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Diário da Câmara dos Deputaaos

vãmente para consumo de Lisboa e Porto. O Sr. Ministro da Agricultura sabe muito bem que numa altura, como agora, os povos se procuram defender da fome e da imprevidência criminosa dos Governos furtando-se às requisições, furtando-se ao próprio manifesto, e que só pela força pública e alguns actos violentos o Governo da minha presidência, assim, como aquele de que S. Ex.a Faz parte, tem* conseguido obter uma quantidade de trigo nacional suficiente para consumo.

Ninguém desconhece que as fabricas de moagem do Porto estão a comprar trigo a setenta centavos, que em qualquer parte não se obtém por menos de ciacoenta centavos. Como se há-de exigir, portanto, da parte do lavrador o sacrifício heróico de o fornecer paia Lisboa e Porto ao preço de trinta e seis centavos? Defendetn-se duma situação injusta^ temos de o reconhecer.

Não tive nem mais nem menos facilidades que tem o actual Sr. Ministro da Agricultura.

Tendo leito ura apelo à lavoura, a lavoura correspondeu a osso apOlo dando-me trigo para suprir um período de absoluta carência, porque cheguei ao meu Ministério, tendo trigo para cinco dias.

Esse apelo, que foi correspondido pela lavoura, era necessário na ocasião, mas Mo podia ser feito permanentemente, porque, nesse caso, representaria a fome em todo o Portugal. Agradeci esse acto à lavoura e agràdeço-o novamente, porque é ainda lá, quer queiram quer não queiram, que se encontra o amor da Pátria mais radicado ò firme, é ainda na lavoura que está a base 'essencial do rejuve-aeseiniéato nacional. (Apoiados),

Não estava, como já disse, nem em piores nem em melhores condições do que está o Sr. Ministro 4a Agricultura em face da situação -cambial, inas, Sr. Presidente, não é cola certeza com o método que o Sr. Ministro da Agricultura quer seguir, ou cora a absoluta íàka de método que está seguindo, que conseguirá modificar a situação cambial. A actual situação cambial deriva na sua máxima parte, da emigração de onro pára a compra dos géneros de importação entre os quais está primacialmente o trigo. Li. nos jornais q«© o Governo pensa fazer o racionamento. Eis uma cousa que eu compreendo que o

Governo faça, o racionamento do trigo. Eu sei que o Governo pensou arranjar novos tipos de pão com mistura de centeio, com mistura de milho, parecendo que ainda não se convenceu de que tudo isso é inviável. Nem há milho, nem há centeio no País, para as suas necessidades. Esse centeio de que há pouco se falou foi vendido com lucro pelo Estado ao Porto, porque o déficit cerealífero é total.

E o Governo que, segundo afirma, procura resolver todas as questões, trouxe--nos apenas, em relação a esta magna questão,, um pedido de autorização de 50:000 contos, que nem sequer nos explicou, contido numa proposta que não traz uma única palavra que dê à Câmara a impressão de que há da parte desse Governo o propósito de mudar de vida.

Devo dizer mais uma vez à Câmara •—é já a terceira ou quarta vez que o digo— que o regime actual de aquisição de trigos é precisamente um dos elementos mais poderosos da nossa depressão cambial.

Eu já tive ocasião de relatar o caso que se dou quando o Govôrno, em determinada ocasião não se encontrava habilitado nem com as remessas da Agência Financial, nem com quaisquer outros meios, a satisfazer certas compras. Logo que se teve conhecimento da situação em que se encontrava o Governo, os negociantes do trigo, ou melhor, os traficantes do trigo se apressaram a comprar as poucas cambiais existentes na praça para depois as fornecerem ao Estado por preço muito superior. E esta desenfreada especulação 4 sombra da ignorância dos poderes públicos, ameaça eternizar-se.

A Câmara há-de convencer-se -=—e £>ou-to tempo restará para que essa convicção chegue ao espirito de todos— que o actual regime de aquisição de trigos é um dos principais factores da nossa ruína e de que o problema se não pode resolver pólo simples racionamento desse produto, como o Actual Governo preconiza.

Há tempos aventou-se a possibilidade de o País se contentar