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Diário 'da Câmara dos Deputados

Eu devo declarar, Sr. Presidente, que as afirmações aqui feitas -pelo Sr. Presidente do'Ministério, o Sr. António Gxanjo, prometendo-nos a felicidade e a fartura, foram feitas no ar.

Só se trata de afirmações feitas no ar, pois a cultura dos cereais não aumentará de um momento para o outro e nem o preto começará a cultivar som ter a certeza de que lhe comprem os géneros.

Nem só produzirá nos dois primeiros anos o trigo que necessitamos, nem também temos caminhos de ferro para transportar esses produtos para a costa.

Assim, pregunto: ^que confiança podemos ter no Br. Presidente do Ministério, quando nos afirma que Angola nos cobrirá o nosso déficit de cereais?

i Que confiança podemos ter cm S. Ex.a, quando faz afirmações no ar, como os garotos apanham no ar as moscas?

Evidentemente as regras que S. Ex.a quere estabelecer não se podem generalizar a todos os géneros e se se 'gcneralizas-•em os comboios hão só podiam aguentar.

Algumas indústrias estavam na ruína antes da guerra e agora já estão em fortuna, diz S. Ex.a

Diz isto, mas não diz quo a nossa legislação necessita de disposições que evitem estabelecer-se lucros exagerados.

Não, para essa hipótese não se seguem os outros países.

Quando se quere corrigir os comerciantes surgem logo as reclamações e as revoltas e não se pode obrigar êssos comerciantes gananciosos a entrar na ordem, e entregar ao Estado a parcela que ele necessita.

Um exemplo frisante ó o que sucedeu quando se quis tributar unia parte da produção,das nossas colónias. •

O Sr. Visconde de Pedralva tributou algumas cousas, mas sem nexo.

O que é certo é que os comerciantes logo reclamaram c é curioso citar o que se passou nas reuniões da Associação Comercial de Mossârnedes sobre o assunto.

O que se revela em tudo isso ó um egoísmo sem limites e uma ganhuca ilimitada, sem fim, e o Estado continuando inerte não exigindo aos gananciosos o que eles devem pagar.

O Sr. Presidente do Ministério, sério e tranquilo, do unia penada fez uma obra cujo alcance ninguém contesta.

O regime de -pão em que nós vivíamos era uma cousa horrenda, o Estado perdia dezenas^ de milhares de contos. Nessa ocasião eu disse que era necessário aumentar o preço do pão, pouco a pouco,. >iporque o aumento rápido do preço dos géneros traz graves perturbações na economia.

O Sr. Presidente do Ministério aumentou o preço do pão extraordinariamente.

Aceitemos os factos consumados, mas como esta questão há-de sor aqui reeditada, eu desafio o Sr. Presidente do Ministério como pensa provar que o Estado» podo economizar 15:000 coutos.

S. Ex.a não tíipou todos os buracos e-por alguns que ficaram escoa-sc muito-dinheiro.

Repito: sem modificar o preço do pão,, sem modificar o preço da farinha, o Estado pode lucrar mais de 15:000 contos. Esta não ó nenhuma afirmação feita r, o-ar, eu a provararei com um contrapro-jecto que oportunamente apresentarei nesta Câmara.

O que deu a liberdade de comércio, verifica-se no preço que atingiu o azeite, a batata e todos os géneros que são essenciais à vida. O quo GO passou no nosso-país é apenas vergonhoso!

Houve terras da província oude do-manhã se vendia a batata a 2$GO a arroba e à tarde passou logo a 3$ e a 4$. £ O que há que justifique este aumento?

Eu assisti a esse grito ingénuo de um jornal republicano, A Manhã, quo dizia t «Isto não é liberdade de comércio, ó liberdade de roubar». '

Mas esta liberdade de comércio é a liberdade do assalto às algibeiras de cada um, dizendo-lhe: «em nome,da fome compra, e se não puderes comprar assalta».

O Sr. Presidente do Ministério, cons-cienternente, como assim o afirma, disse que era partidário do aumento de salários; mas a verdade é que nem todas as indústrias podem, dum momento para o outro, aumentar os salários dos seus empregados. Algumas indústrias há que morreriam imediatamente se aumentassem os salários, e o mais curioso de todos é o exemplo que nos oferecem os caminhos de ferro, que hão-de morrer pela carestia dos preços.