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Diário da Câmara dos Deputados

uma incapacidade de visão; mas houve também, e sobretudo da parte humilde da sociedade, uma coincidência com o sentir da dignidade social, uma adivinhação das próprias necessidades da raça, e por isso a intervenção de Portugal na guerra foi precisa.

Pois, ainda neste momento, a palavra de Alexandre Braga foi a palavra superior, foi a mais bela, a mais extraordinária palavra interpretativa desse sentimento nacional que era vivo e de acordo com os rebates imperiosos da consciência da Nação.

E se essa" palavra foi assim, foi porque era a palavra de um tribuno, e não é tribuno apenas o repetidor ds palavras, mas aquele homem que sabe assumir a atit-ide característica de realizador dos sentimentos e das aspirações de uma raça inteira. (Apoiados].

Alexandre Braga, porém, avultou para a nossa consideração, não apenas por ter sido o tribuno e o intérprete de uma revivescência nacional, mas também porque a sua vida inteira a deu ao seu ideal, porque toda a sua actividade a entregou sem reservas a esse ideal, e toda a gente sabe como esse homem conseguiu morrer, moço ainda, tendo pela vida fora, num desbaratamento dos seus nervos, dado mostras de uma perpétua adolescência, que a mediocridade desta terra quis amesquinhar class.ificando-a de viciosa, sem querer ver que ela é a diferença que existe entre o talento e a mediocrida.de. (Apoiados).

íjsse homem, desde os bancos da escola, deu numa sociedade apática, como que impotente, o exemplo da actividade e, sobretudo, esta nota, que é característica de todo o movimento republicano em Portugal: a gentileza corajosa das suas ideas e das suas convicções.

Deu a indefectível e inabalável resistência da sua crença; deu-nos, como dá toda a massa republicana, a nobreza, a altjvez, a quási necessidade de sacrifício, com que essa crença se grita contra todas as injustiças e perseguições, e imposições, mesmo, daquela parte da sociedade que já morreu velha e, por consequência, incapacitada de compreender a actuação daquela parte viva da mesma sociedade, que prebende marchar, e marchar de facto, à realização de um grande destino para a nacionalidade inteira.

Sim, nem podia ser de outra maneira! {Alexandre Braga foi um homem ,de acção, no amplo, no perfeito sentido da palavra!

Esta palavra acção esteve 3m tempos muito desacreditada em Portugal.

Imaginava-se que o homem de acção era o homem directo, simples, sem ideas e sem sentimento; uma espécie de força materializada, que seguia imperturbável uma trajectória'de antemão definida.

Imaginava-se que a acção tumana era alguma cousa de cego e fútil, como a marcha de um projéctil; e, por consequência, foi moda em Portugal dizer-se que a geração de 90 foi uma geração inferior, geração inferior à dos precursores, porque foi uma geração que não soube altear-se aos níveis superiores de cultura, tendo sido simplesmente uma sociedade de acção, embora tendente a uma finalidade marcada pela geração anterior.

Mas, Sr. Presidente, a acção humana não é essa marcha cega; a acoão humana é, pelo contrário, o desdobramento de todas as possibilidades de uma individualidade, desde aqueles factores psicológicos primários, até aquela multidão de pequenas ascensões de carácter que dentro da personalidade de cada um de nós acompanha o definir de uma atitude.

Não há parcela nenhuma de organismo humano, não há parte nenhuma da arvoro humana, que não seja interessada na acção do dinamismo,.sobretudo quando essa acção é a acção social, sobretudo quando essa acção, como acção social, é uma acção de renovação, de eliminação dos con-formismos, empecilhadores do progresso e do aumento da comodidade de cada um.

Sim, o homem de acção e c» homem de acção dessa geração de 90 não é uma força cega ou materializada; polo contrário, é mais alguma cousa de que o simples homem que tenha feito ia repetição o fim de todo o seu conhecimento, é o homem que tem o conhecimento, sim, que o assimila, mas não para o guardar e transmitir, porém para o realizar; é o homem que sente dentro da alma a necessidade enorme de levar a todos os corações a mesma luz de verdade e de beleza que o ilumina.