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Sessão de 7 de Dezembro de 1920

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rio, me fez exclamar: j «Esta revolução ó tam monstruosa que só houve um herói que foi ele o vencido!»

Recordo-me perfeitamente de que estava no Rossio, quando me disseram que o valente militar tinha morrido. Sem saber porquê, não acreditei.

Imediatamente me dirigi ao Hospital de Santa Marta, e.valendo-me da minha situação de estudante de medicina, pude abeirar-me do catre onde estava Agatão Lança martirizado, parecendo que a metralha inconscientemente o tinha procurado a ele. Estava como que desconjuntado, mas o enorme sofrimento, a grande dor física não lhe obscureceu o sentimento; pois, quando eu cheguei junto ao seu catre, tive o prazer de ouvir da sua boca uma interrogação sobre o que era feito dos nossos amigos.

Daí a pouco abeirava-se do seu catre uma das mais belas figuras da marinha portuguesa: o comandante Muzanti. No olhar do ferido viu-se o prazer pela distinção de' tal visita, e esta não se calando disse: é um grande herói.

Agatão Lança não cabe nas estreitas fileiras dum partido, é uma figura que só se pode irmanar com a República pela íigura altiva e galharda, e pelo desinteresse, coragem, justiça e bondade.

Posso afirmá-lo que o meu partido nunca o teria irradiado.

O Sr. Leote do Rego pedindo licença para interromper, lê uma carta em que o Sr. Agatão Lança se refere com desgosto à atitude tomada para com ele pelos dirigentes do Partido Republicano PortiLguês.

O Sr. António Maria da Silva: — Nessa ocasião pertencia eu ao directório do meu partido, e por forma alguma podia concordar com que Agatão Lança fosse irradiado. Posso afirmar a V. Ex.a que isso não é verdadeiro.

O Sr. Leote do Rego:—A carta os tá assinada por Agatão Lança.

\j Oíaiiur:—Devo lumbéiu prestar a minha homenagem ao comandante Cer-qaoira.

Sei perfeitamente que elo não gostaria que da minha boca saíssem palavras que5 mesmo que fossem do inteira ver.da.do o

justiça, pudessem significar um elogio; mas a figura desse grande marinheiro tem de recordar-se aqui pela sua extraordinária altura moral.

Recordo-me de que Cerqueira, quando no período clezembrista, dirigia um determinado serviço, ao ser intimado para entregar as munições que estavam a seu cargo, negou-se, com aquela elevação moral que o caracteriza, a fazer essa entrega. Esboçou-so até nesse momento, um movi mento de solidariedade, na armada, visto que muitos dos camaradas dele se recusaram a aceitar a vaga deixada pelo comandante Cerqueira que fora abruptamente demitido em virtude do seu gesto que não foi bem acoito, visto que o dezembrismo em nome da ordem, fizera tábua raza de todas as regalias, mesmo as fundamentais, das instituições básicas da República, como são o exército e a armada.

Se não cito todas as figuras de combate contra o dezembrismo, não é porque elas desmereçam na minha consideração, mas sim porque me bastam, estas duas grandes figuras: a dum rapaz e a dum homem de idade, para salientar a linha moral que tem de marcar a conduta que nós outros republicanos temos de defender como a mais nobre das virtudes da nossa raça.

Honra-se a Câmara, prestando estas homenagens.

Mostra que não se esqueceu dos que morreram: os anónimos, os humildes, que uma vez é a rua, outras vezes a canalha, mas que rias horas de ansiedade, é a soberania. Em todos os tempos, essa massa anónima constitui a matéria prima de todas as heroicidade s.

Honra-se ainda a Câmara, glorificando a personalidade de dois combatentes que manifestaram as mais altas virtudes morais.

Mas, Sr. Presidente: mais se honraria a Câmara, mais se honraria a República, se não se procedesse de maneira a tornar possível uma terceira crise da República.