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Diário da Câmara ào& Deputado»

Ê lido na Mesa um parecer da comissão de verificação de poderes, que proclama deputado o Sr. Prestes Salgueiro.

Antes de se encerrar a sessão

O Sr. António Francisco Pereira: — Sr. Presidente: em virtude da forma como têm decorrido os trabalhos parlamentares, foi-me impossível tratar ontem do assunto para que hoje chamo a atenção do Sr. Ministro do Interior, e que é o que se segue.

Sabe S. Ex.a que o comício do dia 1.° de Maio, realizado pela classe operária no parque Eduardo VII, correu por uma forma que toda a imprensa notou, digna de elogio. Um facto, porém, se passou extraordinariamente, que é do conhecimento de S. Ex.a, por isso que já mandou proceder a um inquérito acerca dele, e foi o caso que descendo a Avenida um grupo de operários, sem motivo que tal justificasse, pois que ele nem agrediu, nem insultou, nem, sequer, provocou a polícia, foi por ela espancado e com tal barbaridade que até o povo, que não tinha nada com a manifestação, foi também agredido.

Efectivamente, pessoas de todo o crédito me afirmam que cavalheiros, que estavam sentados muito tranquilamente nos bancos da Avenida, foram agredidos sel-vàticamente pela polícia.

Ora eu não posso deixar este facto sem o meu protesto, na minha qualidade de deputado por Lisboa. Não acredito, ó certo, que o Sr. Ministro do Interior tivesse dado ordem, fosse a quem fosse, para dar para baixo no povo, a torto e a direito.

Tenho por S. Ex.* muita consideração e respeito; e, por isso, seria incapaz de tal afirmar, mas o que é verdade é que sei que se cometeram, por parte da polícia, verdadeiras barbaridades.

S. Ex.a mandou já proceder a um inquérito, realmente; é prciso porém, que ele não seja, como tantos outros têm sido,, uma burla, e que seja punido quem prevaricou.

Sr. Presidente: aproveito o ensejo de-estar com a palavra, para preguntar ainda ao Sr. Ministro do Interior em que situação está a greve dos trabalhadores da imprensa e se em presença dos resulta-

dos negativos das démarches que S. Ex.a tem empregado para ela terminar, naturalmente devido à irredutibilidade das empresas, S. Ex.a está ainda, na disposição de consentir junto das mesmas a trabalharem os militares que para lá foram mandados, únicos culpados de que a greve ainda se mantenha,

Espero, pois, que S. Ex.a me dê explicações categóricas sobre o assunto, e bem assim que empregue todos os seus esforços no sentido de que asse conflito termine, o que aliás se me afigura fácil, desde o momento que S. Ex.a use dos meios que deve usar, que é mandando retirar de lá os militares que lá estão trabalhando.

Tenho dito.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (Bernardino Machado) : — Sr. Presidente: todos sabem quais são os meus princípios; os meus princípios de republicano liberal, e assim não venho neste momento, e depois duma larga vida pública; desmenti-los.

Eu, Sr. Presidente, sou a favor de todas as liberdades, e assim folguei por ver que todas as manifestações operárias que se realizaram .no dia 1.° de Maio, correram na melhor ordem.

É preciso, Sr. Presidente, que haja uma perfeita identificação entre os governantes e a massa popular, sobre a qual se funda a República.

Pode até dizer-se que o dia 1.° de Maio este ano foi o mais alegre de alguns anos a esta parte, tendo esta data sido festejada pela classe operária sem desmandos, a não ser uns simples incidentes que se deram; incidentes sem gravidade, razão por que mandei inquirir sobro os resultados desses pequenos incidentes, como era do meu dever.