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Sessão de 17 de Janeiro de 1021

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to, como Ministro das Finanças, não posso desligar as necessidades de ouro do Estado das da Praça, e, assim, o relegar para terceiros, naturalmente gananciosos, o cuidado de adquirirem no país o ouro necessário para pagamentos no estrangeiro não passa para mim dum triste e miserável expediente.

Quanto a abandonar a política de trigos, até agora seguida, estamos de acordo. Simplesmente, os homens, como a natureza, não devem caminhar aos pulinhos. Há muito tempo que venho defendendo esse princípio. Mas também sou de opinião de que fazer regressar, bruscamente, a nossa política económica em matéria de pão a um caminho natural seria um crime. A triplicação do preço do pão arrastaria, como consequência, a desordem económica e o caos social. Temos de adoptar formas de passagem e transacção, comer um pão pior, aproveitar o milho das nossas colónias, restringir" o consumo do pão. Mas, tudo isso, lentamente, para que Portugal não seja vítima duma revolução da fome, da qual nada de bom podemos esperar, em que pese ao leader do Partido Liberal que, quando Ministro da Agricultura, com as suas medidas, a ia provocando. E esta minha tese dos tempos da opo-. sição a lenho levado aos Conselhos de Ministros sem necessidade de que o Sr. Ferreira da Rocha ma tivesse alvitrado.

Seguidamente, o Sr. Deputado oposicionista apreciou as causas da nossa depreciação cambial. Gravemente, com os seus ressaibos de tragédia na voz, o Sr. Leio Portela, antes do Sr. Ferreira da Rocha, atribuíra o mal, exclusivamente, às manobras que o Banco Português do Brasil pudera fazer, aproveitando-se do contrato de 31 de Maio de 1919. É verdade que, há poucos meses, em sucessivos artigos e em sucessivos discursos, com a mesma convicção, e com os mesmos ressaibos de tragédia na voz, o Sr. Leio Portela nos demonstrava, por a mais b, que a causa da nossa depreciação cambial residia no excesso do nosso meio circulante. S. Ex.a crismara o mal de —inflação da circulação fiduciária. E, para remédio deste inchaço, como bom clínico financeiro, queria por força aplicar a cataplasma da redução do montante do papel moeda emitido. Assim, pensava S. Ex.a em sanear a moeda— fra-

sezinha que o leader do seu Partido achou tam graciosa e sugestiva que a adoptou pela vida fora.

Agora o mal já não está no inchaço do meio circulante: conclama S. Ex.a que está na Agência Financial. O Sr. Ferreira da Rocha, percebendo o perigo de tais exclusivismos, reduz o contrato de 31 de Maio de 1919 a simples causa secundária na determinação do fenómeno da desvalorização da nossa moeda. Emfim, é já meio caminho andado e alguma cousa se ganhou com uma tal discussão. Começam a abrir-se os olhos e a prudência do Sr. Ferreira da Rocha é um sintoma precioso.

Reconhece o Sr. Deputado liberal que o desequilíbrio da nossa balança económica e o pânico causado por uma legislação atrabiliária em matéria de câmbios, que determinou o êxodo dos capitais nacionais, são as causas mais importantes da nossa depreciação cambial. Mas isso já eu proclamava numa interpretação feita nesta Câmara em Dezembro de 1919!

; Foi preciso mais dum ano para o Sr. Ferreira da Rocha concordar comigo! Mas, emfim, mais vale tarde do que nunca.

Por último, tratou o Sr. Ferreira da Rocha do aspecto jurídico da questão. Ironicamente, lembrou S. Ex.auma frase minha, em que me referia às «almas áridas e secas dos juristas», para concluir que, certamente, os argumentos jurídicos serão os que menos me interessam. Engana-se S. Ex.a; interessam-me todos os argumentos, e reconheço que, para se ter uma alma árida e seca, não é preciso ser jurista, nem ter exaurido, com lábios ávidos e gulosos, as tetas de Minerva.