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Diário da Câmara dos Deputados
eclosão, em 1896, salvo êrro. Porém, por motivos de vária ordem, o movimento fracassou, e Basílio Teles retirou-se da actividade política, começando a estudar a solução de vários problemas importantes. É certo que, ao mesmo tempo que dava as soluções, se eximia à pô-las em prática, mas temos de atender que Basílio Teles tinha sofrido já na vida política grandes desgostos.
Imaginando, pois, que a Câmara se associará à homenagem que neste momento o Pôrto inteiro lhe presta no passamento do seu funeral, proponho que, além do voto de sentimento que a Câmara vai lançar na acta, ela se conserve em silêncio, de pé, durante dois minutos, acompanhando assim a manifestação que no Pôrto se faz ao grande português e republicano.
O orador não reviu.
O Sr. Homem Cristo: — Sr. Presidente: pedi a palavra, não para afirmar que Basílio Teles foi um grande português e um grande patriota, — pois que essas qualidades já de todos são conhecidas — mas simplesmente para destruir à lenda da sua misantropia e declarar os motivos por que êle se afastou da vida política da República.
Ainda ontem os jornais afirmavam que Basílio Teles fechava sistematicamente a porta da sua casa a toda a gente.
Fechava-a a quem a fechava, porque havia muita gente, entre a qual eu tinha a honra de me contar, a quem nunca Basílio Teles fechou a sua porta. Êle cruzava os braços diante de muitos políticos mas não diante de todos.
Basílio Teles foi um homem de acção por excelência. Afirmando que êle foi um batalhador, V. Ex.ª afirmou, evidentemente, uma verdade. Desde 1877 até o presente trabalhou sempre pelo desenvolvimento das ideas do País, pelo prestígio da República e pela grandeza da Pátria sem descanso algum.
Se em 1910 não fez parte do Govêrno Provisório, foi porque o impediram. Nem mais, nem menos. Basílio Teles fez muitas vezes as suas confidências. Êle que toda a gente apontava como encerrado em sua casa, sem sair, não só me abria a porta de par em par, mas procurava-me na Faculdade de Letras para, ruas abaixo até a estação de S. Bento, me vir fazendo as suas confidências. Disse-me mais de uma vez: «Em 5 de Outubro estava assente que eu seria Ministro do Interior e de repente, sem a menor satisfação, aparecia Ministro das Finanças. Entendi que, tratado dêsse modo, me devia abstrair, mas depois procurei ainda avistar-me com um dos altos trunfos da República — e o seu nome me abstenho agora de o citar — tendo-me sido impossível trocar impressões com êsse homem, o qual dispunha então absolutamente do movimento republicano».
Em seguida, procurou Basílio Teles uma outra individualidade que hoje desempenha altas funções da República, e da mesma forma viu inutilizados os seus esfôrços. Desde que não podia ser senão um elemento secundário na política, natural era que se afastasse, mas nunca Basílio Teles deixaria de anuir a todas as propostas que lhe fizessem para trabalhar pela reabilitação da República e por um melhor caminho para os destinos do País.
O que acontecia, porém, com Basílio Teles?
Acontecia que era sempre convidado à última hora. Vinha uma revolução, convidavam-no na véspera; vinha outra, sucedia o mesmo, e êle, que era um homem metódico, que era um homem de planos, não queria, naturalmente, aderir por tal forma a movimentos revolucionários.
Ainda na ante-véspera do 19 de Outubro fui a sua casa a pedido de um chefe, outubrista. Dizendo-se que Basílio Teles não abria a sua porta a ninguém, pediu-me êsse chefe outubrista que o acompanhasse, pois que queria expor-lhe as ideas do movimento e convidá-lo para tomar a chefia.
Vamos lá — disse-lhe — mas certamente Basílio Teles não adere à tentativa que vão fazer, porque ela é feita sem um objetivo fixo e êle não é homem para essas cousas.
Lá fomos, e Basílio Teles respondeu exactamente o que eu previa, com uma grande lucidez de espírito, com grande conhecimento das cousas, acabando por dizer:
«O melhor é desistirem dêsse movimento, empregando todos os esfôrços para que êle não saia, porque, se sair, será mais um desastre para a Pátria».