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10 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

para dizer a verdade, não é contra ellas que eu mais me insurjo. Ou queiram derruir a monarchia, ou pretendam unicamente, esfacelar os velhos partidos historicos, não se lhes pode levar a mal que se aproveitem da erros e da fraqueza dos adversarios.

É sabido que «quem acha molle, carrega». É da sabedoria das nações.

As opposições estão, pois, no seu direito e o seu procedimento é logico.

Onde não ha logica, nem previsão, nem energia, nem firmeza de vontade é no espirito do Sr. Presidente do Conselho.

É S. Exa. que, por fraqueza de animo, por egoismo, por commodismo e por amor ao poder foge da luta, porque d'ella se arreceia.

Curvando-se sempre ás imposições dos adversarios mais intransigentes da. monarchia, condescendendo em tudo com elles e elogiando-os à tort et à travers, como é seu costume, o Sr. Presidente do Conselho, com grave prejuizo do regime que lhe cumpre defender e dos partidos que o sustentam no Governo, tem contribuido e está contribuindo poderosa e efficazmente para o descredito e desprestigio das instituições e para que cada vez mais se avolume o escandalo que as opposições exploram, que S. Exa. poderia e deveria ter evitado e que nem sequer pretendeu estorvar.

Os adeantamentos são a chaga que lhe entretem a vida e S. Exa. não quer morrer.

Se nenhuma responsabilidade eu tivesse nas administrações passadas, pediria á Camara que attentasse bem na gravidade do momento que atravessamos e que reflectisse detidamente nas consequencias provaveis, quasi certas, de uma discussão violenta e apaixonada na questão dos adeantamentos; e pedi ria, rogaria até aos meus collegas, em especial áquelles que a paixão não cega, que nos unissemos todos no empenho de evitar o descalabro que nos ameaça de quanto nos cumpre zelar e defender: os interesses do país e do Rei, a honra das collectividades e o brio pessoal dos homens. (Apoiados}.

Tendo sido, porem, Ministro por tres ou quatro vezes, estou inhibido de fazer pedidos que supplicas poderiam parecer.

Limito-me, pois, a dizer: apure-se a verdade, mas apure-se depressa; caia todo o rigor das leis sobre os delinquentes, se os houver; mas que a justiça se não faça esperar.

Luz, Sr. Presidente, é preciso que a luz se faça sem demora, porque a luz não só allumia, tambem purifica.

Nesta, ordem de ideias, querendo eu que a verdade se esclareça e tendo dito logo que comecei a falar que os homens publicos que fizeram parte das administrações passadas deviam todos confessar publicamente as suas proprias responsabilidades, vou dizer quaes são as minhas.

Tenho a declarar á Camara que, nem como Ministro da Guerra, que fui por varias vezes, nem como Ministro do Reino, que tambem fui durante algum tempo, nunca dei, emprestei ou adeantei quantia alguma, por minima que fosse, a El-Rei o Senhor D. Carlos ou a qualquer pessoa da sua familia. Como Ministro da Guerra, em cumprimento de um antigo contrato feito com a administração da Casa Real. autorizei o fornecimento de algumas munições de caça requisitadas ao Arsenal do Exercito por aquella administração.

E alem d’isso, apenas autorizei o pagamento de algumas refeições e de alguns comboios para El-Rei asssistir a differentes serviços militares fora de Lisboa.

Mais nada.

Folgo de fazer esta declaração muito positiva e muito categorica, não para me eximir de quaesquer responsabilidades que queiram impor-me, mas para mais uma vez desmentir a velha e famosa lenda de grandes supprimentos, ou como melhor lhes queiram chamar, feitos á Familia Real pelo Ministerio da Guerra. Nem eu, nem os meus antecessores os fizemos nunca,

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): — Apoiado.

O Orador: — Nem eu, nem os meus antecessores os fizemos e creio bem que o Sr. Conselheiro Vasconcellos Porto não os iniciou.

Outra declaração ainda, a terceira:

Pelo mesmo modo declaro tambem muito positiva e muito categoricamente que nunca recebi adeantamento algum do Thesouro, nem pelo Ministerio da Guerra, nem por qualquer outro Ministerio; nem pela Caixa Geral de Depositos, nem por qualquer outra repartição publica. Nunca pedi. nem recebi do Estado senão o que me era devido por lei.

Não faço estas declarações para ir ao encontro de quaesquer boatos que me tenham attingido; quis fazê-las para dizer a verdade e para poder falar mais desassombradamente ainda na questão chamada dos adeantamentos illegaes.

Creio, Sr. Presidente, que alguns Dignos Pares pediram a palavra para antes de se encerrar a sessão, e como falta apenas um quarto de hera para ella terminai1, talvez seja melhor que eu ponha hoje termo ás minhas considerações, reservando-me V. Exa. a palavra para a proximo sessão.

O Sr. Presidente: — Só o Digno Par Sr. Eduardo José Coelho pediu a palavra para antes de se encerrar a sessão, e como a Camara consentiu que S. Exa. falasse antes da ordem do dia, desistiu do pedido que tinha feito; mas. se V. Exa. não quer hoje continuar, reservo-lhe a palavra para ámanhã.

O Orador: — Não, Sr. Presidente, muito obrigado a V. Exa. Foi só por justa deferencia para com os meus collegas que eu fiz aquella observação. Vou continuar.

Sr. Presidente: entro na questão dos adeantamentos, sem o minimo proposito de maguar, e muito menos de aggravar, seja a quem for; mas firmemente resolvido a dizer a verdade.

É provavel, pois, que a ninguem agrade o que vou dizer, não só porque esse é o grande defeito da verdade, mas tambem porque no Parlamento só são ouvidos com agrado os grandes oradores, ou áquelles que, não o sendo, se põem aberta e francamente ao lado do Governo ou aberta e francamente o combatem; e eu, Sr. Presidente, não estou com o Governo, nem contra elle. Eu me explico.

Não estou com o Governo porque, por mais que eu tenha querido convencer-me de que a conservação do Sr. Conselheiro Ferreira do Amaral ali, naquelle logar, é util para o país, ainda o não consegui.

S. Exa. é, sem duvida, um illustre official da armada que tem prestado ao seu país muito bons serviços; mas. em politica, é tambem, sem a mais pequena duvida, um timido, provadamente incapaz de bem se desempenhar da dificil missão que lhe confiaram.

S. Exa. que em 1892 foi um bom Ministro da Marinha — bom Ministro dos Negocios Estrangeiros Dão digo eu que o tenha sido. porque me recordo bem das dificuldades graves que legou ao seu successor — S. Exa. que foi, repito, um excellente Ministro da Marinha em 1892, poderia ser tambem um bom Ministro do Reino ou um soffrivel Presidente do Conselho numa qualquer situação normal; nas na difficil conjuntura que atravessamos, ninguem que conhecesse as qualidades e os defeitos do Sr. Conselheiro Ferreira do Amaral se poderia lembrar de S. Exa. para exercer os cargos em que o investiram, nos quaes, como era de prever e tem succedido, só os seus defeitos tem revelado.

É aos defeitos do Sr. Presidente do Conselho que exclusivamente se deve a nossa actual situação politica que, ao contrario do que pensa o Digno Par Sr. Alexandre Cabral, é sem duvida peor e muito mais grave do que era em fevereiro d’este anno, quando o illustre