O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

8
Diário da Câmara dos Deputados
Se eu fôsse a contar os casos todos que eu conheço, estaria aqui a falar até amanhã. Mas couto ainda outro; êste dizendo respeito ao capitão Francisco Ramos, e em que houve intervenção do Ministério da Guerra.
Êste oficial foi transferido um dia do Pôrto. Tendo lá família, pediu, e foi-lhe concedida, licença disciplinar, que declarou querer gozar na área da 3.ª divisão. Chegado ao Pôrto, apresentou-se no quartel general. Mas ali lhe dizem logo, primeiro o chefe de estado maior, depois, em pessoa, o próprio general:
«Ponha-se fora, que não pode permanecer nesta cidade».
Isto é extraordinário, pois que a licença disciplinar pode gozar-se em qualquer ponto do território nacional.
Contudo, êle não se retira sem que lhe averbem na guia o motivo por que entendem que não pode' permanecer no Pôrto, e sem que lhe dêem guia de caminho de ferro.
O capitão Ramos queixou-se, mas debalde. Queixou-se dizendo na sua queixa que o único motivo por que o general o tratava agora assim, depois de o ter enchido de considerações, era êle ter-se recusado a ensinar um cavalo do alferes Rosa.
Mais tarde, tendo precisão de voltar ao Pôrto, requereu ao Ministério da Guerra licença para ir àquela cidade. Mas o antecessor de V. Ex.ª, Sr. Ministro, diz-lhe que só o comandante da 3. a divisão é juiz das razões que imperam para que não seja permitida a sua permanência no Pôrto.
Só o comandante da 3. a divisão é juiz, Sr. Ministro da Guerra, como se houvesse algum juiz capaz de julgar fora da lei e sem apelo das sentenças que pronunciar. Superiores aos juizes, quando julgam individualmente, há os juizes da Relação e do Supremo, que julgam colectivamente.
Há mesmo um tribunal especial para os julgar e condenar pelas suas imoralidades e arbitrariedades.
O Ministro da Guerra não teve pejo de fazer uma tal afirmativa, de se pôr de cócoras perante o comandante duma divisão qae tem cometido toda a casta de arbitrariedades, que no exercício do seu cargo se tem incompatibilizado com quási todos os comandantes de unidade.
O capitão Ramos declarou publicamente, como acabo de dizer, que o comandante da divisão se incompatibilizara com êle, por êle se ter negado a ensinar um cavalo do filho, o alferes Rosa.
O comandante de um regimento de cavalaria fez também a declaração pública de que o general se havia incompatibilizado com êle, porque o mesmo comandante se opôs a que o filho do general se utilizasse do picadeiro do regimento para ensinar a andar a cavalo uma bailarina sua conhecida.
Devo acrescentar, a título de curiosidade, que tendo a bailarina partido uma perna, no picadeiro, o comandante da divisão se apressou a ir ao referido regimento, acompanhado do chefe de estado maior, dando ordens para que os soldados a transportassem ao hospital na maca do próprio regimento.
Foi a única vez que, e por tal motivo, entrou no quartel, segundo o declara em documento oficial, o comandante do regimento.
De quem é a responsabilidade de todos, êstes factos?
É do filho? Não.
É do pai, que além de obrigar o filho a praticai serviços de espionagem contra os seus camaradas, o deixa cometer todos os abusos, pôr em prática quanto de pior lhe vem à fantasia.
Emquanto a bailarina aprendia equitação nos cavalos do Estado, chamava à ordem o comandante do regimento, porque dois oficiais, nos seus cavalos, davam num colégio particular lições de equitação.
O comandante que até aí fechava os olhos ao caso da bailarina, fingindo que não sabia, reprimiu o abuso, indignado com a arbitrariedade do general e o seu escandaloso favoritismo.
Então o general, chamando, de novo o comandante do regimento, disse-lhe que fizesse vista grossa e que deixasse que os dois oficiais governassem a sua vida.
Isto é manifesto, para que êle também deixasse continuar o abuso da bailarina.
Mas as arbitrariedades do general não têm conto.
São inúmeras.