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ramente convencido de'que o Sr- Jorge Nenés, republicano de sempre, homem de carácter honestíssimo, por quem esta Câmara tem o.máximo respeito e muita consideração, não seria capaz de trazer ao Parlamento uma proposta que fosse prejudicial à República e ao pais.

Nestas condições, bastar-me-ia este facto para eu dar o meu voto à proposta que o . Sr. Jorge Nunes trouxe à sanção do Parlamento, S. Ex.ft conhece perfeitamente as circunstâncias graves em que a classe dos ferroviários se debate, como, de resto, uma grande parte, das classes trabalhadoras, quási na sua generalidade. Pela minha parte declaro também que não tenho dúvida nenhuma em dar o meu voto à proposta, pois ela tem por fim beneficiar uma classe que não reclama de hoje, mas de há seis meses a esta parte, e que vê chegado o momento de lhes fazer justiça.

Os ferroviários vivem numa situação muito precária e fácil ó demonstrá-lo lendo o regulamento publicado no Diário do Governo em Maio de 1919.

Eu pregunto à Câmara se em face do que se 16 nosso regulamento n3.o á iustís-

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sima a reclamação que os ferroviários há muito tempo vêm fazendo, tanto mais quanto é certo qne sé trata de funcionários liais e servidores do Estado.

Sei bem que a situação do país ó má. Já aqui o foi claramente demonstrado. Já o Sr. Brito Camacho declarou aqui, e S. Ex.a é voz autorizada, que estamos prestos a cair no abismo da bancarrota; mas eu devo declarar a V. Ex.a — e faço-o bem claro e bem alto — que essa responsabilidade grave da situ'ação 'em que se1 encontra o país não a têm nem os funcionários nem as outras classes trabalhadoras.

Os ferroviários reclamam justiça e eu espero que a Câmara lha fará.

Disse um ilustre parlamentar que o país está a saque, que =nos cofres públicos não há dinheiro. Realmente esta afirmação é verdadeira, o eu posso afirmar à Câmara que realmente o país está a sa-qne, pois só com o Ministério dos Abastecimentos etbanjaram-se 20:000 contos.

Julgo, portanto, que esta situação gravíssima em que nos • encontramos não é motivo para a Câmara negar o seu voto à proposta do Sr. -Ministro do Comércio.

Diário da Câmara dós Deputado»

Apreciando a proposta sob o seu aspecto político, eu não tenho dúvida em" declarar que é absolutamente justa a sua aprovação, porquanto, e apesar de não me encontrar filiado no Partido Republicano, eu não desejaria ver o Sr. Ministro do Comércio abandonar o seu lugar, dando origem a mais uma crise ministerial, que não resolveria a questão e mais agravaria a situação difícil em que o país só encontra,

Sob o ponto de vista social, eu entendo que a Câmara devo ter todo o interesse em lhe dar o seu voto porquanto — e não se veja nas minhas palavras qualquer espécie de coacção—não sendo satisfeitas as justas reclamações dos ferroviários, estes se verão na necessidade de recorrer à greve que, sendo naturale lógica, não deixa de ser manifestamente nociva aos interesses nacionais, principalmente neste momento em que eles se encontram já tarn profundamente afectados. ,

Se o País tem suficientes recursos para o seu indispensável equilíbrio euimóruleo 6 financeiro, como se afirma, e como eu estou convencido, que o Estado os vá basear onde quere qne os haja.

Depois da guerra todos os países se têm preocupado com a sua situação financeira, procurando achar os recursos de que carecem à custa daqueles que enriqueceram à sombra dessa mesma guerra.

Em Portugal deve seguir-se o mesmo critério.

Ainda há dias o Sr. Brito Camacho, no jornal A Luta, afirmava a existência de numerosos novos .ricos feitos à custa da guerra.

^ Porque se não há-de obrigar essas criaturas a concorrer para manter o nosso equilíbrio financeiro?

O Estado ainda nada lhes exigiu, más é necessário que exija, pondo ao mesmo tempo cobro ao luxo desenfreado e revoltante que se pavoneia pela capital, ostentado por indivíduos que enriqueceram à sombra da guerra e que em nada contribuem para a solução da grave crise nacional.