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Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: — Uma sociedade em que há tanta depravação, não tem autoridade para protestar; por toda a parte se encontra o sobôrno.

O Governo tem empregado todos os esforços, ó o que posso dizer a S. Ex.a

Empregarei todos os esforços para que o pão seja o melhor possível, e o Sr. Ministro da Agricultura certamente dispensará todo o seu cuidado a este assunto.

O Chefe do Governo não pode estar a dividir a sua atenção, duma maneira especial, por todas as pastas do Ministério, e não pode responder por estas duma maneira tam scientífica, tam detalhada, como qualquer dos Srs. Ministros de per si.

You fazer, -repito-o, todos os esforços para que o Sr. Ministro da Agricultura empregue mais energia na repressão dos abusos ultimamente praticados neste sentido.

Não gosto muito de fundamentar as minhas faltas nos actos dos meus antecessores; todavia, devo dizer, em abono da verdade, que foram em parte estes os causadores da falta de trigo, que deveria ter chegado há mais tempo, e foi essa demora de transportes que originou este estado cie cousas, vendo-se este Governo na necessidade de aproveitar -o trigo chegado tardiamente, parte do qual estava lurado.

O Governo não sabe mentir; tem de dizer a verdade e assume a responsabilidade dos seus actos.. Mas o Governo não pode fazer prodígios nem milagres.

Esperamos, no emtanto, que em breve o pão melhore.

O Sr. Hermano de Medeiros: — Até se come pão com gordura dos gatos que os padeiros atiram para o forno.

O Orador:—V. Ex.a não deve acreditar, como eu também não acredito, que haja alguém com a perversidade de deitar um gato para dentro dum forno com intenção de que as gorduras do animal se misturem ao pão. De resto, se V. Ex.a possue dados seguros que o habilitem a semelhante conjectura presta um grande serviço ao Governo indicando o nome de quem tal praticou.

O Sr. Hermano de Medeiros: — Está citado nos jornais o nome dos padeiros

que atiraram o gato para dentro do forno, e até se diz que o Governo já os prendeu.

O Orador: — Os jornais poucas vezes dizem a verdade.

Acresce ainda a circunstância de que há quatro ou cinco dias as padarias estão todas ocupadas pela polícia e guarda republicana, e estou absolutamente convencido de que não haveria nenhum agente da autoridade que, conhecedor dum facto de tamanha gravidade, não agisse, como lhe cumpria.

Em todo o caso vau recomendar ao Sr. Ministro da Agricultura para ser mais severo.

O Sr. Hermano de Medeiros : — V.Ex.a deve recomendar-lhe principalmente que nos dê pão, porque ó de pão que o povo precisa.

O Orador :—V. Ex.a pede pão e lastima que o povo o não tenha. Mas se V. Ex.a for a França encontra o pão racionado, ao passo que em Portugal como-se o pão que se quor.

O Sr. Hermano de Medeiros (para explicações):— Sr.. Presidente : ouvi com toda a atenção a resposta do Sr. Presidente do Ministério.

Declarou S. Ex.a, do seu alto cargo, que analistas e outras autoridades que superintendem no fabrico do pão estão vendidos. Eu chamo a atenção da Câmara para esta afirnmção, que é bastante grave.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (António Maria Baptista): — Perdão, eu disse que há uma parte desses indivíduos que não cumprem o seu dever, não são todos.

O Orador:—Eu tenho pelo Sr. Presidente do Ministério, pessoalmente, uma estima que me leva a considerá-lo como-um amigo querido, mas nos seus actos, como chefe do Governo, eu separo a individualidade do meu amigo o Sr. coronel António Maria Baptista, da do Presidente do Ministério. j