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Sessão de 17 de Dezembro de 1919 17

Êste luxo de comer um tipo de pão fino, deixando para os absolutamente miseráveis o pão grosseiro de 2.ª qualidade, custou-nos esta bagatela: qualquer cousa, como 3 milhões e 600 mil libras! E isto em tempo em que nos países mais ricos da Europa se comia apenas o clássico "pão que o diabo amassou".

Da liberdade de comércio nasceram tambêm resultados maravilhosos. Assim, em 1917, importaram-se cêrca de 900 toneladas de batata. Pois êste ano só uma das numerosas casas importadoras de batata já mandou vir da Holanda corça de 4:000 toneladas de batata. Será pouco, será demais? Como se não sabem as necessidades do mercado nacional e o Govêrno, negligentemente, pôs de parte a idea de fiscalizar as importações, o comércio, na ânsia de fazer negócios lucrativos, importa à toa. Sirva de exemplo o caso do chá, género de que chegou a haver no país o necessário para três anos de consumo, tendo-se as importações feito no momento em que os preços tinham atingido o máximo.

E ao passo que se passam factos desta ordem, géneros de primeira necessidade e matérias primas, pelas circunstâncias de ocasião, rareiam no mercado.

Veja-se o exemplo típico do carvão. Antes da guerra, Sr. Presidente, a nossa importação de carvão orçava por toneladas 1.300:000. Em 1917 a estatística acusa apenas a entrada no país de cêrca de 400:000 toneladas!

Claro que o deficit se pagou, em parte, com uma enorme derrota das nossas florestas, não compensada pelos repovoamentos necessários e metódicos. A guerra deve-nos ter custado para mais de 7 milhões de toneladas de lenha, sem que se tenha produzido um aumento de produção industrial, antes, pelo contrário, se tendo dado um decréscimo sensível. Mas, com o armistício, as importações de carvão cresceram sensivelmente, mesmo por motivo de terem cessado uma parte das dificuldades que a Inglaterra opunha à sua exportação.

Ora êste acréscimo de importação deve ter custado, ao preço de 120 xelins a tonelada, rios de ouro. E assim o número representativo do deficit da balança comercial em 1917, só com o aumento de importação de trigo e de carvão, conjugado com a fúria de importar geral, derivada do estabelecimento do princípio dó comércio livre para outros géneros, deve, em 1919, ter aumentado de proporções duma maneira assustadora. E assim não será um exagero muito grande o valor de 300:000 contos que lhe atribui o Sr. Carlos Gomes.

Ora o nosso raciocínio diz-nos que é difícil que se tenha obtido a compensação dêste deficit da balança comercial por intermédio dos outros factores que influem na nossa balança de contas. Devemos, realmente, ter chegado àquela fase assustadora na vida dos povos, em que êstes vivem em regime de balança económica deficitária.

Terrível conclusão, mas, infelizmente, - parece-nos - conclusão verdadeira!

E deixe-me V. Exa., Sr. Presidente, que eu ria quando, vejo pessoas graves e sisudas preconizar as medidas de fomento como salvatório para a crise de momento. Evidentemente que, sem essa política de construção nacional, nada é possível fazer no sentido de se construir um Portugal maior. Mas, para o momento, a realização dessas medidas só poderia acarretar uma maior desvalorização da nossa moeda. Só a Companhia Portuguesa e os Caminhos de Ferro do Estado precisam de cêrca de 20:000 contos de material, que é preciso mandar vir de fora. Ponha-se agora em cima desta verba mais as que representariam as importações de maquinismos para melhorar os nossos processos culturais, de turbinas, máquinas eléctricas e cabos para a transformação da energia hidráulica em energia eléctrica, de máquinas de toda a ordem para a montagem do altos fornos e indústrias novas e melhoramentos de velhas, e digam-me onde é que está o oiro com que toda essa obra de renovação nacional se pode realizar!

Veja-se, pois, Sr. Presidente, como os Govêrnos andam nesta questão de câmbios, perfeitamente às aranhas. O fenómeno terá atingido o seu momento crítico como nos últimos dias se quis vislumbrar?

Sendo assim, até onde as circunstâncias emergentes da nossa economia poderão provocar uma melhoria cambial e até onde essa melhoria será mesmo desejável a fim de não haver graves perturbações