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6 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Um dia de má vontade do Governo Brasileiro para com Portuga, fechar-nos-ha os seus mercados aos nossos productos.

Quando acordarmos, a ruina será inevitavel.

Tratemos, pois, da marinha mercante, da navegação portuguesa para o Brasil e da construcção de pequenos navios para as colonias.

Tratemos da marinha colonial e mercante, mas não esqueçamos nunca que a propria vantagem que a nossa situação no Oceano Atlantico nos dá, a perigos nos expõe; não esqueçamos nunca de que, se não podemos aspirar á situação de potencia naval, não devemos preterir a defesa em nossa casa.

Para nos pormos a coberto de um golpe de mão ou de um enxovalho, todos os sacrificios são justificados e legitimos.

O tempo corrige muito a opinião dos homens publicos, se o seu espirito não é refractario a deixar-se impressionar pelo factos.

O tempo modificou completa e absolutamente a situação politica da peninsula, fazendo sair a Espanha do isolamento em que se encontrava, e lançando-se abertamente num entendimento politico com a Inglaterra.

Temos e manteremos relações de amizade e alliança com a poderosa Nação britannica; mas os factos devem esclarecer-nos e convencer-nos de que, numa hypothese especial - que felizmente nada faz prever que de hypothese passe aos factos - só com as nossas proprias forças devemos contar.

D'ahi o sacrificio que devemos fazer em collocar a nossa defesa, pelo que diz respeito á marinha de guerra e ao exercito, em circunstancias de afastar todos os perigos, por mais longinquos que se afigurem.

Não acompanho o Digno Par Sr. Jacinto Candido nos seus pessimismos acêrca das colonias, ás quaes profetizou a perda para breve, se não mudassemos de processos administrativos.

Não; para mantermos as colonias todos lutaremos, levados pelo convencimento de que, perdidas ellas, a nacionalidade portuguesa terá um fim que não era bem o que se devia esperar da gloriosa tradição da sua historia.

Porquê?

Com que direito nos arrebatariam o que os nossos antepassados conquistaram?

Poderemos perdê las, porque nesse caso tudo perderemos, se um grande esforço dos nossos homens publicos não tomar a peito o livrar o país dos perigos derivados da situação financeira geral.

D'ahi sim, que o desastre pode vir, e não da nossa acção colonizadora, que ainda não foi excedida.

Em 1898 fez-se o acordo anglo-allemão para a hypothese de Portugal ser forçado a recorrer ao credito.

As circunstancias modificaram-se depois, mas ninguem se illude: hypothecados os rendimentos aduaneiros, os dos tabacos e dos caminhos de ferro, uma situação que se parece com a de 1891 levará o País a um desastre mortal.

Mas da administração colonial é que isso não resultará, embora muito haja ainda para fazer.

Quem nos accusa de faltar aos compromissos tacitos que as nações coloniaes tomam para com a civilização e a humanidade? Ninguem, nenhum país faria mais com os nossos recursos, (Apoiados) Não digamos nós mal da nossa acção colonizadora, não só pelos inconvenientes que isso traria, animando a campanha internacional contra os interasses portugueses, mas ainda porque isso é de todo o ponto inexacto e infundado. A partir de 1891, as nossas colonias experimentaram uma radical transformação.

Macau, essa pequena mas rica colonia, tornou-se numa bella cidade, pela transformação de uma grande parte que até ahi era occupada pela immunda população china; firmámos o nosso dominio em Timor; iniciámos as explorações agricolas com capitães portugueses e, para maior facilidade da administração portuguesa e hollandesa, os dois países trocaram os respectivos enclaves.

Na India, padrão do nosso passado brilhante e glorioso, fizemos o porto de Mormugão e levámos d'ali um caminho de ferro aos Gattes, o que nos tem custado um sacrificio annual de cêrca de 73:000 libras esterlinas. No interesse do Estado da India e para não prejudicar o interland, fiz em 1902 um acordo para a exploração em commum do caminho do ferro de Mormugão e da linha inglesa da Southern Maratha. O movimento até ali era fraquissimo, na linha de Mormugão e no porto, com prejuizo da economia da colonia, e fazendo recair no Thesouro em cheio o encargo da garantia de juro. Mas, em nome da civilização, facilitou-se a exploração das duas linhas em commum. Vejam-se os resultados: a receita do caminho de ferro tem aumentado sempre, mas por maneira extraordinaria. As receitas leram de 127 contos de réis em 1901, 188 contos de réis em 1901-1902, 180 contos de réis em 1902-1903, 257 contos de réis em 1903-1904, 273 contos de réis em 1904-1905, 217 contos de réis em 1905-1906, 347 centos de réis em 1906-1907. O perto de Mormugão, quasi abandonado, passou n ser muito frequentado, chegando já a haver reclamações para ser aumentado o caes de acostagem.

Em Moçambique fizemos as campanhas do Gungunhana, de Gaza, dos Namarraes e do Barué. As colonias sul-africanas, apesar de pertencerem a um poderoso país, não tinham a mais completa tranquillidade sobre as futuras relações com os vátuas. O socego a toda a Africa do Sul foi dado pelo punhado de soldados valentes, que, numa formidavel epopeia iniciada em Marracuene e terminada em Chaimite, assombraram o mundo com a noticia dos seus feitos.

Construíu-se o porto da Beira, o caminho de ferro da Beira á Rhodesia, dando saída para o mar a essa colonia inglesa; demos ao porto de Lourenço Marques uma tal transformação que em volta do seu movimento gira toda a politica sul-africana; não nos negámos a fornecer a mão de obra para as minas do Transvaal, a troco de concessões que nos foram feitas no modus vivendi de 1901, é certo, mas comprehendemos que não deviamos embaraçar a lavra das minas de ouro; construimos o caminho de ferro de Lourenço Marques ao Transvaal, indispensavel então para a sua vida economica, e quando a ultimação d'esse melhoramento se retardava, rescindimos o contrato com o Mac Murdo, de que resultou pagarmos uma indemnização de 4:266 contos.

Os interesses ingleses diziam-nos que precisavam de uma nova ligação de Johannssburg a Lourenço Marques, pela Swazilandia, por ser mais curta e para dar saída ao carvão, que em ricos jazigos dizem possuir nas terras dos Mazés, e nós lá estamos a construir a parte d'essa linha que fica em territorio português, chegando já ao Rio Umbeluzi.

A economia da provincia de Moçambique tem melhorado tanto que já excedeu a producção de 6:000 toneladas de açucar, ao qual garanti por 15 annos o diferencial de 50 por cento, e por tal maneira, que, justamente, as companhias açucareiras já pedem o alargamento da quantidade protegida.

A provincia possuo uma rede telegraphica que põe em relação os logares mais importantes, uma organização militar que garante a ordem e a segurança, e, para nada faltar, até Moçambique está ligado á metropole por carreiras regulares de navegação portuguesa, que deixei contratadas ao abandonar o Ministerio da Marinha.

Se de Moçambique se passa a Angola, encontra-se uma colonia menos prospera, mas todos os factos indicarão que Portugal tem ali já feito consideraveis sacrificios.

O caminho de ferro de Loanda a Ambaca, na extensão de 364 kilome-