O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1.0

Diário da Câmara dos Deputado*

O Sr. Raul Tamagnini (para interrogar a Mesa):—Pedi a palavra para pre-guntar a V. Ex.a se não achará conveniente que se proceda à contraprova que ficou interrompida na penúltima sessão "em que foi rejeitada pelo Sr. Costa Júnior, sobre a votação das emendas do Senado do projecto n.° 355 que trata dos funcionários abrangidos pelo decreto n.° 5:553, .visto ter-se verificado não haver número.

O Sr. Presidente:—Tem a palavra para um negócio urgente o Sr. Ministro da Instrução.

O Sr. Ministro da Instrução (Júlio Marfins):— A greve dos estudantes da Universidade de Coimbra, disse, dura desde o dia 18 do corrente. Esta greve prejudica o ensino e todos nós desejamos que ela termine o mais rapidamente possível. Nesta altura do ano, com os exames à porta, uma greve, que é sempre uma perturbação, assume uma importância excepcional.

A greve dos estudantes de Coimbra resultou dum equívoco, resultou dum mal entendido entre os estudantes do 5.° ano de medicina e o ilustre professor de clínica cirúrgica, o Sr. Dr. Angelo Rodrigues da Fonseca.

Os alunos do 5.° ano de curso médico, julgaram-se agravados pelas palavras proferidas pelo Sr. professor Angelo da Fonseca na aula da classe médica em l de Março passado, quando S. Ex.a fazia o elogio do saudoso sábio e erudito professor Sr. Daniel de Matos e criticava o discurso do estudante Coelho, feito à beira da campa do ilustre extinto.

Os alunos do 5.° ano médico quiseram ser recebidos, depois da aula, pelo seu professor que, dizem eles, os não recebeu.

Na sua essência, ó esta a questão que deu origem à greve.

Há, repete, um equívoco, um lamentável mal entendido entre as duas partes em litígio: professor e estudantes.

O ofício que me dirigiu o ilustre Reitor da Universidade de Coimbra, completado com a cópia da acta do conselho de faculdade de medicina, dá à questão uma ampla plataforma, que colocando bem os estudantes e o professor deve resolver sem mais delongas a situação.

Vejam como os factos se passaram:

Em 25 de Fevereiro morria o grande homem de sciência, glória do nosso professorado superior, o saudoso Dr. Daniel de Matos, alma cheia de justiça e cheia de bondade, talento brilhante qje numerosas gerações de estudantes amaram e respeitaram enternecidamente.

Ô curso do -5.° ano médico enviou como seu delegado, a dizer-lhe o derradeiro adeus da sua imensa saudade, o estudante Coelho, um rapaz que me dizem ser muito inteligente, estudioso e trabalhador. O discurso deste estudante foi apreciado pelo Sr. professor Angelo da Fonseca, em l de Março, na sua aula de clinica cirúrgica, em algumas das suas passagens, como depreciativo e porventura agressivo da Faculdade a que ele pertencia,r e cujo prestígio desejava ver erguido. À má interpretação do discurso, que mútuas explicações desfariam logo, mas devido, certamente, a circunstâncias de momento, professor e estudantes não conseguiram entender-se.

Os estudantes ouviram a (Titica do seu professor em silêncio, e L saída da sala o aluno Pádua, filho dum professor da Universidade, já falecido, procurou o o Dr. Angelo da Fonseca, para lhe dizer que o estudante Coelho desejava ler-lhe o dircurso que proferiu no cemitério e explicar-lhe que nenhuma intenção tivera de ofender a Faculdade. O Sr. Angelo da Fonseca respondeu que estava muito fatigado, que lhe custa vá receber fOsse quem fosse, mas que se não incomodasse o estudante Coelho, visto que, declarando ele que não havia ofensa à Faculdade, estava liquidado o assunto.

Momentos depois, o estudante Coelho com outros condiscípulos foram recebidos pelo Sr. Angelo da Fonseca, lendo o estudante o seu discurso, comeritando-o e terminando por afirmar que era incapaz de ofender os seus professores ou ofender a sua Escola. Iria publicar o seu discurso para esclarecer a opinião pública acerca das suas intenções, obtemperando-lhe o Dr. Angelo da Fonseca que era justo que aclarasse as suas palavras perante a opinião pública. Mas o mal entendido continuava, o equívoco prevalecia.