O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

18 Diário da Câmara dos Deputados

com que eu pronunciei as minhas de há pouco.

Trocam-se mais àpartes.

O Orador: - Sr. Presidente: lamento que as minhas palavras tivessem provocado êste incidente, afinal de lana caprina, porque as minhas palavras foram ditas com a melhor das intenções.

Os meus desejos, realmente, são que o Partido Liberal1 tenha no seu seio republicanos do melhor quilate, quer sejam antigos ou novos cristãos.

E se eu disso isto a propósito do partido de V. Exa. e não do meu, foi porque o de V. Exa. está a organizar-se e o meu está constituído há muito tempo.

O Sr. António Granjo: - Mas nem por isso deixa de enfermar do mal.

O Orador: - Mas terminado êste incidente, eu entro propriamente no assunto, não querendo de forma alguma desviar-me dêle, e por isso procurarei seguir uma linha recta.

Pareceu-me ter o Sr. António Granjo estranhado que se tivessem feito prisões.

O Sr. António Granjo: - Não estranhei; apontei êsse facto para justificar o meu pedido da palavra para um negócio urgente.

O Orador: - Seja como fôr, eu direi a V. Exa. que as prisões fizeram-se, porque tendo-se sabido, por várias fontes de informação, que se tramava um movimento revolucionário, houve necessidade de deter aquelas pessoas que estavam comprometidas nesse movimento, e bem assim aquelas sôbre quem recaíam fortes suspeitas, e ainda aquelas que é costume prenderem-se em movimentos análogos, por supor-se que elas, pelos seus antecedentes, pelo seu modo de pensar, e até as vezes só pela sua presença, podem influir no movimento revolucionário.

Algumas pessoas terão sido presas só por suspeita, mas garanto a V. Exa. que não é desejo do Govêrno que se mantenham pessoas presas sem se procurar saber se são verdadeiras as acusações que pesam sôbre elas.

O Sr. Augusto Dias da Silva: - V. Exa. pode informar a Câmara sôbre se o Sr. Tamagnini Barbosa é daqueles presos de que V. Exa. tem a certeza da culpabilidade?

O Orador: - Não senhor.

Não quero conservar gente indefinidamente presa, sem saber porquê.

Quem não tiver culpas sai, quem as tiver fica.

E êste o sistema que sigo; assim como não sigo o sistema de tratar mal qualquer preso: devem ter todas as comodidades compatíveis com a sua situação.

Êste movimento revolucionário que se tem vindo avolumando há muitos dias, tomou mais incremento agora quando se deviam realizar as exéquias de Sidónio Pais.

O Govêrno não tinha interêsse nenhum em proibir essa manifestação, tanto mais que já se haviam realizado mais exéquias como em S. Mamede a que assistiu muita gente.

Até se realizaram já exéquias por alma de D. Miguel.

Uma voz: - E por D. Carlos.

O Orador: - E até por alma do D. Carlos, é certo.

Não vejo motivo nem razão para serem proibidas.

Mas ninguêm pode contestar que se começou em volta das exéquias a fazer uma atmosfera que poderia perturbar a ordem pública, que estava a carácter para preparar o movimento revolucionário que sabia devia aparecer. (Apoiados).

Ninguêm pode duvidar de que foram distribuídos convites ao povo para uma reunião no largo em frente da igreja em que se deviam realizar as exéquias.

Não haveria ninguêm que não proibisse as exéquias nestas condições.

No Pôrto houve até quem arguisse o governador civil de tomar providências quanto às exéquias, mas não há providências possíveis contra grupos que se defrontam.

Durante o tempo em que tenho estado no Govêrno ainda não houve revoluções. Tenho muito empenho em que as não haja, o que não quere dizer que, se as tivesse havido, não fossem dadas as ordens mais enérgicas para que fossem reprimidas.