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Diário da Câmara dos Deputados—Apêndice

trigo, se mostrou muito queixoso por me Bupor o responsável da falta de cumprimento do meu despacho. E, porque eu desconhecia as manobras feitas em torno de tal contrato, conseguia-se dá-lo como nulo, com prejuízo dos interesses do Estado, pois não só o trigo posteriormente adquirido ao mesmo Caseiro era mais caro, por causa do câmbio, o que propositadamente se tem omitido, como a anulação desse contrato isentava o fornecedor das penalidades consignadas no meu despacho, acerca do qual teve esse director artes de iludir o Sr. Bernardino Machado, dizendo-lhe que o crédito podia ser aberto até o dia 20 de Março, e que fora, portanto, aberto por favor antes dessa data, como se os fornecedores não exigissem a abertura dos créditos antes da chegada da mercadoria, e como se as palavras— confirmado e irrevogável — que foram omitidas, não tornassem o crédito aberto desde a data do meu despacho, e intangível até o fim do prazo consignado.

Depois do que se passou, e que sinto não ter sido informado quando Ministro, pois entregaria aos tribunais os autores de tal proeza, fiquei com a convicção de que propositadamente se procurava afastar o Caseiro, corroborando isto o que há muito me vinham dizendo sobre as dificuldades que na Direcção Geral do Comércio Agrícola se levantavam aos concorrentes que não soubessem adquirir as suas credenciais. E, porque tal se dizia, procurei dar ao decreto n.° 7:209, a todos os concorrentes, a maior garantia para as suas propostas. Vejo que não bastaram. Ainda mais: é muito curios'o que se estranhasse que eu fechasse um contrato com esse Caseiro, que eu desconhecia, por lhe faltar idoneidade, o que, não pondo em dúvida, só me diz que é da força de muitos outros concorrentes, e não se estranhe que posteriormente, depois de eu deixar o Governo, fosse fechado novo contrato eom a mesma firma, cujas propostas, a terem de ser recusadas, deviam sê-lo pela comissão de trigos, o que ela não fez. jE, para cúmulo, lançam-me as culpas da falta de cumprimento deste último contrato, em que não tive nem podia ter a menor interferência! Seria, porém, interessante saber-se se também neste caso outros interesses sur-

giram para comprometer a proposta deste concorrente.

Toda esta miséria que venho revelando só mostra que a administração do Estado está sendo prejudicada pelos interesses, precisa de ser moralizada e que urge acabar com o actual regime de intermediários que só interessa a estes e aos que os cobrem, sem nenhuma vantagem para o país e para o Estado, e devo declarar que não acabei com este regime, porque se tinha criado uma tal atmosfera que se tornava impossível resolver o problema como ele o deve ser. Ultimamente, porém, sabia-se que eu estava trabalhando para que a moagem, com a fiscalização do Estado, adquirisse directamente o trigo, pois não fazia sentido que continuasse alimentando a indústria dos intermediários que nenhumas facilidades nos davam sobre abertura de créditos e que só me encareciam o produto que eu tinha de entregar à moagem, eu deixasse de comprar o trigo necessário para o consumo, quando a baixa se acentuava pela impossibilidade de abrir créditos em ouro. Se o Estado tivesse facilidade na abertura dos seus créditos e homens competentes para adquirir em tempo oportuno e fiscalizar as compras, a solução seria outra, mas como, infelizmente, isto raramente se dá, havia necessidade de mudar de processos, salvaguardando no emtanto os interesses do público, para evitar altas do preço do pão que não se justificavam. E, por que na melhor das intenções assim pensava, ameaçavam-me logo com as pedras da calçada, se tal o fizesse. Passava a estar vendido à moagem; j era a recompensa que me esperava!

Uma vez, e creio que foi quando me decidi a discutir a proposta Caseiro, o Sr. Kaúl Guimarães, moageir?, pôs ao dispor do Estado o seu crédito para compra de trigo. Se o tivesse aceite e ninguém diria que, com o meu gesto, eu salvara o povo da fome, estaria vendido; mas se, por não aceitar o oferecimento tivesse havido falta de pão, também ninguém me pouparia!