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Diário da Câmara dos Deputados

Quando da apresentação do Governo, disse o Sr. Ministro da Instrução que os homens públicos, grandes ou pequenos, qualquer que seja o seu valor, quaisquer que sejarn as suas virtudes, nunca devem ser inferiores a si mesmos.

Isto é ultrapassar os limites da falsa modéstia.

£ Então o Sr. Presidente do Ministério declara-se incompetente em matéria de Agricultura, e S. Ex.a quere que este país tenha de assistir, neste momento doloroso da sua vida, ao estadear da sua incompetência.?

O que S. Ex.a nos trouxe aqui podia-o fazer qualquer terceiro oficial do sou Ministério.

S. Ex.a trouxe nos o rol das dificuldades com que o Governo tem a lutar para resolver o problema das subsistências.

S. Ex.a falou da falta de Carvão, falou da falta de azeite, falou de tudo quanto falta, mas- não nos disse quais os meios que tinha para remediar esse mal. Não disse absolutamente nada. Acho atrevimento de mais.

Não perdeu S. Ex.a o ensejo de vir dizer à Câmara, por entre o» aplausos da imprensa, que o Governo se havia de orientar pelo que as comissões lhe dissessem no que se referia ao problema dos transportes. Este problema, dos transportes tem, dado que falar em Portugal.

S. Ex.a não podia vir ao Parlamento dizer aquilo .que os outros disseram.

S. Ex.a não veio dizer o que o Governo entendia resolver sobre a questão dos transportes, não demonstrou quais as razões do seu aproveitamento por parte do Estado.

A propósito das afirmações ontem pronunciadas nesta casa do Parlamento, se é que de afirmações podem ser classificadas as palavras do Sr. Presidente do Ministério, há uma que é conveniente fazer destacar, para que se veja a leviandade com' que daquelas cadeiras se fala em assuntos de interesse público (Apoiados).

Disse S. Ex.a, referindo-se ao problema dos azeites, que o assambarcamento desse género de primeira. necessidade tinha sido, até certo ponto legítimo, por virtude duma legislação que é afinal análoga à que S. Ex.a qoere adoptar neste momento.

Mas vir tim Presidente do Ministério ao Parlamento dizer que o assambarcamento, condenado por lei, era até certo ponto legítimo, é demais.

Legítimo por quê?

Não. S Ex.a talvez quisesse dizer que esse açambarcamento seria justificado; mas se para o Sr. Presidente do Ministério pode ser justificado o assambarcamento escandaloso do azeite, se S. Ex.a assim pensa, Admitindo que S. Ex.8 vai fazer, pela autorização que p'ediu, uma legislação atribiliária,'como até'hoje ainda se não fez, pregunto se S. Ex.a tem autoridade para punir os que fazem, porventura, outros assambareamentos, tam legítimos como o do azeite? (Apoiados}.

Quando um Presidente do Governo, esquecendo o significado das palavras, se apresenta no Parlamento a fazer uma afirmação destas, tam leviana, cria para o seu Governo e para si próprio uma situação com que perde toda a autoridade moral.

Algum sussurro na sala.

O Sr. Pais Rovisco (interrompendo') : — Sr, Presidente: nas bancadas do Governo vai um barulho tam grande que o orador não pode falar assim.

O Orador:'— E exacto.

S. Ex.a falou no problema das mantei-gas. Justificou S. Ex.a a sua falta pelo tabelamento. Como o Parlamento ouviu, e suponho vi na imprensa, há abundância de manteiga nas 'mercearias de Lisboa e Porto.

Continua o sussurro.

O Sr. Pais Rovisco : —

O Orador: — Eu não tenho pressa. Espero que haja silêncio.

Pausa.

S. Ex.a, ao formular o problema das manteigas, não disse à Câmara onde contava ir buscá-la, nem em que condições. Nada, absolutamente nada nos disse.