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Sessão de 2L dá Julho de 1920

ano. Agora temos de aturar estas auódi-nas declarações muito mais a miúdo, sem resultado, sem efeito. É o que temos visto. Ainda não há trôs meses já se nos tinha apresentado um outro Ministério, também com a carta na mão, dizendo que havia de fazer cousas que não fez. Antes desse, uns oito dias, apresentou-se um outro quo prometia também fazer cousas que não fez o que realmente nem podia fazer, nom tempo para isso teve.

Este papel que, segundo a velha costumeira, trazem na mão os Presidentes dos Ministérios, não pode traduzir, por forma alguma, ideas ou qualquer orientação. Porquê? Porque o.s ministérios na República não resultam infelizmente da selecção de competências, de gloriosos estadistas quo o sejam de facto. Quando se sentam nas cadeiras do poder, é que vão pensar no que hão-do fazer pela pasta que lhes foi distribuída e de cujos assuntos habitualmente não percebem nada.

A pecha seguida entre nós éformarem--se ministérios, atendendo às conveniências partidárias e aos acordos, não atendendo .ao ponto de vista intrínseco das competências.

Formam-se ministérios sob a innuôncia «ia nevroso política dos Parlamentos e daí resulta quo as declarações ministeriais são formadas, não sob o ponto do vista da beneficiação o valorização do País, mas sob a viabilidade ou não durante um

Da leitura dósto documento tive a impressão de que a declaração está redigida precisamente nos mesmos termos das anteriores .

Eefere-se ela ao

Isto é muito vago, Sr. Presidente. Nesta declaração não se nos diz a forma por que tal reforma se fará, tanto podendo ser no sentido mais avançado, como no mais retrógrado.

Pela pasta da Justiça diz-se que se farão os melhoramentos do ordenados à magistratura, mas não se nos diz onde se vai buscar o dinheiro para essa melhoria. Pelas Finanças diz-se que vão ser elevadas a?; taxas

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tos, evidentemente, com o recíproco agravamento da carestia da vida.

Tudo isto faz-mo lembrar, quando eu era criança —há uns 50 anos— as zabumbas' do Zé Pereira, da Senhora da Agonia, coni o seu interminável rana ca-taplana, rana cataplana.

A declaração ministerial ou programa do Governo faz-me recordar esses homens das feiras quo noutros tempos faziam passar vistas panorâmicas através duma lente e que cá fora apregoavam: «quem quere por 10 réis ver a cidade da Hungria ondo nasce o sol ao meio dia?»

Custa-me ter que apreciar assim as cousas do meu País; mas a verdade ó que ele se encontra nesta desgraçada situação.

Portugal, apesar dum longo período aparentemente revolucionário, continua a manter os velhos costumes dum passado reaccionário que justo seria que fosse finalmente relegado às páginas da História.

• E precisamente por um direito intrínseco, por um defeito fundamental de evolução mal orientada, que Glos ainda subsistem na sociedade portuguesa.

Eu já disse há pouco que não falo agora como político, mas sim como sociólogo. Em minha opinião, uma das causas determinantes dôsto deplorável estado de cousas, é o estado de desagregação em que neste momento se encontra a sociedade, quer nos costumes, quer na organização política o social do País. Os partidos fundom-se e refundem-se, agregam-se o desagregam-se, não propriamente com o objectivo de acentuar divergências de do-itrina, mas sim por um conluio material de interesses. E infelizmente o que na generalidade acontece, por isso que nós vemos aqueles que militam hoje num partido militareni amanhã noutro o no dia seguinte novamente no. primeiro, sem destino, sem nexo, sem coesão de doutrinas que reJegam sempre para o' segundo plano.