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Sessão de 13 de Maio de 1920

bora tanto nos aflija, ainda se anda tratando de terrapleuagens, e só uns pauzi-tos de fileira, poucos, estão para inaugurar-se !

Sr. Presidente, a meu ver, quando o edifício votado estivesse pronto já não teríamos livraria para lá meter, porque estaria toda destruída. E porquê?

Porque a biblioteca está atacada do pior flagelo.

Houlbert, que tratou especialmente da fauna das bibliotecas, verificou a existência de 67 espécies de insectos biblió-fagos, e as nossas bibliotecas foram invadidas pelos mais temíveis.

Sr. Presidente, a boa conservação das bibliotecas tem-se reconhecido de tal importância para a vida dos povos que no estrangeiro j á'foi criada a cadeira de biblioteconomia, sem que em-Portugal até agora se tivesse pensado sequer em tal cousa.

Mas vamos a ver se será possível manter— como foi lembrado por alguns. Srs. Deputados — a biblioteca tal qual ostá, no antigo convento-dê S.-Francisco.

Como V. Ex.as sabem, o fogo é o pior inimigo das bibliotecas, e estou certo de que aquele edifício não possui as condições necessárias para o precaver dum incêndio, acrescendo, como muito bem disse o ilustre orador que me precedeu no uso da palavra, a humidade, a água escorrendo em certos recantos, molhando os j livros, numa palavra,' deteriorando-os. A escuridão é outro mal horrível. Mas êste^. talvez pudesse ser combatido com a luz eléctrica e abertura de clarabóias. Muitos outros males ainda afligem as bibliotecas grandes, como são os gatos, que arranham completamente as lombadas dos livros, e os ratos, que destroem de preferência os folhetos. Assim, por exemplo, pára a Biblioteca Nacional enviei há quarenta e quatro anos dois exemplares dum folheto que então publiquei acerca de instrução e bibliotecas, sob o título A instrução oficial, carta a António Rodrigues Sampaio, e tendo-o ultimamente procurado não o eucontrei lá, não porque se tivesse extraviado, não o creio, mas porque naturalmente já foi destruído pelos ratos, que são grandes gulosos de folhas soltas ou pouco compactas.

Não são estes, porém, os maiores perigos que nos ameaçam da perda dum dor mais ricos repositórios de toda a

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nossa tradição histórica. O grande mal, -o incorrigível, o quási irremediável flagelo que põe em risco a existência da preciosa livraria reside na' invasão dos insectos. Os coleopteros, os lepidopteros e outros eis o'mal.

Vamos agora, ainda que ligeiramente, estudar os verdadeiros flagelos da Biblioteca, a ver se será fácil ou possível dar--Ihes remédio.

Das 67 espécies conhecidas, as que mais abundam entre nós são o Dermestes lardarium. (traça), o Lepisma sacharina e o Annobium paniceum, de todos o mais temível.

Consideremos a traça.

.iíi notória a confusão que geralmente o povo faz chamando a tudo traça. Quando o povo, em Portugal inteiro, e não sei se lá fora, vê um livro com uns certos bu-raquinhos nas folhas, diz logo: «Está traçado, a traça invadiu o livro». Ora isto nom sempre é verdade. A traça o que íaz é começar a roer os cantos das fôihas, e os livros propriamente invadidos pela traça têm os cantos deteriorados.

Mas aparecem nas lombadas dos livros uns buracos também que o'povo chama igualmente.traça. Trata-Se então dum outro insecto muito mais temível do quo a traça : é o Lepisma sacarina, itiste insecto ataca de preterência as lombadas dos livros o as cores vivas e os doirados.. Nutre-se dos vernizes e das gomas.

O pior de todos, porém, o mais.horrível, aquele que destrói por completo qualquer biblioteca, quando a invade, por maior e mais cuidada que ela seja, é o tal anobio panicium. Este insecto, estudado cuidadosamente pelo Sr. Helbert, passa como todos os insectos pelas "três fases. No estado de larva é que o bicho se torna perigoso para o livro. A sua evolução faz-se em 21 dias, desde a postura,.isto é, larva, até atingir o estado de borboleta. Mas o certo é que este insecto realiza apenas quatro posturas de 50 a 60 larvas de cada vez, dentro dum ano.

Não era conhecido dos nossos antepassados fiste insecto, por isso eles davain-Ihe também o nome de traça, polo que para os estragos dos livros criaram os vocábulos traçar, estracinhar o outros.