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Sessão de 12 de Março de 1923
Vivia pobrissimamente e não havia forma de aceitar fôsse o que fôsse por mais que os seus amigos insistissem. Êstes não sabiam mesmo como lhe haviam de falar a tal respeito para não o melindrar, porque, naquele estado de renúncia, de concentração em que vivia, tudo lhe poderia parecer uma esmola e Basílio Teles não era homem a quem se pudesse dar a idea de que pela circunstância de não poder lutar com a vida receberia qualquer cousa.
Se lhe ofereciam um emprêgo, declarava-se sempre incompetente, de modo que era impossível arrancá-lo àquela miséria em que ia definhando o seu espírito.
Aceito, porém, êsse facto; o que é certo é que Basílio Teles — e era isto o que eu queria afirmar — nunca, em época nenhuma, deixou de estar pronto a intervir na política do seu País. Simplesmente queria intervir em certas circunstâncias e essas circunstâncias nunca se deram.
Infelizmente para êle, morreu com a maior amargura que pode turturar a alma de um homem — a amargura de ver o avanço da mediocridade que triumfou por todas as formas na República.
Êle, um homem de tanto talento, viu-se preterido por quantos medíocres têm surgido; êle, um homem tam honrado, de alma honestidade verdadeiramente antiga, viu-se pôsto de parte por quantos exploradores têm aparecido nesta terra desde 5 de Outubro. O seu ideal viu-o manchado. Assim foi fenecendo, fenecendo, fenecendo, até desaparecer, encolhido na sua cama, ante-ontem de madrugada, como se ainda aí a previsão terrível em que se afoga o País o pudesse ir incomodar.
Sr. Presidente: associo-me às palavras de S. Ex.ª, mas lamento que, em vez dos dois minutos de silêncio, não tivesse S. Ex.ª proposto que se levantasse esta sessão em sinal do luto pela morte do grande português que era, também, um dos raríssimos republicanos históricos que ainda existem. Não vejo nesta Câmara um único republicano do seu tempo. Tudo isto é novo! Pode ser que esteja enganado, mas creio que não há aqui nenhum homem do seu tempo.
Uma voz: — A principiar pelo Sr. Presidente.
O Orador: — O Sr. Presidente é muitíssimo mais novo na política republicana pois que apareceu em 1890, ao passo que Basílio Teles trabalhou pelo ideal republicano desde 1877, ou seja desde treze anos antes.
Por consequência, sendo um dos republicanos mais velhos de Portugal, tendo prestado tantos serviços à República, sendo um grande talento, a homenagem da Câmara devia ir mais longe que os dois minutos de silêncio e esta sessão devia ser encerrada como manifestação de sentimento.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Pina de Morais: — Sr. Presidente: em meu nome e no de alguns Deputados independentes, quero associar-me às palavras que V. Ex.ª disse sôbre Basílio Teles.
O Sr. Homem Cristo acaba de dizer que não está aqui ninguém do tempo de Basílio, mas eu creio que a homenagem mais sentida e, sobretudo, a que mais deveria agradar ao homenageado, se dela pudesse ter conhecimento, é decerto o de ser lembrado exactamente pelas gerações que deixou atrás de si.
Apoiados.
Eu não terei nem competência nem brilho (Não apoiados) para poder dar à memória de Basílio Teles as melhores flores da minha recordação, mas tenho a pureza de princípios republicanos, tenho a pureza de conduta na minha vida para o poder fazer sem mácula.
Basílio Teles apareceu na sociedade portuguesa num momento de hesitação. Finalizando em discussões estéreis as teorias herdadas da Revolução, Oliveira Martins deixou a política entre vagas intenções imperialistas e Herculano inutilizava-se, embora trabalhando no sen isolamento, para as orientações que a vida nacional ansiava.
Não tinha um período de repouso, de indiferença. Basílio aparece com um corpo de doutrina completo, com os problemas estudados, tornando-se o eixo de todos os movimentos democratas que se arquitectaram.
Êle era o mentor de homens, como Alves da Veiga, o nosso Ministro no Brasil e outras individualidades.