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Sessão de 19 de Outubro de 1920

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dificar este estado de cousas, é precisamente ao Parlamento a quem compete contribuir para a realização e efectivação dessa obra.

E por isso que não pronunciarei mais palavras, porquanto elas se encontram condensadas na moção que mandei para a Mesa.

As poucas palavras que acabo de pronunciar significam o desejo que tenho de colaborar, como a Câmara, numa obra que seja útil, pouco me importando que seja com este ou com outro Governo, devendo no em tanto dizer que este ainda não desmereceu da minha confiança.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Ladislau Batalha: — Sr. Presidente: o tempo urge e não é agora ocasião para largas dissertações.

A matéria está discutida, e eu direi, j com aquela franqueza que me caracteriza i em todos os actos da minha vida, que, a i respeito das várias acusações que adentro deste Parlamento se tom feito ao actual Governo, a despeito da maior parte delas j serem justificadíssimas, da minha parte, e j até deste lado da Câmara, não temos o menor interesse em fazer cair este Gío-vêrno.

Pausa.

E porquê?

,; Porque ele satisfaz ? . . . Não!

E porque derrubar este Governo importava uma responsabilidade muitíssimo séria e grave. Nós temos brincado aos Governos como quem brinca ao «sempre cm pé», mas a dificuldade está em fazê-lo substituir por outro que satisfaça.

Este Governo não tem realizado essa obra, porque não quere ou não sabe, mas, outro que vier £ que garantia nos dá sobre a realização dela"?

Infelizmente o aspecto da sociedade portuguesa é desolador, e uma das causas é a de que os Go\vernos que se sentam naquelas cadeiras têm dado sobejas provas do não compreenderem o que é a acção socialista que neste momento está vencendo por toda a sociedade mundial.

Entrenós, as questões relativas às greves tratam-se como factos esporádicos, como casos isolados, quando é certo que como tais não devem ser consideradas, íáoria bom observar que, simultaneamente

com as greves, com as insignificantes greves que se estão dando em Portugal, greves enormes e ameaçadoras se estão desenrolando em todos os pontos do mundo-A .Inglaterra, por exemplo, luta neste momento com uma greve — a dos mineiros— por si só mais ameaçadora do que todas as greves de Portugal juntas e de que resultará talvez a paralisação duma grande parte da indústria em toda a Europa. Simultaneamente, greves extraordinárias, greves de carácter subversivo rebentam na Itália, e na vizinha Espanha, elas estão surgindo a toda a hora. A índia, a grande índia em poder dos ingleses está hoje ameaçada de conflitos operários a que a Inglaterra não sabe. cpmo dar remédio. E ôste nosso Governo, como todos os outros que temos tido, interpreta estes factos simplesmente como movimentos bolchevistas: E — dizem—o dinheiro^ que vem da Rússia que, ao que parece,, mesmo sem-trabalho, a braços com uma» revolução extraordinária, é tam rica que,. apesar de tudo, ainda tem dinheiro para. mandar para Portugal! . . .

Isto é pasmoso!

Não quero dizer que a Rússia, na necessidade de estender a sua revolução,, não possa ter influído com alguns milhares de rublos num ou noutro país, mas isso ó muito diferente, é um pequeno fac-tor, é um facto isolado dentro do grande movimento grevista que se está dando.

Começou a desenhar-se por toda a parte, na Europa, a congregação das forças conservadoras, a coligação das cha-madas direitas. Logicamente, desenhada» a guerra social, que é o que existe —e já alguns livres pensadores assim a têm1 classificado, dando este título a livros que tratam da questão moderna— provocada por várias circunstâncias que determinam que as classes capitalistas se juntem, esta guerra dá origem a represálias o o trabalhador de todo o mundo reage com a-sua única arma que é a greve. Estamos, pois, em presença dum facto que é a lógica consequência da situação em que a sociedade se encontra.