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Diário da Câmara dos Deputados

ram no cumprimento dum dever sagrado, qual o de defenderem a República que viram ameaçada naquela hora incerta das primeiras lutas do dezembrismo.

Tive ocasião de observar a fé patriótica e republicana que os animava e pela qual caíram, quem sabe se com o pensamento de que com eles morriam as instituições.

Estive em contacto permanente com essas figuras, e pude avaliar de perto o valor militar de Sá Cardoso, de Joaquim Ribeiro e tantos'outros.

Quanto a Joaquim Ribeiro e Agatão Lança permita-me a Câmara que relate dois pormenores que dão uma nota das suas figuras. Estava-se a organizar a coluna de ataque no Arsenal da Marinha. Não tinha artilharia. Joaquim Ribeiro sabe que ela existe, em Braço de Prata e pede que lho forneçam elementos para ir buscá-la.

Horas depois, já de madrugada, chega alvoroçado de contentamento com algumas peças. Estranhei . que a coluna de marinha não trouxesse a sua artilharia. F.ui ter com o Ministro da Marinha de então e pedi-lhe que fizesse desembarcar algumas pecas de bordo, porque não deviam servir só para passeios aparatosos na cidade.

Momentos depois, Agatão Lança, transbordando alegria, dizia-me orgulhoso: «Cruz! Acabo de receber ordem para ir desembarcar duas peças e vou comandar a nossa bataria». Depois, a Câmara já conhece corno ele se bateu. Momentos antes de ele cair tinha-me comunicado a sua certeza no triunfo. Todos nós o esperámos porque a nossa causa era justa. Eis senão quando me dizem que caíra gravemente ferido. Quando me propunha ir socorrê-lo, acrescentam que seguira a caminho do hospital, onde provavelmente chegaria sem vida.

Confesso que du?s lágrimas sentidas me rolaram dos olhos. Para terminar lembrarei nesta Câmara a sua frase última.

Quando o amparámos, e nos meus braços como que expirava lentamente, ouvi--Ihe estas palavras : «Rapazes, salvem a República». Este amor pelas instituições, este receio pela sua existência devem ser,-ao mesmo tempo, exemplo e estímulo para todos nós»

Tenho dito.

O Sr. José de Almeida: — Sr. Presidente : nós socialistas dúvida alguma te-mós em nos associarmos à homenagem proposta nesta Câmara àqueles que tombaram no momento revolucionário de 5 de Dezembro.

O Sr. Deputado João Camoesas, numa das suas mais brilhantes orações produzida, neste Parlamento, disse há pouco que se lhe afigura não serem três anos mas três séculos que medeiam desde essa • data até hoje.

S. Ex.a teve muitíssima razão e teve muitíssima razão porque parece que os republicanos se esquecem de que foram também os seus erros, de que foram também as suas dissenções os' principais motivos, talvez, que tornaram possível o 5 e 8 de Dezembro.

Sr. Presidente : tinha-se . dados havia. pouco tempo ainda,, a jornada de Monsanto; o povo, aquele que nunca se esquece do cumprimento dos seus deveres, esse que tinha momentaneamente abandonado os republicanos governamentais no 5 de Dezembro porque tinha visto que* eles haviam cometido erros que não lhes podia perdoar, esses homens que não procuram glórias mas simplesmente amam a figura e a idea da República, esses homens iam à jornada de Monsanto salvando mais uma vez aquilo que os erros dos políticos tinham estado quási a perder. Pois tinha-se há pouco tempo ainda dado essa jornada heróica e eu constatei, em presença dos políticos republicanos portugueses na constituição dum Ministério, que eles haviam esquecido já os erros tremendos do passado e que esta-. varn reincidindo neles.

Disse-lhes eu no Ministério do Interior que enveredassem por outro caminho, porque só assim podiam ser dignos dos homens que tinham salvo a República, não havia ainda muito tempo.

Nós, socialistas, contribuímos também para essa jornada de Monsanto ; o comité do movimento de Santarém teve a representação dos socialistas e quando ainda nas prisões se encontravam os republicanos perseguidos, fomos nós os socialistas que bradámos, que erguemos o primeiro grito para que esses verdadeiros crimes terminassem duma vez para sempre.