

Eis a responsabilidade dos partidos rotativos.

Pode o Digno Par Sr. Julio de Vilhena procurar sustentar que elles cumpriram a sua missão. Desgraçado país que tem como garantia dos seus direitos e liberdades o procedimento dos rotativos !

Com os olhos fitos na porta que me fica á direita, espero a todos os momentos que as duas cortinas vermelhas se afastem, para permittirem o ingresso nesta sala á figura majestosa do Sr. Conselheiro José Luciano de Castro. Vou concluir o meu discurso porque, tendo sempre em attenção a paciencia da Camara, evito cuidadosamente procrastinar o momento em que tenha de calar-me; mas antes, e dando como possivel o apparecimento do illustre chefe do partido progressista, dir-lhe-hei:

— Venha d'ahi dar a explicação dos seus actos.

Já que, e ainda bem, dispõe nesta occasião de bastante saude, venha justificar o seu procedimento.

Venha d'ahi para confessar que erro capital e enormissimo foi o dos chefes dos partidos, quando, em novembro de 1906, não obrigaram immediamente o Governo transacto a liquidar a questão dos adeantamentos á Casa Real.

Venha d'ahi para que esta questão se liquide o mais rapidamente possivel. Venha d'ahi para ver se desapparece de uma vez para sempre a mais triste situação que nestes ultimos vinte annos tem apparecido no nosso horizonte politico.

Termino fazendo votos por que este meu discurso seja o ultimo que anteceda a solução de uma crise, evidentemente