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Sessão de 26 de Janeiro de 1921

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nem deveria fazer sem aguardar o parecer da comissão de finanças, ou solicitar desta a sua aprovação, o que aliás não fiz, repito, por achar inútil qualquer modificação.

Sr. Presidente: há que considerar dois períodos distintos na vigência do contrato de 29 de Maio de 1919.

O primeiro período ó o da minha gerência (2.° semestre de 1919) e durante ele o Estado teve ouro mais que suficiente para as suas necessidades.

Ò segundo período decorre desde fins de Dezembro de 1919 até hoje e caracteriza-se por um esgotamento cada vez maior quer do Estado, quer da praça, em ouro e derivado a meu ver, quer do mau funcionamento do Consórcio ; quer pela excessiva valorização da nossa importação, e colossal diminuição e desvalorização da exportação ; quer ainda pela terminação brusca do foncionamento do Conselho de Câmbios o que permitiu o regresso à especulação livre e restauradora do período em que a tínhamos pretendido refrear.

No .primeiro período cedi libras, porque as tinha, valorizei-as contudo recebendo escudos que no momento representavam um igual poder de compra, e fiz um depósito à ordem que as circunstâncias aconselharam e que felizmente o actual Sr. Ministro das Finanças conseguiu com a sua decidida vontade e extraordinária visão recuperar em parte.

E um facto que durante a minha gerência eu não tive aquelas enormes dificuldades que alguns sucessores e especialmente o actual tem tido para obter o ouro necessário aos compromissos do Estado.

Uma simples mas cautelosa operação de crédito e compra do trigos garantiu-me com o capital de roulement necessário para um mais fácil aproveitamento das cambiais da Agência Financiai", e quando saí do Ministério deixei não só garantido o pagamento do cupão do 1.° semestre como o do 2.°

Mas, Sr. Presidente, não são apenas estas as características dos dois períodos a que me referi e qne podem ter dado à Câmara o errado convencimento de que o período da minha gerência não teve dificuldades ainda maiores que as derivadas de déficit ouro.

, Ao contrário do que sucedeu com o ou" ro, os dois períodos 'considerados caracterizam-se pela abundância de escudos no segundo, e pola sua escassez, até o absoluto, no primeiro período.

É que durante ,1 minha gerência, Sr. Presidente, tive abundância de libras, mas lutei com a falta de escudos; vi-me com libras cujo valor em escudos não era do Estado e eu não os tinha para os entregar a quem de direito.

Na cedência de libras que por vezes fiz e nas prorrogações de prazo de reentrega está o reflexo da minha situação, eis a explicação destes, boletins que aqui estão e em que estão mencionadas as datas dos vencimentos dos saques da Agência Financial.

Tive horas amargas ao ler as contas correntes com o Banco de Portugal e vi chegar o dia em que se esgotou por completo a disponibilidade do Tesouro.

O País viveu então em Dezembro numa situação aflitiva de que bem poucos se aperceberam.

Para fazer face a uma corrida a qualquer instituição oficial, eu não tinha um escudo.

Ou havia de pedir ao Banco de Portugal que me adiantasse o que, pelo contrato e por lei, só me era permitido receber em 2 de Janeiro seguinte, e eu não o quis fazer; ou havia, Sr. Presidente, de seguir o processo de que o Sr. António Maria da Silva lançou mão aumentando confidencialmente a circulação fiduciária; ou então, e foi o que realizei, recorri ao desconto de uma letra que só me foi possível com a garantia de se poder fazer o redesconto. Aproveito a oportunidade de declarar que presto a maior justiça ao Sr. António Maria da Silva, por cuja abnegação e patriotismo lhe presto a minha homenagem. Se não fiz o mesmov'foi simplesmente por ter podido recorrer ao processo a que recorri e por na realidade ter apenas de vencer um abismo de quinze dias. Na sua situação em 1920 eu teria procedido como S. Ex.a procedeu como Ministro.

O Conselho dê Ministros estava ao facto da situação e conhecia a minha opinião sobre a Agência Financial.