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Diário da Câmara dos Deputados

Os nativistas, ora sustentam que o Brasil não deve nada aos portugueses, que tudo quanto é, o deve a si mesmo, que o que nele se tem feito de bom, o fizeram os indígenas, ora que avassalámos o Brasil, mantendo nele — uma vergonha, dizem, para a pátria brasileira — a nossa hegemonia.

Uma contradição constante.

Uma falta de probidade, uma má fé sem limites.

As repúblicas sul-americanas, de raça espanhola, recebem os seus irmãos de raça magnificamente.

No emtanto, ninguém ignora as lutas tremendas havidas entre a Espanha e as suas colónias ao tornarem-se estas independentes.

Aí, que seria natural qualquer ressentimento contra a mãe pátria, não se levantam campanhas de difamação contra ela, antes a tratam com manifesto carinho.

E nós, que fomos de todas as condes-cendências com o Brasil, que nem sequer protestámos, pode-se dizer, quando se proclamou a sua independência, que o fizemos o que ele é, como os próprios nativistas implicitamente confessam ao combater a absorpção e a hegemonia portuguesa, somos tratados da maneira miserável que se vê.

Isto quanto ao presente.

Quanto ao passado ainda é mais vil a infâmia, mais soez a mentira, maior o negro crime.

Não quero tomar tempo à Câmara a desfazer — como em grande parte já tenho desfeito na imprensa—o que nesse sentido se tem escrito contra nós.

E o que se tem escrito contra nós com uma improbidade scientífica tão grosseira, uma má fé tam requintada, uma baixeza tam odiosa, que será a eterna vergonha do Brasil, pois só uma minoria, e uma ínfima minoria desse povo, tem tido a hombridade precisa para inteligente e dignamente protestar.

Mas também não quero perder este ensejo de unir ao meu protesto de jornalista o meu protesto de Deputado, de, a exemplo do que fiz na imprensa, erguer a minha voz clamando contra a vileza dos que, usando nome português, tentam conspurcar a gloriosíssima história deste povo, o nome grande, imenso, dos nossos

maiores, dos nossos heróis, e de a erguer aqui, Srs. Deputados, no seio da representação nacional.

A tese nativista, aberta e escandalosamente perfilhada pelo alto e baixo clero, por uma parte importante, creio que a maioria, do professorado, por outra parte não menos importante e não menos numerosa do exército de terra ernar, de senadores, de deputados, de ministros, de comerciantes e industriais, etc., é que, tendo sido Cristóvão Colombo quem descobriu a América, foi Cristóvão Colombo quem descobriu o Brasil, parto integrante do novo mundo, sendo uma mentira portuguesa atribuir o descobrimento da pátria nativista a Pedro Alvares Cabral. Logo, foi Cristóvão Colombo, dizemos nós, quem descobriu o Canadá, quem descobriu o Labrador, quem descobriu a Terra Nova, quem descobriu a baía de Hudson, o estreito de Behring, que sppara a Ásia da América, o estreito de Magalhães, por onde este grande navegador passou para o Pacífico, e a mentira portuguesa passa a ser uma mentira universal.

Logo, como África era já conhecida quando nós por mar a contornámos, os portugueses nada descobriram em África, nem os ingleses, - nem os frar.ceses nem ninguém, continuando todo o mundo a mentir, excepto os sábios nativistas brasileiros.

«Sem embargo —continua L, tese nativista, e nestes termos textuais— devemos dar também um lugar saliente ao castelhano Yanez Pinzon, por ter sido o primeiro navegador que abordou as plagas brasileiras, fazendo-lhe a justiça de acreditar que ele, usando da Lealdade e não desejando ser tomado na conta de pirata, reconheceu logo achar-ííe em uma região americana, do continentes já descoberto por Colombo, a quem acompanhara, sendo, já se vê, desnecessário que tivesse tomado a posse formal da tem; em nome do remado de Espanha, a quem já pertencia em virtude do descobrimento da América.