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Diário da Câmara dos Deputados
Sem ser intuitivo duma maneira integral, tinha em verdade essa qualidade em altíssimo grau.
Basílio auxiliou o movimento de 31 de Janeiro com a sua mentalidade.
O seu espírito era poderoso.
Podia-se afirmar claramente pelo vigor do seu raciocínio, e êsse raciocínio deu um êrro, o de considerar que seria a Alemanha a vencedora.
Dentro dum país sem convicções, afirmava a sua fortíssima individualidade. Encarava as questões esquecendo-se que hoje não são precisos só conhecimentos, é preciso sensibilidade.
Ainda não há muito, depois de ter 77 anos de idade, Basílio tentou estudar as geometrias, dando à mocidade estudiosa e a todos nós êsse grande exemplo: de que uma mentalidade para se manter tem de actualizar perenemente os seus conhecimentos.
Mas o que marcava a individualidade de Basílio é que, num tempo em que as almas se fundem, onde só os interêsses movem, onde os desejos violentos e energias indomáveis das paixões lançam azietadas de encontro às concepções velhas, Basílio era o último abencerragem da verdade.
Aquela permanência numa suposta misantropia não era senão uma nota da sua rigidez de princípios.
É como homem de virtude que mais me impressiona. Basílio não aceitou nada da República nem se serviu das diversas pontes levadiças que dos regimes e da República deitam para outros organismos onde abunda o que à República falta.
Acusam Basílio de não tomar parte no Govêrno Provisório; talvez visse a impossibilidade do cumprir e executar o que prometera e estudara; mesmo assim devia ter ido, porque só é grande o homem que vem até as vitalidades nascentes e tumultuosas da vida e nelas marca o seu papel e o seu lugar, ou se deixa do qualquer sorte queimar na fogueira que alumia os povos.
Não sei se no Govêrno Provisório houve qualquer falta, mas se houve isso representa um pecado cometido pela democracia para com Basílio Teles.
A forma por que nós temos de homenagear Basílio não é com suspensão de sessões nem longos discursos, é pôr os olhos nessa figura o fazer reviver os velhos princípios das democracias e pôr a honestidade nos caracteres e arrancar ao Estado essas golilhas que o jugulam e que fazem com que as criaturas fujam dos seus lugares; é prestigiar a República para que dela surta o que o País espera.
Tenho dito.
O Sr. Almeida Ribeiro: — Comovidamente, êste lado da Câmara associa-se ao voto de sentimento proposto por V. Ex.ª pelo falecimento de Basílio Teles, que era uma nobre figura da história da República.
A obra de Basílio Teles na preparação do movimento de 31 de Janeiro foi duma intensidade, duma actividade e duma clarividência absolutamente notáveis.
A história que êle em 1905 publicou dêsse movimento em prosa viva, é realmente uma obra interessantíssima, embora êle a tivesse sub-epigrafado como «esboço crítico de história política», pondo nesse livro como ante-face, versos igualmente vibrantes, como a sua prosa, de Guerra Junqueiro, em que dizia: «eu, rei de Portugal, súbdito inglês, declaro...«, livro que em todas as suas páginas palpita de patriotismo e de amor às ideas e instituições republicanas.
Todos os trabalhos de Basílio Teles tem o mesmo cunho bem impresso, bem nítido, absolutamente inconfundível.
Se, a seguir à implantação da República, Basílio Teles, por motivos do divergência que êle supunha fundamentais na orientação a dar aos primeiros passos dês-se regime, se afastou um pouco da actividade política, da actividade para que o estavam impondo mais que recomendando todos os seus predicados, todos os seus esfôrços, lutas e trabalhos anteriores, não deixou todavia, apesar dêsse afastamento voluntário que a si próprio se impôs, do acompanhar com carinho a República nascente e de fazer num campa quási, direi, scientífico, num campo doutrinário, os maiores esfôrços para que a República fôsse realmente o bom regime, o regime que cumulasse de benefícios a Pátria portuguesa, que enchesse de satisfação todos aqueles que pela Pátria, se interessavam.
Os livros que publicou, os artigos que até à última hora escreveu na imprensa periódica atestam-no bem.