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Sessão de 21 de Julho de 1920

Por isto, erradamente, se tem suposto que Portugal durante os séculos xv e xvi era um povo que vivia do seu trabalho. Depois esses processos a que recorríamos foram acabando e a alma portuguesa foi-se sentindo esmagar pouco a pouco, até que no reinado do D. Manuel I, a época do maior apogeu, se iniciáramos padrões de juros, que outra cousa não são mais do que o início da divida nacional, da triste situação financeira que chegou até os nossos dias.

Para minorar esta situação quando já tínhamos competidores alêm-mar, substituímos a rapina das colónias pelo saque e perseguição aos judeus e cristãos novos.

Quem for à Torre do Tombo verá naquela avalanche de processos as barbaridades e torpezas que se cometeram.

Foi essa decadência. que levou o rei cavaleiro à aventura desastrosa de Alca-cer-Kivir, onde pereceu D. Sebastião e o melhor da. nossa mocidade, que lá ficou com toda a riqueza material das nossas melhores jóias e alfaias.

Depois um covarde lhe sucedeu, que nem sequer teve coragem para indicar, a sucessão, passando assim Portugal a D. Filipe II de Espanha.

E certo que 60 anos depois recuperámos a indepen.den.cia, mas essa reparação não foi positivamente a obra de 40 portugueses, como a paixão patriótica quer, mas a necessária resultante da convulsão de toda" a península, em virtude da qual se desagregariam da Espanha os países que a ela estavam submetidos. E nós, nesse grande movimento internacional, fomos simplesmente arrastados pelas circunstâncias, com os quarenta conjurados ou sem eles.

As perseguições da Inquisição, com o seu respectivo tribunal do Santo Ofício, lizeram-nòs acabar de desnaturar.

A Holanda, que conta entre os seus homens mais notáveis, um grande sábio, Spinosa, deve esse facto ao erro das perseguições em Portugal, pois Spinosa era português o teve de fugir. Esse homem, mestre de filosofia, devia pertencer a Portugal u não à Holanda,, se o espírito fanático da velha monarquia, não tivesse feito fugir tanta gente do País, com perseguições iníquas.

Esta gente, que representava para Portugal uma grande riqueza, porque tinha

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na mão todos os ofícios e artes, eram os judeus, mas a monarquia, com o seu espírito intolerante, obrigara-os a sair do País, indo eles assim enriquecer outros estados em prejuízo do nosso.

i Aqui está, Sr. Presidente, como as nossas desgraças de agora são filiadas • sociológicamento nos nossos actos passados !

Veio o constitucionalismo, porventura como repercussão do quê se dera em França, como reacção mesmo, talvez, contra essas violências todas que os sicários do primeiro Napoleão cometeram em Portugal.

Esse movimento constitucional foi outro golpe vibrado às nossas tradições.

Parece mentira, um movimento liberal, encimado pela brilhante obra do 1820, não condizer com as nossas tradições, mas assim é!

Analisado de perto, esse movimento de nada nos serviu, porque nos fez desvirtuar e esquecer o fio de todas as tradições que nos tinham tornado grandes e respeitáveis.

Em Portugal, por exemplo, realmente, nunca houve duas Câmaras. Portugal só teve uma Câmara: as chamadas Cortes Gerais; As Cortes Gerais foram sempre uma só Câmara, onde estavam largamente representados todos os braços da Nação.

E recordem-se V. Ex.as que a história regista um fíicto que nas Cortes actuais nem sequer se pode repetir: é que ao próprio rei se batia o pé, e se dizia «não»! Pois essa altivez das Cortes, de há muito que desapareceu! (Apoiados).

Podem dizer me, é certo, que anteriormente já tinha, contudo, havido duas Câmaras em Portugal. É certo:

Quando o erário precisava de dinheiro, convidava as classes abastadas com representação em. Cortes, a contribuírem coin determinadas importâncias.