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Diário da Câmara dos Deputados

nele se castiga não é a transigência humilhante, mas o seu derradeiro acto de intransigência honesta e altiva.

Continuasse ele a manter na guarda republicana o indisciplinado, e o homem sem escrúpulos'que continuaria por seu turno, no seu posto, a coberto de todo o perigo". Isso é que ficará eloquentemente provado. E mais: que não foi aos actos do tenente coronel Liberato Pinto que se mandou abrir um inquérito, mas, como afirmo, aos actos do general Pedroso de Lima.

É o que ficará provado definitivamente.

E tanto que se encarregou um general mais antigo do que ele de proceder às averiguações, e tanto que, dentro da lei, o suspenderam.

Mas V. Ex.a disse-me que me restringisse ao assunto do meu negócio urgente, pois que estava fora da ordem...

O Sr. Presidente: — Eu não disse que V. Ex.a estava fora da ordem. O que disse foi que se circunscrevesse ao assunto para que tinha pedido a palavra.

O Orador: — Está bem! Mas, já agora, concluirei com duas palavras, embora tenha ainda 'muito que dizer.

Tenho 61 anos de idade. E só agora entro nesta Câmara, embora sem o pedir, sem trabalhar para isso, sem o esperar e nem sequer o desejar. A prova (mostrando} está aqui: é a famosa acta da eleição de Timor, o célebre documento que se procurava. Eis o diploma que me teria de há muito dado entrada na Câmara se porventura, nela tivesse querido entrar. Não é o que foi roubado. Os eleitores, parece que conhecendo já os desgraçados costumes deste País, tiveram o cuidado de me enviar um diploma igual àquele que se extraviou. E este. Bastaria havê-lo apresentado para ter sido desde logo proclamado Deputado.

Mas como não tinha empenho nenhum em entrar nesta Câmara, e não o digo por desconsideração por ela ou por qualquer dos seus membros, mas pela consciência de que não vinha cá fazer nada, deixei-o continuar tranquilo na gaveta onde o tinha fechado.

Emfim, cá estou. Mas cada vez reconheço mais a minha inutilidade. Lembra-me, a propósito, um caso que já tornei

público, uma vez, no meu periódico, e que José Luciano de Castro, aborrâcido com as insofridas ambições do seu correligionário José de Alpoim, contava certo dia, a alguns íntimos, numa das salas do seu palácio da Bua dos Navegantes.

José Luciano, sendo moço ainda, quis ser Deputado. Não tam moço que não tivesse já 26 ou 27 anos, e não fosse já conhecido pelos seus escritos sobre direito, sobretudo direito administrativo e economia política, a que toda a vida mais ou menos se dedicou. José Estêvão, seu patrício, pois ambos eram de Aveiro, dispunha nessa época de larga influência política, como forte coluna, que era, da Regeneração. Mas José Luciano teve receio de se dirigir a José Estêvão directamente.

Empregou como intermediário seu co-nhado José Henriques, grando amigo de José Estêvão, e com relevantes serviços à causa constitucional.

José Henriques escreveu a José Estêvão no sentido que José Luciano desejava. Mas não obteve resposta. Á coca, José Luciano viu um dia chegar José Estêvão a Aveiro. E correu a Estarreja buscar o cunhado. Vieram os dois e procuraram José Estêvão em sua casa. Este, que apareceu pouco depois a receber as visitas, tratou José Henriques com nmto agrado, abraçando-o efusivamente, mas sem fazer de José Luciano o menor caso. E travou--se o seguinte diálogo:

—Não recebeste uma carta minha? E que te escrevi solicitando a tua intervenção a favor da candidatura a~]ui de meu cunhado.

—Recebi. O que me admira, menino, voltando-se para José Luciano, é a sua audácia em querer ser Deputado.

José Luciano comentava r.o seu salão do palácio da rua dos Navegantes: Eu já pedia ao soalho que se abrisse para desaparecer por ele a.baixo!