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ítiário da Câmara aos Deputados

rã que ele precisa do lugar; não porque tenha um centavo de recurso, mas porque com o seu carácter honrado facilmente arranja colocação.

O resto do Conselho, porém, não concordava com a atitude de Carvalho Araújo, mas não a podia impedir, visto que se tratava dum desabafo pessoal. E assim, esse conselho, comigo, deliberou arranjar uma casa na Baixa para, realmente, conseguirmos destruir tudo quanto existia de menos verdadeiro em volta desta questão.

Desse modo, lembrámo-nos do escritório do Sr. Manuel Ryder da Costa, que, note bem a Câmara, é um quarto alugado, onde existe um balcão, onde entram a todos os momentos os seus clientes, e onde para nos fazermos ouvir melhor é necessário fecharem-se as janelas, porque de contrário ouvem-se melhor as nossas palavras na escada do que lá dentro.

Nessas reuniões procurou-se, efectivamente, atacar o Ministro, mas atacá-lo politicamente. Resolveu-se mais procurar os leaders dos diferentes partidos. Daí saiu o Conselho de Administração, sem o Sr. Carvalho Araújo, que não concordava com essa resolução, a procurar o Sr. António Maria da Silva, que está presente e pode confirmar esta afirmação. Procurou também o Conselho os Srs. António Gran-jo e Cunha Leal, mas S. Ex.as estavam fora. Procurava assim esse organismo pôr-se em contacto com os leaders, e nas horas de brincadeira f alava-se em com-plot.

Quem de brincadeira até o organizou fui eu, estando até admirado de que não tivesse vindo isso para público. Lamentando, efectivamente, a sanha dos republicanos contra os socialistas, disse eu que muito mal podia causar aos republicanos se quisesse, mas que nunca me quis servir de certos processos. Então contei uma história que se deu comigo dentro desta casa. Era Ministro o Sr. António Maria Baptista, e S. Ex.a queria esmagar os movimentos operários com as

patas dos cavalos da guarda republicana. .

Era, como disse, Presidente do Ministério o falecido coronel Sr. António Maria Baptista, quando me apareceu um rapaz, com quem eu não tinha nenhuma intimidade, e que me disse : — Quando se acenderem as luzes, você retire-se da Sala das Sessões, porque o Parlamento vai voar. Vamos dinamitar as Cortes e já temos aqui a planta da instalação eléctrica. Façam o que quiserem, —rotorqui-lhe eu — que não saio da sala, niosmo para que se não diga que sou conivente nesse atentado.

Depois desta minha proposta, o rapaz procurou desviar a conversa para a defesa da República e disse que ora verdadeiramente lamentável que o coronel Sr. António Maria Baptista perseguisse os operários e permitisse aos monárquicos que se reunissem.

Sobre este assunto respondi-lhe que não devíamos ser mais papis.tas que o Papa, pois se os republicanos não defen diam a República não era a nó», socialistas, que competia fazê-lo.

O referido rapaz fui-se embora e eu, chegando a uma das janelas cêste edifício vi que ele se dirigiu a um grupo que estacionava ao longe.

Fui para casa a cogitar no facto e a mini próprio preguntei qual S3ria o motivo porque aquele rapaz, que comigo nenhuma intimidade tinha, veio contar-me o seu plano tani tenebroso, falando depois na defesa da República?!

Não! —pensei— isto deve ser unia armadilha da Polícia de Segurança do Estado. Isto é, com certeza, o Ba.ptista que me quer meter na cadeia.

Desta vez ainda não caí no laço, ficaste comido, Baptistinha, monologuei eu.

E senti-me deveras satisfeito por ter dado aquelas respostas.

Passados alguns dias fui procurado outra vez pelo mesmo rapaz, que me disse:— «Tenho imensa metralha íora de portas, mas não me convindo alugar uma carroça para a transportar para cá, lembrei-me de lhe pedir o seu automóvel para que a condução desse material seja feita com a maior urgência».