O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 7 de Fevereiro de 1919 29

dente do Ministério, homem corajoso, apesar da sua lendária energia, não ousou prender um único monárquico, porque S. Exa. está indissoluvelmente ligado a êles.

Sr. Presidente: as situações não são o fruto duma acção de momento: as situações que aparecem de repente perante os estadistas são o fruto do uma série de actos que se entrelaçam e cujas consequências, num dado momento, aparecem nítidas o palpáveis.

O Sr. Presidente do Ministério o as criaturas que têm sido seus colegas nos sucessivos Gabinetes realizaram a entrega da Republica aos monárquicos. Êste é o motivo por que estamos na situação em que nos encontramos. (Apoiados).

Não é a primeira vez que faço aqui esta acusação; já a fiz nas reuniões da maioria. Lembro-me de que, numa das reuniões da maioria, e seja-me lícito trazer êste facto para aqui. eu disse ao Sr. Presidente do Ministério que o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça, Ministro da Guerra, era um monárquico confesso, era um antigo conspirador monárquico. (Apoiados.)

Preguntei eu então se o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça, ao aceitar o cargo de Ministro, tinha feito a sua profissão de fé republicana. Não iria preguntar se o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça tinha sido monárquico se êle me declarasse que hoje era republicano; mas tinha a convicção de que êle não era republicano, o que determinava a minha intervenção.

O Sr. Presidente do Ministério disse-me, em resposta, que, sendo o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça - reparem V. Exas. nisto - um homem de honra, como homem de honra não podia proceder senão como republicano.

Eu sei que o Sr. Presidente do Ministério foi acusar, em seguida à morte do Sr. Dr. Sidónio Pais, o Sr. Álvaro de Mendonça do andar pelos quartéis, criando uma atmosfera propícia para formação de um Govêrno militar que, dissolvendo o Parlamento, consultaria o país sôbre se queria a monarquia ou a República. Como se um Ministro de uma República pudesse ter a ousadia de duvidar que o país fôsse republicano!

Êsse homem não procedeu como republicano, nem como homem honesto.

A que vinha realmente a consulta?

Era ou não isto uma traição às escâncaras?

Pregunto, pois, ao Sr. Presidente do Ministério, reportando-me às suas antigas palavras: Para V. Exa. o Sr. Álvaro de Mendonça é um homem de honra?

Houve, pois, Sr. Presidente, através dêste ano imensas complicações na nossa vida política. Quero prestar justiça às intenções do falecido presidente Dr. Sidónio Pais, se bom que não desdiga, nesta hora, uma única das palavras que contra a sua política pronunciei, nem me arrependa do que disse em vida de S. Exa.

Preciso de declarar isto bem alto, por que já um jornal - O Tempo - , que me dizem representar, na imprensa portuguesa, o modo de pensar do Sr. Presidente do Ministério, chamando sôbre mim. que sou uma figura apagada e humildes as atenções e coloras da multidão, justamente excitada pela morte do Sr. Dr. Sidónio Pais, fazia crer que eu, o adversário liai, que tivera sempre a coragem de dizer o que pensava, era um dos instigadores dêsse crime.

Não me importa de incorrer em acusações semelhantes da parte de qualquer escriba.

Respeito a memória do Sr. Dr. Sidónio Pais, mas o Sr. Dr. Sidónio Pais é uma figura que pertence à História, e, como tal, é preciso fazer justiça aos seus bons e maus actos.

O Sr. Dr. Sidónio Pais teve uma visão política errada, quando encarou de frente as soluções do obsediante problema português.

Num dado momento êle teve contra si todos os partidos republicanos.

O partido monárquico não lhe podia prestar um auxílio incondicional. O Sr. Dr. Sidónio Pais pensou em abstrair-se dos políticos e servir-se do apoio exclusivo das classes para a obra do Govêrno que pretendia realizar; sucedeu, porém, que o país não estava preparado para isso porque as classes não tem ainda hoje a noção consciente dos seus direitos e deveres.

Não lhe dando, pois, os partidos políticos da República o auxílio do seu pessoal, teve de ir mendigar auxiliares e homens de Govêrno ao partido monárquico, pensando que êles abstrairiam dos