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Sessão de 8 de Janeiro de 1919 29

que êles recolham pacificamente aos seus lares e ao exercício das suas profissões, confiando na fôrça pública, para que a ordem não seja alterada e a obra de Sidónio Pais seja realizada sem desfalecimentos, para bem da Pátria e para honra de Portugal.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

O Sr. Celorico Gil: - Sr. Presidente: pedi a palavra para declarar que é com profunda mágua que me vejo na dura necessidade de dizer ao Sr. Presidente do Ministério que discordo por completo da atitude pessoal e política que S. Exa. tem tomado nos últimos tempos. Faço-o, Sr. Presidente, com mágua e com saudade, porque eu tenho sempre por hábito conservar a amizade dos meus amigos por os considerar como flores de estufa, como pessoas queridas.

A carta do Sr. coronel João de Almeida, que foi lida nesta Câmara pelo Sr. Cunha Lial, chegou ao meu conhecimento minutos depois de eu ter regressado do Alentejo. A reclamação da junta militar do norte confirmava a existência dessa carta.

O Sr. Presidente do Ministério encontra-se numa situação bastante crítica à frente do Govêrno. S. Exa. mio tem a apoiá-lo nem a maioria, como se viu pelas declarações feitas, nesta casa, pelo seu ilustre leader, nem a minoria monárquica, porque S. Exa. faltou ao compromisso, tomado para com as juntas, de fazer entrar no Ministério o Sr. coronel João de Almeida.

Eu pregunto ao Sr. Tamagnini Barbosa se não pediu ao Partido Unionista um apoio que constava em pôr à frente das hostes avançadas os indivíduos dêsse partido, combatendo os seus amigos da véspera!

O Sr. Tamagnini Barbosa: onde deixou o senhor a inteligência, a sagacidade e a sensatez, caindo num laço desta natureza?!

V. Exa. deve saber que Portugal ainda cai em utopias, mas que os portugueses já estão bastante causticados para as aceitarem.

O Sr. Tamagnini Barbosa via bem a maneira como aquele rapaz inteligente, leader da maioria, longe de lhe dar um apoio incondicional; se limitou a fazer umas afirmações duvidosas, que nada ou quasi nada dizem de positivo.

Já que êsse rapaz cheio de lucidez, cheio de inteligência, o Sr. Almeida Pires, viu ontem, na reunião da maioria, e a massa com que tinha hoje de trabalhar, e tenho a certeza de que a sua vontade foi apresentar ao Govêrno um ultimatum, prohibindo-o de comparecer ao Parlamento, tal como está organizado.

Portanto, com que conta o Sr. Tamagnini Barbosa?

Com os discursos do brilhantíssimo orador, leader dos católicos?

Acho pouco!

O senhor vem há tempos a singrar numas águas muito especiais, querendo agradar à esquerda e a direita, e foi em virtude disso que o senhor conseguiu atingir o lugar que, desgraçadamente para o país, ocupa hoje.

E a vaidade que obceca o seu espírito?

E tristíssimo já ser Ministro em Portugal, depois que Rodrigo Rodrigues e outros de iguais merecimentos se têm sentado nas cadeiras do Poder.

Triste e bem triste vaidade é a do Sr. Tamagnini Barbosa, querendo, à outrance, continuar na Presidência do Ministério!

Mas o Sr. Cunha Lial, que é liai no nome e nas suas acções, que é cunha no nome e no génio, porque é capaz de arrancar achas, fez um discurso tam brilhante, que eu tenho a reconhecer que expôs muitas verdades na observação dos factos.

Como sempre tomo a responsabilidade daquilo que digo e porque jamais fugi à responsabilidade dos meus actos, vou falar acerca da junta militar, assunto estafado por muito discutido.

Eu pregunto a V. Exa., Sr. Presidente, se êsses homens que deixaram ficar a espada na bainha no 14 de Maio têm agora o direito de se manifestar colectivamente contra o Govêrno, e se êsse mesmo direito não assiste aos sargentos, aos cabos e aos soldados!

Sr. Presidente: no dia em que os soldados compreenderem qual a sua fôrça, porque têm o número e até as qualidades de combate, nesse dia nós temos positivamente a queda da sociedade portuguesa, absolutamente transtornada.