O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

16

Diário da Câmara dos Deputados

receitas. V. Ex.a há-de fazer-nos justiça. Quando o Poder Executivo vem à Câmara- pedir novas receitas, da minha parte e da do meu partido tem havido sempre a melhor boa vontade em colaborar com o Governo.

Vozes: — j Está fora do Regimento, Sr. Presidente !...

O Orador: — Apresentei um projecto de lei subscrito também pelo Sr. Pais Rovisco em que se criavam também para o Estado novas receitas.

Vozes: — Ordem do dia, ordem do dia.

Grande sussurro.

O Orador: — Sr. Presidente: termino pedindo a V. Ex.a que ponha à consideração da Câmara o requerimento do Sr. Orlando Marcai.

O orador não reviu.

Posto à votação foi aprovado o requerimento do Sr. Orlando Marcai, bem como o seu aditamento.

O Sr. Presidente:—Vai passar-se à segunda parte da ordem do dia: (discussão da interpelação do Sr. Augusto Dias da Silva ao Sr. Ministro do Trabalho sobro os Bairços Sociais).'

O Sr. Augusto Dias da Silva :—Sr. Presidente : tem esta questão dos Bairros Sociais dois aspectos bem distintos; um deles, a parto administrativa; e o outro, a-celebro questão do complot.

Quanto à primeira parte, não me compete referir-me a ela, porque não quero que a comissão do inquérito dalgum modo atribua às minhas palavras a perda cialguma pista. Vou, por consequência, tratar tam somente do que diz respeito ao complot.

Diz-se pelos corredores da Câmara que alguma cousa de grave existe contra mim. E necessário saber tudo.

Diz-se ainda —e tantas notas têm vindo a público— que documentos de alto valor existem na posse do Ministro. E isto depois de terem sido arrombados os cofres do Sr. Manuel Ryder da Costa, e depois de alguém ter roubado a casa desse homem.

' Comigo, pessoalmente, esta questão não acaba som que seja suficientemente esclarecida, tanto mais quo da solução deste assunto depende a minha permanência ou não nesta casa do Parlamento.

Antes de entrar propriamente na questão do complot, permita-me V. Ex.a, Sr. Presidente, que eu diga à Câmara a minha razão de ser política e que eu exponha de certo modo o motivo porque me encontro no Partido Socialista Português.

Costumado de muito novo, desde criança ainda, a ouvir os grandes caudilhos da República, eu comecei mais ou menos a interessar-me pela vida política do meu país. Sendo ainda de menor idade, filiei--me no Partido Socialista Português, depois de me ter convencido de quo só transformando as nossas condições políticas e fazendo a máxima socialização da riqueza, da sciência e da autoridade, nós poderíamos atingir o bem da sociedade.

Por ter visto que só o Partido Socialista defendia esses princípios, filiei-me nele. Tinha 18 anos apenas. Entrei para este Partido, consciente do que fazia e convencido absolutamente de que era a dentro desta fórmula da socialização da riqueza, da sciência e da autoridade que estava o problema dos que trabalham e a sua solução.

Não necessitei nunca, ein todc, a minha vida política, do mo 'servir da calúnia e da difamação. Já no tempo da monarquia eu me revoltava contra a calúnia. Veio depois a proclamação da República; e esse critério infamanto de caluniar tudo e todos continuou.

Assim, difamou-se o Sr. António Maria da Silva a propósito das águas de Ródão ; íálou-so insidiosamente da questão de Anibaca; disseram-se as mais disparatadas o ignóbeis mentiras com respeito à nossa participação na guerra, chegando a afirmar-se que os soldados eram vendidos a tantas libras por cabeça; disseram-se cousas estupendas relativamente à estada do general Sr. Correia Barreto ao Arsenal do Exército, etc., etc. Pois eu sustentei sempre largas discussões, arvorando--me ora defensor da honorabilidade das pessoas atacadas, porque dete»to e me repugna extraordinariamente a calúnia.