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Sessão de 26 de Abril de 1921

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Salvador, a que deu o nome de Porto Seguro.

São três acontecimentos distintos os que aqui ficam narrados: o primeiro significa o descobrimento da América e, por conseguinte, o do Brasil, por um navegador consumado, homem de iniciativa; o segundo —a primeira vez que um navegador europeu conheceu terras brasileiras; o terceiro— um acto de pirataria dum navegador inexímio. '

A verdade é que muito caro nos tem custado a honra de termos sido encontrados por essa boa gente.

Obcecados pela mania do descobrimento à míngua doutros e de invenções que os recomendam, Portugal e os portugueses, há quatrocentos e tantos anos, vivem exclusivamente do Brasil, e nos costumámos a consentir que os nossos filhos aprendam a mentir nas escolas, atribuindo a Pedro Alvares Cabral o descobrimento do Brasil, emquanto n mentira de bronze se perpetua no largo da Glória.

E tempo já de repararmos uma injustiça, rendendo um preito de gratidão a Cristóvão Colombo, o descobridor do continente americano, por meio dum monumento, incluindo neste a figura simpática do espanhol Vicente Yanez Pinzon. E deixemo-nos de mistificações . . .».

Tal é a tese nativista, perfilhada por um tarn grande número de pessoas que quási se pode considerar a tese brasileira. Por isso mesmo deve ficar registada nos anais desta Câmara. Que se saiba em todos os tempos, para seu opróbrio, que descendentes de portugueses, homens que ainda hoje usam nome português, consideram maldita a hora em que os portugueses aportaram na América, lhes chamam com ironia boa gente, acusam de pirataria Pedro Alvares Cabral —navegador inexímio, segundo eles, que desgraçadamente errou o caminho marítimo — alcu-nhando a sua estátua de mentira de bronze e pedindo, conseqúentemente> que seja apeada do seu pedestal para que no lugar que tem ocupado até hoje seja posta a estátua de Cristóvão Colombo, sem esquecer a figura simpática de Pinzon, o espanhol.

Mais ainda, que se referem ao ciclo glorioso d is nossas proezas marítimas, que o mundo inteiro cada vez mais admi-

ra e exalta, dizendo-nos obcecados pela mania do descobrimento à míngua doutros títulos que nos recomendassem.

Já refutei com largueza, e castiguei, todas estas indignas sandices no meu periódico. Supérfluo seria repeti-lo neste lugar. Além de que erros tam grosseiros, e expostos com tam evidente má fé, não se discutem. Basta.registá-los.

De resto, são os próprios sábios estrangeiros que se estão encarregando de destruir todas as mentiras, vitupérios e lendas com que se tem pretendido empanar a glória de Portugal.

É Sophus Ruge quem nos diz que foi em Portugal, aprendendo com os portu: gueses e à custa dos portugueses, que Cristóvão Colombo concebeu o seu projecto.

Foi a carta de Toscanelli ao cónego português Fernão Martins que lho sugeriu.

E se D. João II não lho aceitou, foi porque Cristóvão Colombo propunha-se, não descobrir a América, mas um caminho mais curto para os países das especiarias por oeste, e a célebre Junta dos Matemáticos muito sabiamente concluía que o caminho por oeste seria não mais curtOj mas mais longo. E ainda porque o "rei tinha já nossa altura a certeza de terra firme a S. W. do Atlântico, conforme afirmou o próprio Colombo.

Segundo outro notável geógrafo, o americano Vignaud, Cristóvão Colombo soube na Madeira, onde residia casado com a filha do piloto Perestrelo, da existência positiva daquilo que veio a ser o continente americano. Revelou-lha um piloto que teria arribado à América, o espanhol Alonso Sanches, que não parece ser outro senão o português Afonso Sanches, de Cascais.

António Gralvão falava dos portugueses que já em 1447 haviam aportado à ilha das Sete Cidades, que vinha a ficar na direcção da terra firme que em 1448 apareceu marcada, a SW. de Cabo Verde, na famosa carta de Biancho.

O Imperador da Alemanha disse em Lisboa que os descobrimentos portugueses não teriam sido possíveis sem a sc'6n-cia alemã.

Essa lenda está hoje inteiramente desfeita.