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Se$são de 22 de Abril de 1921

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em toda a minha vida, desprezei; e entendo que dela só fazem, uso aqueles despeitados que, sem escrúpulos, pretendem vingar os seus interesses feridos.

Sr. Presidente: posta a questão neste pé, vou entrar propriamente na questão do complot.

Juro, sob a minha honra e sob a felicidade dos meus três filhinhos que tenho em casa, que vou dizer toda a verdade.

Eu declaro a V. Ex.a e à Câmara que se arranjou um complot apenas para inutilizar o conselho de admnistração dos Bairros Sociais.

Quando o Conselho de Administração dos Bairros Sociais foi suspenso, o seu primeiro momento foi realmente de desespero, pelo inesperado que apresentava. Essa primeira impressão, porém, passou; e o Sr. Ministro do Trabalho nesse mesmo dia partiu para o Porto. Encontrando-se S. Ex.a no comboio com o presidente do Conselho de Administração dos Bairros Sociais, o arquitecto do Sr. Norte Júnior, este disse-lho que a suspensão lhe pare-^cia mal feita, ao que o Sr. Ministro retorquiu que, havendo acusações gravíssimas, não podia deixar de ter feito o que fez.

O Sr. Norte Júnior, que é glória da arte nacional, que é o arquitecto que tem feito um maior número de construções em Portugal, o Sr. Norto Júnior que tem sido na sua profissão um perfeito revolucionário, esse grande génio, teve para o Sr. Ministro do Trabalho estas simples palavras, próprias da modéstia de um grande homem: V. Ex.a, Sr. Ministro, pode passar sem mim, mas há no Conselho de Administração alguns homens que são absolutamente imprescindíveis, porque conhecem os serviços dos Bairros Sociais como as suas próprias mãos. Um desses homens é o Sr. Eodrigues Consolado».

A estas palavras o Sr. Ministro do Trabalho respondeu ao Sr. Norte Júnior, com o seu sorriso peculiar a que todos estamos habituados:

«EsseRodrigues Consolado ia está bem consolado».

Como que envolvendo cousas tremendamente graves, S. Ex.a punha em dúvida a honorabilidade de Rodrigues Consolado. Norte Júnior protestou contra esta simples presunção, e chegando a Lisboa, esse grande carácter chamou ao seu

escritório os membros do Conselho do Administração e expôs-lhes a conversação do. Sr. Ministro do Trabalho.

V. Ex.a, Sr. Presidente, compreende bem a indignação que se apoderou dos membros do Conselho, porque então já não era uma acusação feita pela comissão de inquérito, era um Ministro que sabia cousas graves, que sabia que se cometiam importantes irregularidades. Conse-qúentemente as cousas passavam a ter novo aspecto.

Todos os membros daquele conselho, se sentiam verdadeiramente revoltados, contra as afirmações produzidas pelo Sr. Ministro do Trabalho.

Neste momento, um dos membros do conselho, o Sr. Cíirvalho Araújo, homem novo, de carácter, sentiu-se tam vexado, tam envergonhado, porque preguntava qual o conceito que dele fariam em \rila Real, perante uma notícia tam lacónica, de ter sido demitido o Conselho dos Bairros Sociais, por irregularidades praticadas, que veio pedir-me para junto dos meus amigos conseguir que ele pudesse publicar alguns artigos na imprensa, para desabafar; e para dizer ao Sr. Ministro do Trabalho, que era preciso ter mais cautela com a honra dos outros, principalmente no lugar que S. Ex.a desempenha. Quis dissuadi-lo disso; mas não tive outro remédio senão ir junto dos meus amigos para que, alguns artigos de Carvalho Araújo fossem publicados.

Foi publicado o primeiro que era bem a revelação do que ia no espírito desse homem.

Nesse artigo, Carvalho Araújo responsabilizava o Sr. Ministro do Trabalho pelo descrédito que jamais se afastaria do seu nome, em seu entender; nesse artigo, desafiava o Sr. Ministro do Trabalho para um duelo: nesse artigo, dizia que também do Sr. Ministro do Trabalho lhe tinham dito muitas cousas, em que ele não tinha acreditado, mas que começava já a acreditar. Trata-se, portanto, dum artigo de jornal, com o seu nome por baixo, em que se desafiava o Ministro para um duelo. Devo dizer que a mim confundem-me muito estas cousas de duelo, porque sou apologista dos duelos à antiga portuguesa. . . (Risos).