O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

28

Diário da Câmara dos Deputados

Nestas condições dentro em pouco aparecia a A Imprensa de Lisboa, órgão dos trabalhadores da imprensa, e O Jornal, órgão das empresas.

Começaram a dar a esta questão aspectos vários e eu vi aparecer em O Jornal, como uma das razões mais importantes contra os trabalhadores da imprensa, a acusação da censura vermelha.

Antes de prosseguir nas minhas considerações que creio não ter inimigos nem dum lado nem do outro e durante o período em que tenho desempenhado a minha missão de Deputado, igualmente de todos eles tenho recebido injustamente palavras amáveis que muito me têm sensibilizado. Não sei se de facto existe a tal censura vermelha, mas estou convencido de que não.

Conhecendo alguns desses rapazes novos, cheios de fé e de entusiasmo como eu, que se dedicam à missão de trabalhar para os jornais, julgo-os incapazes de quererem por alguma forma exercer uma coacção que seria uma absoluta negação daqueles princípios de liberdade que cons-tantemente estamos preconizando.

Não me dispenso, porém, de fazer a observação de que, com frequência, nós, Deputados, afirmamos aos trabalhadores de jornais, que são obrigados a vir a esta Câmara fazer o relato do que aqui se passa, o nosso desgosto pelas omissões feitas nos nossos discursos, com alterações flagrantes no sentido das nossas palavras, chegando às vezes a inverterem compler tamente a idea das frases proferidas.

Assim, apesar desta solidariedade que deve existir entre os Deputados e jornalistas, solidariedade que foi firmada pelo célebre almoço na sala dos Passos Perdidos por iniciativa dum jornalista, nós temos ocasião de conhecer, com desgosto, que vindo esses trabalhadores dos jornais para aqui dispostos a fazer um trabalho honesto, muitas vezes as empresas cortavam períodos inteiros das palavras pronunciadas.

O Sr. Nuno Simões: — Não apoiado!

O Orador: — Sr. Presidente: eu não conheço o grupo dos trabalhadores da imprensa, mas sei que há lá rapazes cheios de fé e de entusiasmo e tam bem intencionados como eu.

Quem leu os jornais nestes últimos quatro meses viu a maneira como foram tratadas todas as questões que interessavam à alta finança.

Eu leio os sumários dos jornais relatando as discussões aqui havidas e vejo que muitas vezes não vem tudo o que aqui se diz.

Tenho sido tratado com carinho pelos jornais e por alguns tenho sido honrado com a sua amizade, mas devo preguntar se não é verdade que é conveniente que o país conheça tudo que aqui dizemos.

Em tudo que acabo de dizer não vai censura para ninguém. Mas, Sr. Presidente, para mim, como militar e engenheiro que sou, esta questão tomou um aspecto que não posso aceitar.

Eu visto uma farda e tenho obrigação de cumprir o meu dever, mas quando, amanha, seja quem for me dê uma ordem que represente uma deslealdade, seja para um militar ou um civil, não a posso cumprir.

Assim não posso compreender que nesta questão se vão obrigar os militares a ir trabalhar nas imprensas das várias em-.prêsas. (Apoiados).

O exército não tem de intervir neste assunto. (Apoiados).

Compreende-se quo o Estado nos seus serviços oficiais possa empregar o exército.

Eu sou militar e engenheiro e tenho de respeitar as ordens que o Estado me dê para lhe prestar os meus serviços, em caminhos de ferro por exemplo, mas o Estado não poderá amanhã obrigar-me a deixar os seus serviços e ir prestá-los a uma empresa particular, onde os meus colegas engenheiros abandonaram o serviço.

Se amanhã o Estado para lá me mandasse nessas condições para desempenhar a minha profissão, declaro.que não iria.

Estou falando neste aspectD da questão, porque estou vendo o abuso que se está fazendo do emprego do exército nestes confliioa, e isto com prejuíz;o da disciplina.