O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 4 de Abril de 1921

9

moral que por todos deveria ser aplaudido!

Pode ser que o general haja tido fraquezas diante do tenente-coronel Liberato Pinto. ,;Mas como não as havia de ter, se o Sr. Liberato Pinto era uma potência, um estado dentro do Estado, e se o general sabia que à primeira tentativa que fizesse contra ele receberia um pontapé, ficando impune o seu antagonista? E a prova vê-se no que está sucedendo. Ao general instauraram-lhe um processo, porque, torno a dizê-lo, o processo foi contra ele, e a mini, pelo meu acto de devoção cívica, ameaça assassinar-me o António Maria, que ao próprio Presidente do Ministério fala de chapéu na cabeça, com o rei na barriga, como se vê do seu manifesto ao País!

O Sr. Presidente:—Está a terminar o tempo que V. Ex.a pode usar da palavra. Se deseja continuar, posso reservar-lha.

O Orador:—Vou terminar. Vozes:—Fale, fale.

O Orador: — Peço a V. Ex.a que seja ccnsultada a Câmara.

O Sr. Presidente:—Pode V. Ex.a continuar no uso da palavra, mas restringindo-se ao assunto para que a pediu.

O Orador: —Estou dentro dolo, creio eu.

Um homem quo escreve em jornais disse que a certidão que publiquei no meu periódico, andava sendo oferecida a toda a gente. E falso. A mini, pelo menos, ninguém ma ofereceu. Custou-me o meu dinheirinho. Não foi muito. Confesso que não fiquei arrumado com a despesa. Em todo o caso, se a quis paguei-a, mandando-a tirar no tabelião respectivo.

E certo, porém, que já muita gente a conhecia, diga-se em descrédito dos outros e em honra minha. Eu é que só tive conhecimento dela à última hora, publicando-a a seguir. Se há mais tempo a tivesse conhecido há mais tempo a haveria publicado, como publicarei tudo, absolutamente tudo que no género, e seja contra quem for, chegar ao meu conhecimento.

Não farei como outros que, conhecendo-a, consentiram que o Sr. Liberato Pinto

continuasse sendo o árbitro dos destinos desta terra e ascendesse a Presidente de Ministros. Nunca cometi desses crimes.

Inda o inquérito está pendente e já por aí se afirma que não ficará à frente da guarda republicana o general Pedro só de Lima. Acho muito grave. E acho muito grave porque mais uma vez se vai abater, humilhar, afrontar o princípio da autoridade, que já de há muito, por desgraça, se vem arrastando moribundo.

Porque mais uma vez se leva o desalento e o desgosto aos que no meio desta desordem ousam cumprir o seu dever.

Porque mais uma vez se tira a força moral aos que comandam, aos quo dirigem, aos que possam dispor, em benefício da causa nacional e da dignidade pública, de alguma energia.

E muito grave, Sr. Presidente. E tanto que me atrevo a reputá-lo um crime, além de uma falta de senso dos partidos. O que o bom senso indicava aos partidos era que não continuassem colaborando, em interesse próprio, nesta tremendíssima anarquia. Era que não fizessem crescer o seu descrédito, já tamanho no Pais. O general hesitou? O general fraque j ou, não metendo mais cedo na obediência e na ordem o tenente coronel Liberato Pinto? Mas não foi ele, certo, quem elegeu membro do Directório do Partido Republicano Português o seu chefe de estado maior, o homem que, sendo nesse instante o chefe supremo da guarda republicana, ia ao Porto, calcando aos pés a lei que tinha o encargo de fiscalizar e zelar, fazer, num congresso partidário, pública confissão e alarde do seu partidarismo.

E nessa altura, nesse momento em que o general lhe não podia passar guia de marcha para o Ministério da Guerra, ninguém, nem nesta Câmara nem fora dela, protestou contra tamanha ousadia! Logo a fraqueza do general, se a teve, logo a sua cumplicidade, se a houve, foi a fraqueza e a cumplicidade de todos. Quem tem aí autoridade, a menor autoridade, para o apedrejar, agora que ele cumpriu o seu dever?

Se o general hesitou, se o general fraquejou, mais um motivo para o animar, para lhe dar força moral, agora que ele resgatou essas hesitações e essas fraquezas com um acto de notável energia.