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Sessão de 14 de Fevereiro de 1920

O discurso que acaba de sor proferido pelo Sr. António Granjo foi simplesmente um discurso superior, lamentando não ter dotes de inteligência para dalgum modo poder expor com tanta clareza como S. Ex.a fez.

O discurso que ouvi da parte do Grupo Parlamentar Popular surpreendou-me enor-memente, porque representando aquele partido,' ou melhor, dizendo-so esse partido um grupo disposto a atender as mais altas aspirações das classes operárias ou trabalhadoras, nas suas afirmações, feitas agora, mostrou-se absolutamente contrário a tais propósitos.

Admirou-me muito a atitude do Sr. Júlio Martins, quando S. Ex.;i disse que a proposta não vinha completa. Parece que assim não é, porque ,a proposta atende aos dois pontos de vista.

O Sr. Ministro do Comércio, que ainda não há um m6s está no Poder, outra cousa não podia fazer.

Já o mesmo se não dá com o Sr. Júlio Martins, que teve liberdade quando Ministro, pois estava em plena ditadura, e que podia ter preparado uma situação que actualmente representasse para todos uma esperança.

Não quis seguir ôsse caminho. Fez unia lei chamada das águas, .contrária exactamente às aspirações e desejos dos trabalhadores.

Uma voz: — V. Ex.a já a leu? Creio bem que não.

O Orador:—Já a li, já. Essa lei representa a continuação da escola antiga do desenvolvimento da riqueza a favor de cada um.

Podia ter feito uma lei que tivesse por base o desenvolvimento da riqueza pública, em vez do engrandecimento de companhias e empresas, cujos lucros atingem quantias enormes, como a casa Bur-nay, por exemplo, que tem lucros de 130 por cento.

O Sr. Lúcio de Azevedo: — Não ó assim. Nem lá fora acontece isso, nas melhores casas do mundo.

O Orador: — E assim mesmo. Lá fora não se pensa em elevar o quantitativo, como em Portugal, sem escrúpulos, se

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tem feito às empresas, cujos, lucros são elevadíssimos.

Dois ou três anos depois da passagem do papel dessas empresas, o capital empregado triplica.

Os portadores do papel vendem-no por três vezes o seu valor.

Quando o papel aumentar de valor V. Ex.a verá quem ganha, se é o país, se ó a classe trabalhadora.

Há j á-bastante tempo apresentei nesta casa do Parlamento um projecto de lei, que lamento não tenha vindo ainda à discussão, tendo por fim a nacionalização de várias indústrias, pois não se pode admitir que se deixe fugir para a mão de muitas empresas capitalistas uma riqueza que é de todos nós.

Igualmente é de lamentar que o Sr. Ministro do Comércio não tenha j á trazido a esta casa a lei das águas, que está contribuindo para que fiquemos numa situação, bastante desastrosa.

E realmente preciso intensificar o serviço de transportes, pois que este serviço reflècte-se na vida económica do país.

Aproveito a ocasião para pedir a V. Ex.a o favor de se interessar peJos transportes do país, para evitar o que, por exemplo, sucede na Figueira da Foz, onde há uma draga, com o respectivo pessoal, que nada faz. Isto é um desleixo que estou certo que V. Ex.a não se associará a ele.

O Sr. João Gonçalves: — Sr. Presidente: surge perante nós a proposta de lei do Sr. Ministro do Comôrcio, sobre aumento de vencimentos aos empregados ferroviários.

Bem merecem, sem dúvida, esses ferroviários todas as atenções do Parlamento republicano, visto que é com eles que temos sempre contado nos momentos difíceis. £! Mas se os ferroviários merecem a nossa consideração e o nosso carinho, que atitude devemos nós ter ante outras classes que até hoje têm sido completa-mente esquecidas da República?!