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Diário da, Câmara doe Deputados

lógico, que funcionários com o mesmo tempo de serviço, com a mesma capacidade de trabalho, com as mesmas res-ponsabilidades, com as mesmas habilitações, com o mesmo dispêndio de esforço mental, ganhem ordenados diferentes.

Não se compreende, por exemplo, que o primeiro oficial do Ministério das Colónias receba o dobro do vencimento do funcionário de igual categoria do Ministério da Instrução Pública. '

£ Será essa diferença de ordenados originada, pelo facto dos empregados serem seleccionados por processos diferentes, uns entrando pela porta e outros pela janela? £uns por terem sido providos por concurso, outros por terom tomado parto numa revolução?

Que, afinal, tanta moralidade há nnns Ministérios, como noutros.

Ainda não há muito tempo que o Sr. Brito Camacho sustentou que no Ministério da Instrução Pública ainda até hoje jiãu liOuvO ÍÍLU* pârêiiíosc de moralidade. É uma afirmação interessante que define uma época.

Desde, porém, que a função exista e que para o seu desempenho cabal se exijam certas qualidades e soma d"e trabalho, é natural qne se remunere, e tratando-se de funções idênticas devem ser pagas pelo mesmo quantitativo.

Mas o Governo não pensa em olhar para as flagrantes injustiças que há a dentro do funcionalismo no que • respeita a vencimentos e só está empenhado em satifazer as reclamações dos feçroviá-rios.

No dia eni que o Parlamento satisfizer as reclamações formuladas pelos ferroviários, reclamações que o Sr. Ministro do Comércio considera justas e eu injustas, no dia em que o Parlamento aprovar a proposta de lei que representa a satisfação das reclamações dos' ferroviários, fica moralmente inibido de negar a todos os que reclamam aumentos de vencimentos e de salários a satisfação das suas reclamações.

Estou absolutamente de acordo — friso e não me canso de frisar isto — com a atitucle dos ferroviários. .É muito para louvar. Este procedimento dos ferroviários constitui um aviso aos homens públicos do meu País, porque faz crer que os ferroviários estão em tal estado de

espírito que não têm dúvida de dar a sua assistência moral e material a todos as reclamações dirigidas aos poderes públicos acerca dos pedidos de aumentos de vencimento por parte do funcionalismo público e administrativo.

Quere-dizer, não é por se aprovar esta proposta de lei que se conjura o perigo duma greve por parte dos ferroviários. Eles não são tam egoístas que apenas façam greve por motivo da não satisfação dás reclamações que lhe .digam respeito.. Eles juntam também as suas reclamações às das outras classes do funcionalismo, pois que declaram francamente que, neste momento, lhes dão assistência moral. Por-tanto irão para a greve no dia em que não sejam satisfeitas as reclamações do funcionalismo. Esta é a questão.

Ainda ontem ouvi a um Tomem público do meu país, cujo nome ocultarei à Cá-mara, mas* que -posso afirmar sob compromisso da minha honra que tem com o Governo relações muito íntimas, que uu moio desta espantosa crise que paira sob o mundo e que apenas preservará Portugal num período mais ou menos curto, o fim dos Governos será desarticular da on-" da da revolução uíha classe diante da qual, por muito interessar à economia"pública o seu trabalho, os Governos terão de recuar num movimento eiu que ela tomasse parte.

Isto ó verdadeiro.

Faço justiça aos homens que compõem o Governo.

, Não foi levianamente que eles trouxeram esta questão ao Parlamento.

-Não foi com o propósito de conquistar popularidade.

As popularidades conquistadas por este processo são perigosas.

São os próprios ferroviários que afirmam que não estão com quaisquer homens públicos, com qualquer partido, com qualquer seita; e que tratam única e simplesmente das suas reivindicações.

Isto afirmam-no eles nobremente.

Por isso muito folgo em o reconhecer.