O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 13 de Dezembro de 1918 13

O Sr. Presidente: - V. Exa. tem a palavra por cedência do Sr. Almeida Pires o para invocar o Regimento.

O Sr. Celorico Gil: - Sr. Presidente: já ontem tive ocasião de recordar a V. Exa. que quando um Deputado eu via para a Mesa uma proposta, essa proposta inclui-se na matéria e conjuntamente com a matéria é discutida. Do contrário, vinte ou mais Deputados inscrever-se-hiam, cada um enviaria uma proposta para a Mesa e o assunto jamais se. discutiria. A proposta em questão há-de ser discutida, mas conjuntamente com a matéria, como manda o Regimento.

Sou eu o primeiro orador inscrito, porque me inscrevi ontem, o V. Exa. não me pode preterir.

Pode V. Exa. crer que lamento ter de invocar o Regimento, porque somos amigos velhos, antigos camaradas de Coimbra, e tenho sempre por V. Exa. muita consideração o estima; porêm, acima de tudo está o direito de um Deputado que jamais em qualquer circunstância se deixará pisar.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - Convido os Srs. Deputados a ocuparem os seus lugares. Tem a palavra o Sr. Almeida Pires.

Vozes: - Não pode ser! Há outros oradores inscritos e só os Secretários de Estado o relerem.

O Sr. Almeida Pires: - Se porventura V. Exa., por minha causa, alterou a inscrição, ou desisto de usar agora da palavra.

O Sr. Celorico Gil: - É deveras embaraçado, Sr. Presidente, que vou usar da palavra, tal a importância do assunto que se está tratando nesta casa do Parlamento.

Pela primeira vez, Sr. Presidente, de boa vontade cederia a palavra, fôsse a quem fôsse, para me subtrair à responsabilidade que pesa sôbre os meus ombros ao tratar de um assunto de tanta magnitude.

E se ontem tivesse falado quando devia usar dêsse direito, alguma cousa de útil sairia do meu discurso.

Sr. Presidente: êste Govêrno que se vê na desgraçada situação em que está, já devia ter feito o que ainda não fez, que era não tornar a sentar-se nas cadeiras do Poder.

Da minha boca não sai uma palavra que- signifique a mais pequenina intenção política, mas eu sou um homem sincero que se sente revoltado o que abandona êsse Govêrno porque êle não tem defesa possível, porque êle está condenado sob todos os aspectos. Por isso hoje encontro-me isolado; absolutamente só.

Os monárquicos têm apoiado o Govêrno ostensivamente quer na imprensa quer aqui e até quando do incidente com o Sr. Secretário de Estado da Guerra estiveram a aguentá-lo. Pois o Govêrno correspondeu-lhes deixando chegar o caso Teles de Vasconcelos ao ponto em que o sabemos.

(Interrupção do Sr. Secretário de Estado das Colónias).

O Orador: - Agora não lhe respondo como amigo, respondo-lhe como adversário, político para o acusar, e acusá-lo gravemente se V. Exa. quiser.

Por causa de V. Exa. e de outros que não têm sabido governar é que me encontro hoje só.

Porque é que o Govêrno não forneceu aos seus aliados monárquicos, ou ao seu leader, aquelas informações que um Govêrno jamais pode deixar de fornecer?

O Govêrno pagou bem caro aos monárquicos aquele apoio, aquela solidez, aquela segurança que só os monárquicos lhe têm dado.

O Govêrno não tem outro apoio, o Govêrno não tem outra segurança, está fiado na fôrça dos monárquicos e essa fôrça é que o há-de perder, porque com êles será arrastado.

Mau apoio é êsse, péssima base é essa!

O Govêrno por esta forma vai arrastando os monárquicos por um péssimo caminho. Não tenham V. Exas. dúvida!

A situação é esta: está um Deputado preso, infringe-se a Constituição e o Govêrno continua sentado nas cadeiras do Poder com toda a desfaçatez!

Pregunto eu: o que significam, as cadeiras do Poder, quando elas nos fazem deixar do ser homens, para sermos uns manequins?