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Sessão de 1$ de Maio de 1920

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emquanto tam pouco se dá à educação e estatísticas, no mesmo orçamento encontro um acréscimo de 13:500 contos para aumento da guarda republicana. Isto emquanto a Inglaterra pensa em diminuir o seu armamento e nos Estados Unidos li-cenceiam numerosos militares, por forma a reduzir quanto antes o seu exército a um simples quadro.

Pois em Portugal, já depois de acabada a guerra e no mesmo orçamento que vamos seguindo, foi proposto o aumento de 4:714 contos para aquisição de material, e 4:^00 contos para construções militares!

Para reorganização de serviços do departamento maritimo e serviço de faróis, o que habitualmente redunda em anicha-mento de afilhados e acréscimo de despesas, foram arbitrados 113 contos, além de mais 360 contos para conclusão de navios e compra de três novos.

Estas verbas somam grossomodo 23:000 contos gastos em luxos desnecessários, o que conduz a um absurdo administrativo e iníquo, porquanto os Governos de Portugal exigiram a. cada cabeça da população para caprichos e luxos opressores ou de ostentação 4(518, ao passo que lhe dispensa a. sua educação artística, comercial e industrial apenas $28!

Parece-me que tenho demonstrado o bastante para habilitar o Parlamento a poder convenientemente tomar a deliberação mais necessária a um caso tam grave como este, que não é de interesse para as coteries de partidos políticos, mas sim de interesse nacional.

Eu disse que estavam em perigo as tradições portuguesas e que com elas estava em perigo a própria nacionalidade. Vou invocar ainda que ligeiramente factos comprovativos do mea asserto.

A Escandinávia tom sido através dos séculos perseguida pela ambição slava. E como tem resistido? Cuidando carinhosamente dos seus Eddas, em cujos trinta e dois imensos poemas, se canta todo o seu passado até á sua mais remota mitologia;

A Finlândia que tem lutado pela sua independência através das idades, dcfron-tando-se contra todas as prepotencias dos germanos, dos escandinavos e dos slavos, tem mantido as grandiosas aspirações dessa independência, abraçada ao sou poema fundamental o Xalevala. A Polónia e

a Irlanda —com quem temos afinidades étnicas pelo lado ligúrico— apesar da Inglaterra as ter perseguido procurando apagar para sempre essas nacionalidades, ainda conservam a sua independência mercê das suas tradições conservadas intactas.

Quem percorrer a Irlanda, como eu a percorri, vê que nos serões dos seus filhos é exactamente a caução tradicional irlandesa o que se canta na própria língua irlandesa, tanto tempo proibida! O próprio principado dê Gales está absolutamente integrado nas suas tradições orais e escritas.

Não se podem esmagar facilmente aqueles povos cuja tradição vive latente e arreigada no espírito dos seus filhos. Não eonseguimos ontem esmagar a índia como o não consegue hoje a Inglaterra, apesar de todo o seu poderio e de toda a sua força. A própria China, não obstante todas as tentativas de parcelamento e absorção, mantêm ainda hoje bem firme o culto das suas tradições trazidas de geração em geração por livros que esse povo guarda religiosamente.

O valor/que na vida dos povos representam as suas tradições, ó imenso, quási invencível.

Portugal, se hoje possui a história da sua literatura que é um verdadeiro padrão de glória, uma obra imorredoura, deve-a a Teófilo Braga que, rebuscando nos arquivos e bibliotecas os elementos indispensáveis à realização do seu trabalho, conseguiu achar o fio das correntes espirituais do povo português através dos séculos.

Se nós possuímos uma História de Portugal — a de Alexandre Herculano— que é um soberbo monumento, embora incompleto, do nosso passado, devemo-lo a um resto de tradições arquivadas que o tempo e a ignorância não conseguiram destruir.

E se Gama Barro.s logrou realizar a sua obra preciosa obra sobre a história administrativa de Portugal, foi porque na Torre do Tombo, na Biblioteca de Évora, na da Ajuda a na de Coimbra ainda existiam as fontes de investigação e de estudo necessárias para a realização desse trabalho.