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Diário da Câmara dos Deputados
de de mais para um país, mesmo quando êsse país é o Brasil, galgou por cima das fronteiras nacionais e espalhou-se pelo mundo.
Que admira, se êle, a quem Clemenceau outorgara o título de «idealista humanitário», trabalhou por todos os povos na memorável segunda conferência internacional de Maia, em 1907, procurando lançar as bases de uma era de paz duradoura, permanente, eterna, sonho êsse generoso, engano êsse de alma, ledo e cego, que a grande conflagração de 1914 não deixou durar muito.
Tam notável foi a sua intervenção nessa conferência, que lhe valeu de Gabriel Hannotaux o cognome de «o grande teórico do direito internacional» e que Robert Bacon qualificou a sua acção então de «trabalho esplêndido que ficará na. História» e «de que o mundo inteiro aproveitará para sempre».
Assim como António Cândido recebera ainda em vida a consagração nacional que foi a tocante romaria de Março de há dois anos à sua moradia recatada da Rua da Emenda, assim também Rui Barbosa, em 13 de Agosto de 1918, cinquenta anos depois do ter iniciado a sua carreira pública, proferindo, em 1868, a oração de saudação a José Bonifácio pelo regresso dêste à regência da sua cadeira da Faculdade de Letras de S. Paulo, também Rui Barbosa, dizia eu,- assistiu à. grandiosa comemoração do seu jubileu literário, por cuja ocasião se organizou um cortejo em que tomaram parte mais de 100:000 pessoas, tendo-se fechado os Bancos e suspendido toda a vida comercial, como só sucede nos grandes acontecimentos nacionais!
Tudo merecia Rui Barbosa, porque era efectivamente uma personagem de inconfundível relevo.
Luís Barthou, o eminente político francês, que é também um homem de letras notável, disse algures que «há em Rui Barbosa a fôrça de vários homens, cada um dos quais é um homem de primeira grandeza. O pensamento, a palavra e a acção, casam-se nele numa harmonia perante a qual, acrescenta Barthou, a minha admiração inclina-se com respeito».
Tal é o homem, em torno de cujo corpo frio se juntam agora as homenagens mundiais.
Para nós, portugueses, acresce uma circunstância, que no-lo impõe tanto à nossa admiração como ao nosso reconhecimento.
E que Rui Barbosa, grande amigo dos portugueses, era um cultor apaixonado e competentíssimo da nossa língua, que foi também a sua.
E é ver com que disvêlo, com que ardor, eu estou em dizer, com que ciúme ólo a defendia do contacto impuro das línguas estrangeiras.
A Câmara sabe que o actual Código Civil Brasileiro de 1916 se baseia no projecto dêsse outro notável jurisconsulto brasileiro que se chama Clovis Bevilácqua.
Mas a redacção definitiva tem muito de aturado labor de Rui Barbosa, que foi o presidente da comissão de Senado encarregada do estudo do projecto de Bevilácqua.
Para Rui Barbosa, a forma por que se traduz a idea, mormente num código, é de suma e de primacial importância.
São dele os conceitos seguintes, verdadeiramente lapidares:
«Nas obras do espírito e da palavra, em cujo número não se poderão deixar de incluir as grandes codificações antigas e modernas, são íntimas as relações entro a sciência e a arte, entre a essência e a forma.
São as codificações monumentos destinados à longevidade secular; e só um fluxo da arte comunica durabilidade à escrita humana, só êle marmoriza o papel e transforma a pena em escopro. Necessário é, portanto, que nessas grandes formações jurídicas, a cristalização legislativa apresente a simplicidade, a limpidez e a transparência das mais puras formas da linguagem,, das expressões mais clássicas do pensamento».
E depois fazendo- a apologia da língua portuguesa:
«Tem o nosso idioma belezas de concisão e vigor inestimáveis, especialmente na redacção das leis, onde a majestade da soberania se revê na brevidade da palavra».
Na interessante e erudita oração que o Sr. Visconde de Carnaxide proferiu na