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de 10 de Março de 1920

mento da vida portuguesa. Isto explicou a sua mudança para a pasta das Colónias. Mas, quando ele, expontâneamente, tomava esta atitude, já os outros lá por fora andavam trabalhando já as Companhias andavam trabalhando, e o Sr. Jorge Nunes anunciava ao Sr. Domingues dos Santos que fosse qual fosse a sobretaxa a aplicar à Companhia Portuguesa e demais companhias uma vez que fosse Ministro do Comércio quem se chamasse Cunha Liai, a greve declarar-se-ia na Companhia Portuguesa. Esta é que ó a verdade. O Sr. Jorge Nunes, não contente de exercer, coacção sobre o Governo anterior e o Governo sobre o Parlamento, pensava ainda em exercer coacção sobre o futuro Ministério, e foi só quando, tendo nas mãos uma lista de Ministros e vendo que o Ministro do Comércio não se chamava Cunha Liai, mas Domingues dos Santos, foi só então que S. Ex.a disse que talvez fosse possível uma transigência porque o principal obstáculo tinha desaparecido.

S. Ex.a bem sabia que, se fosse Ministro do Comércio Cunha Liai, Iwvá-los hia à cadeia, fossem ex-Ministros ou fossem administradores. Mas, esse. obstáculo tinha desaparecido e por consequência ainda havia uma solução possivel, ainda se podiam fazer acomodações com o Governo. Surgiram então as acomodações mas disseram: ó preciso não deixar tempo para' eles pensarem, mas atirando lhes à cabeça, nos primeiros momentos, antes de constituírem Ministério, vamos exercer coacção porque eles obedecerão.

Sr. Presidente: apresentavam- se estas duas hipóteses: ou se obedecia à coação e, dentro do prazo que eles marcavam, até às duas' horas da noite, a portaria era assinada, ficando assim satisfeitos os desejos da Companhia o dos ferroviários, e no dia seguinte a quom tivesse a ousa> dia de se sentar naquelas cadeiras cuspir--Ihe hiam na cara, ou, outra hipótese, não assinavam, a greve estala e Oles não são capazes do resistir. O maior erro foi pensar-se que não resistiriamos, mas resistiu-se, e, se tanto fosse preciso, fariamos como Sansão, agarravanio-nos às colum-nas do templo e a derrocada dar-se-ia.

Não era a primeira vez que me veria envolvido em greves. Lembro-me de que, duma vez, a Companhia pediu 27 por

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cento para satisfazer exigências do pessoal. Nessa época ainda eram modestos os Ministros, lutavam por mais 10 por menos 10 por cento, hoje somos um pouco mais acomodatícios. A companhia exigia 27 por cento mas eu que tinha feito as minhas contas, entendi que 17 por cen-ccnto eram suficientes para a satisfação desses encargos. Reunidos dum lado a Companhia doutro lado os operários, desmascarei-os face a face e a Companhia viu-se obrigada a aceitar os 17 por cento, declarando eu, ao mesmo tempo, que se a receita fosse insuficiente o Governo daria o necessário para o equilíbrio orçamental da Companhia.

Pois muito bem, para se fazer uma idea do que são as ganâncias das Companhias e como elas se defendem atravez de tudo, basta citar o que se passou em 1918 com a Companhia Portuguesa a propósito do seu déficit de J750 contos.

O Sr.° Machado Santos provou nos jornais que era uma falsidade e acusando-a de ter por sua conta e risco e com a aquiescência do comissário do Governo, provocado uma greve do seu pessoal cujas despesas o Estado não podia nem devia pagar.

Para que V. Ex.as não julguem que eu estou fazendo afirmações no ar, en chamo a sua atenção para o que se passou com a última greve da Companhia Portuguesa. Afirmou então o pessoal dessa Companhia que estava disposto a regressar ao trabalho desde que a direcção da referida Companhia a tal o convidasse.

Isto consta dos manifestos distribuídos por esse pessoal.

Descobriu-se então a seguinte forma de resolver o assunto, forma que eu já tenho apontado várias vezes à Câmara para explicar que o critério simplista de muitos Ministros tem prejudicado a República.