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Sessão de 14 dé^Fevereiro de. J9SÔ

disse já que sobre o Governo se não tinha exercido qualquer espécie de pressão. Sempre me tenho manifestado contra a apresentação de qualquer medida que venha envolta numa ameaça, mas não conheço nenhum facto que permita a afirmação de que sobre o Parlamento pesa qualquer ameaça ou 'coacção. (Apoiados).

O dever do Parlamento é examinar a proposta com serenidade e espírito de justiça e procurar que as suas resoluções se inspirem nos interesses do País e da República.

o A proposta foi combatida, por parte de alguns Srs. Deputados, com o argumento — só agora aduzido— de que melhor seria conhecer das reclamações de todas as classes e não esgotarmo-nos em soluções parcelares. Disse-se que não temos o direito de aumentar os veAcimentos a uma classe sem se ter feito o exame das reclamações de todas as classes do país, e averiguado até que ponto essas reclamações podem ser satisfeitas em face dos recursos do tesouro.

Nunca governo algum, em Portugal ou no estrangeiro, resolveu os problemas sociais ou de outra qualquer natureza, senão quando o conforme são justos. (Apoiados).

As reclamações populares vão-se estudando segundo se vão formulando e vão-se resolvendo segundo as circunstâncias do tempo e do lugar, e em obediência, certamente, às necessidades gerais do Estado. (Apoiados).

Vozes: — Muito bem. Muito bem.

O Orador : —A proposta visa a satisfazer, no que têm de legítimo, as reclamações dos ferroviários do Estado. O nosso dever é examinar essas reclamações. Não as discutir equivaleria a uma denegação de justiça. Creio que não há ninguém nesta Câmara que imagine que só pode governar de outro modo. (Apoiados).

' Ainda a propósito desta proposta vieram novamente ao debate os grandes problemas económicos e financeiros. E até se lançaram alvitres, que não classificarei de mirabolantes nem de fantasistas, mas a que darei o título benévolo de audaciosos. Falou-se do aproveitamento dos depósitos de lignites do sul no sentido de se obter uma poderosa central térmica, que produzisse a energia eléctrica sufi-

ciente para a iluminação, viação'; e indús trias. Emfim, tudo isso é muito interessante, e digno dos estudos mais profundos, mas tudo isso é matéria impertinente, porque nenhuma relação tem com o assunto vertente.

Sr. Presidente : a política ferroviária, não comporta em Portugal solução diferente da que tem tido nos outros países, quer na Europa, quer na América. Tenho para mim que não seremos nós quem descubra o elixir maravilhoso. Havemos de nos valer dos mesmos meios e dos mesmos expedientes de que se têm valido os outros países.

Disse aqui alguém que caminhamos para um mundo novo. Nunca me meteram medo nem as palavras nem os sistemas. Sempre que num sistema novo eu encontro qualquer porção de beleza moral que esteja em harmonia com os meus princípios de justiça, procuro assimilá-la por forma a fazer a sua integração no sistema de ideas e pensamentos que têm determinado a minha conduta.

Nunca me meteram medo as palavras porque me cinjo mais aos factos.

Um grande facto histórico, como consequência da grande guerra, facto que nenhum Governo, qualquer que seja a sua natureza, pode ignorar, é a definitiva ascensão do operariado na vida social e política.

Nos países em que, como a Rússia, vigorava ainda o regime autocrático, essa ascensão fez-se, ou há de fazer-se, por meios violentos* Nos países em que, como o nosso tinham sido já adaptados, mais ou menos extensamente, os princípios da Revolução Francesa, essa ascensão operar-se há, como se vai operando, por meios pacíficos.

Em Portugal o princípio da igualdade jurídica, informa toda a nossa legislação desde a revolução de 1820.

A grande guerra trouxe-nos a dignificação do proletariado. Foi o soldado, foi o povo que venceu a guerra. É natural que o povo queira aproveitar da vitória. (Apoiados).