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Sessão de 16 de Março de 102Í

O Sr. Ladislau Batalha: — A minoria socialista, tendo ponderado este projecto de lei, resolveu dar-lhe inteiro apoio na sua generalidade, embora na especialidade entenda que algumas ligeiras modificações se lhe devem introduzir.

A natureza deste projecto é de tal ordem que convém abreviar a sua discussão e dar-lhe andamento.

Duas palavras direi, referindo-me apenas à organização geral e à' aplicação que se vai dar a estes 60:000 contos.

Para este ponto eu chamo a atenção do Sr. Norton de Matos.

Como S. Ex.a é quem vai dar realização a este projecto, talvez lhe seja útil, para se orientar, a informação, embora ligeira, de um pratico.

Há um ponto quo para a colonização de Angola esqueceu mencionar. Refiro--me às missões civilizadoras. É indispensável reconhecer que o missionismo é a melhor forma de poder a colónia nacio-lizar-se e poder defender-se das cubicas alheias.

Ein matéria de telegrafia e telefonia, lembrarei a S. Ex.a um caso interessante.

Estávamos em 1876. Nesse ano foi uma expedição para Angola.

Durante três anos não fez nada. Como era, porém, inevitável ter de apresentar algum trabalho, logo se começou a fazer uma linha telegráfica de Loaiida ao Dondo.

Sabe S. Ex.a como se procedeu? Foram-se aos coqueiros, t em cujo tronco espetaram as louças. -É claro que com o subir da seiva, ao fim de um curto prazo as louças caíram ! Mas no relatório lá vieram com exagerado encómio, os grandes trabalhos e combates que tiveram de sustentar contra o indígena. .. afinal inofensivo ! •

Eu conheço bem aquele povo que é exageradamente pacífico, muito mais do que aos seus interesses convém.

Transitei por ali de dia e de noite, mas nunca tive de me defender do indígena que só sabia obsequiar-me e agasalhar--me nas suas senzalas.

jAssim se consumia o dinheiro de três bons anos de expedição! Chamo, pois, a atenção de S. Ex.a para este importante ponto, a fim de procurar impedir que voltem a, dar-se abusos de tal natureza emquanto com prestígio do seu nome e

com a sua bela tradição se conservar no alto cargo em que foi investido.

Com respeito a colonização, desejo fazer algumas ligeiras ponderações, com as quais terminarei as minhas ligeiras considerações. Sabe bem o Sr. Alto Comissário de Angola e sabe a Câmara que é um verdadeiro absurdo pensar em fazer a colonização de África, especialmente na região equatorial, com o branco.

Ao branco o que se poderá confiar ó a direcção superior da colonização, mas o indígena é que a levará a efeito.

É, pois, do indígena que temos de cuidar com o maior interesse, precisamente para que ele sinta a necessidade de defender o território que habita da cobiça de estranhos, dando-se-lhe a impressão de que defende o que é seu e não" apenas o que é nosso. De resto, e infelizmente, o colono português é bem diferente do colono inglês, alemão ou belga.

O inglês, quando se resolve a emigrar para uma colónia, leva a família, desfazendo-se do que tem na metrópole, à qual apenas fica preso pelo amor pátrio, e por isso. quando desembarca, levando às costas a sua bagagem, a primeira pregunta que faz visa a inteirar-se sobre a melhor forma de empregar a sua actividade. O colono português principia por chamar um preto para carregar a sua mala ou o seu saco, julgando .que em seu redor só há escravos, e imediatamente trata de preguntar a como está o vinho e ainda outras cousas que me abstenho de relatar*

Torna-se, portanto, necessária a maior ponderação, as maiores cautelas no que se refere à colonização, parecendo-me talvez excessiva a verba de 10:000 contos que lhe é destinada. Em todo o caso, feitas estas breves considerações, não temos dúvida em dar plena adesão a este projecto de lei.