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Diário da Câmara dos Deputados

não é para adoptar por parte deste nem por parte de nenhum Governo, e é o sistema dos Ministros, dos directores e chefes de repartição não incomodarem os seus subordinados para não serem por sua v£z incomodados. E, infelizmente, os funcionários republicanos "dão grande contingente para o número daqueles que não cumprem os seus deveres. (Apoia-dos).

Continuemos, todavia, a exposição do que tem sido a nossa vida na República, a nossa luta de dia a dia entre republicanos e monárquicos.

Já disse o que é que sucedeu até 1913; mas nós entrámos depois da amnistia de 1913, aquela amnistia pela qual. Y. Ex.a quebrou lanças, na amnistia de 1914. Lembro-me então que já depois de declarada a guerra surge o movimento de Ma-fra, que tem à sua frente o tenente Cons-tíincio e que saiu para a rua aos gritos de «abaixo a guerra». Esse revoltado, cujo movimento foi brilhantemente sufocado pelo nosso querido amigo e velho camarada de lutas em prol da República, hoje o tenente-coronel Sr. Álvaro Pope, êuse revoltado saiu para a rua e declarou aos seus adversários que eram inúteis todas as resistências. Veja V. Ex.a como ê] e contava com um movimento em todo o país.

"Sufocado esse movimento, surge então o movimento das espadas, que se não foi da iniciativa dos monárquicos, foi por eles aproveitado para darem mais um golpe nas instituições.

Aparece o Governo Pimenta de Castro, que se proclama ditador, e nós, que não admitimos ditadores, tivemos de responder aos gritos dos monárquicos que queriam que ele vestisse a farda, com vivas à Constituição, empunhando as armas.

Só assim salvámos a República; e se,, então, o não tivéssemos feito, a aventura' do Monsanto não teria sido em 1918 mas sim nessa ocasião.

l Vem o ano de 1916, e o que sucede? O 13 de Dezembro capitaneado por Machado Santos era que os monárquicos se encontravam já misturados, tentando empolgar o movimento.

Chegamos a 1917, sendo Presidente da República o actual Presidente do Ministério, o Sr. Bernardino Machado, dá-se o 5 de Dezembro em que um aventureiro desembainha a espada contra a República

e contra a Pátria, comete as maiores vilezas, permite-se o espectáculo da «leva da morte», pratica-se-o vil assassinato de Ribeira Brava, enchem-se as prisões de republicanos, espancam-se criaturas indefesas, fazem-se toda a sorte de 'perseguições e atropelos, e, então, ninguém protestou ; nem uma palavra de perdão, nem um gesto de piedade para com as vítimas de tanta represália.

Por toda a parte se ouve apenas o grito de vingança e de ódio contra os inimigos da religião e da monarquia.

Efectua-se a restauração da monarquia no norte do país. As perseguições, os vexames, os crimes são ainda mais repugnantes e mais bárbaros.

Uma vez, que eu transitava de Vila Nova de Portimão para a cidade de Lagos, tive ocasião de verificar, de perto, as scenas horrorosas que aí se praticavam.

Viajava numa diligência em companhia de uma pobre mulher a quem eu pregun-tei se conhecia o Sr. Carvalho, que era dessa cidade, ao que ela me respondeu que sim, informando-me de que os monárquicos lhe tinham assaltado a casa, trazendo para a rua tudo quanto nela se encontrava e que, além disso, o procuravam por toda a parte para o matar.

O padre Avelino foi arrastado para a rua, e aos gritos do desgraçado que pedia para o não matarem, visto ser pai de ama criança cega, responderam os canibais com seis tiros, matando-o.

E para os autores de tantos e tam nefandos crimes que neste momento vêm pedir perdão e misericórdia? Não; da minha parte não.

Os monárquicos são todos responsáveis por estes actos de facínoras, porque mandaram, porque executaram e porque aplaudiram.

Generosidade, generosidade para com os inimigos desta têmpera, generosidade em nome da República santa e .augusta, para com assassinos e ladrões, não, mil vezes não!

Não será com o meu voto.

Sr. Presidente: fomos de étape em étape até Monsanto.

A Câmara sabe o que sofreram os republicanos nessa hora dolorosa que a República atravessou.