O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 13 de Maio de 1920

21

delírio de Figueiredo, açor ca do estado em que encontrou a nossa Biblioteca, quando doía tomou encargo em 1918:

«A sala principal ora notável pela repugnante imundície em que se encontrava: .nas prateleiras o lixo acumulara-se de modo tal que tornara ilegíveis os títulos dalgumâs publicações que nelas jaziam e até lhes transformara a cor das capas.

De resto, este estado de sujidade era geral em todo o edifício. Ainda me recordo dum banco que estava num dos patamares, cuja parto inferior, fechada em roda e coberta com um fundo móvel, funcionava como caixote do lixo, que não se despejava nunca; e as caixas de fósforos, as cascas de laranja e as espinhas de peixe iam-se acumulando. Em todos os corredores nunca lavados, eram notórias as uicinchas de escarros secos».

Mas há mais. No seu relatório a fls. 29 acrescenta o mesmo ex-director:

«Todo o edifício (da Biblioteca), nas suas mais minuciosas dependências, todo o mobiliário e todos os livros se achavam imersos na mais repelente imundície, uma imundície já integrada nos próprios objectos, quási secular».

Isto é moderno. Há, também, as roubalheiras e porcarias antigas, mas tratemos agora do que ó recente.

Do mesmo depoimento:

«A sujidade dos livros era extrema, mas a sua destruição pelos vermes era maior ainda; esses vermes, bem grandes, 'bem visiveis, pululavam frementes de vitalidade e fecundidade. Não se empregava a menor diligência para dizimar esse exército de inimigos da Biblioteca, nem a simples limpeza com escova».

Emfim, e para terminar esta demonstração, referir-me hei- ainda aos livros cias extintas instituições religiosas, do que não se fez nenhuma oncorporação na Biblioteca Nacional, j Fez-se apenas o transporte! Os funcionários da Secretaria Geral o os da Inspecção percorreram o país o dirigiram o oncaixotamentoo

O Sr. Fidelino de Figueiredo descreve assim o que se seguiu:

«Uns caixotes abriram-se, e os livros que continham foram colocados ao acaso nas prateleiras; outros caixotes fechados e pregados permaneceram num corredor circular que bordeja as retretes da Biblioteca Nacional».

A vizinhança com estas fora causa dum ou outro ter sido arrombado pelos operários, que arrancavam folhas de livros .-.. mas não para as ler v.

Um horror de inconsciência da parte de todos, sem excepção.

Como já demonstrei, a limpeza, ainda que a houvesse, não debelaria completa-mente o mal, ó facto, mas atenuá-lo-ia muitíssimo. Ora, tratemos agora de des-raazelos, vejamos o que é a história portuguesa, mesmo contemporânea, em matéria de livros, em matéria de letras.

Em Faro, por exemplo, andou a livraria do Paço do Bispo a monte, tendo-se vendido as respectivas estantes, que eram de madeira do Brasil.

(j E onde param os livros? Preguntaroi.

Estiveram os livros pertencentes ao antigo Seminário de Viseu e do convento de Santo António de Pinhel, longos anos arrecadados, se assim se pode dizer, numa dependência da câmara municipal, e haverá um ano foram finalmente vendidos,. (iSabe V. Ex.a como, Sr. Presidente? A peso, salvando-se apenas e muito à toa alguns pçucos exemplares que ingressaram ha Biblioteca de Viseu.

Esta é a forma como ainda hoje cuidamos do nosso património . espiritual. Acha-se igualmente abandonada aos bichos e aos roubos numa dependOncia da igreja de S. Bernardo a antiga o rica livraria do Seminário de Portalegre.

Também em Eivas, ao Sr. António José Torres de Carvalho, director da Biblioteca local, uma das primeiras municipais do país, se deve o ter-se podido salvar a do Bispado, que, a não ser ele, ficaria igualmente presa do desleixo, abandono e dosprCzo que o mundo oficial da actual Eepública parece ter votado aos livros.