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Sessão de 12 de Março de 1923
Se era inoportuno, não quere dizer que não seja útil em determinada oportunidade.
Nunca pensei que se fizesse o Convénio pondo de parte a mão de obra e como êste assunto interessava sobremaneira a nossa província não tenho dúvidas em declarar que tudo quanto o Alto Comissário fez foi de pleno acôrdo com o Ministro das Colónias.
Estávamos, por consequência, diante da circunstância de que no fim de Março desaparecia tudo quanto havia relativamente à parte da mão de obra.
Ouvi aqui a opinião dum ilustre camarada e meu correligionário, o Sr. Portugal Durão, que já por duas vezes passou por estas cadeiras, e que sabe perfeitamente os embaraços que elas causam.
Disse S. Ex.ª que a sua maneira de proceder, seria diversa daquela que se adoptou.
Acrescentava S. Ex.ª: A União não queria vir ao nosso encontro a fim de se obter uma Convenção como seria para desejar? E eu, dizia o ilustre Deputado, cortava o fornecimento da mão de obra, nem mais um preto para lá.
Ora aqui divergem os nossos pontos do vista, por completo, e eu tenho pena que S. Ex.ª não esteja presente para explicar à Câmara, porque de mais a mais tem trinta anos de Moçambique, como é que conseguia evitar repentinamente, que pela nossa fronteira de Moçambique com a União não passasse nenhum preto. Nós aqui há tanto tempo a debatermo-nos com uma crise de carne, e S. Ex.ª o Sr. Ministro das Finanças com a sua guarda fiscal e uma fronteira bem mais fácil de fiscalizar ainda não conseguiu evitar a saída de manadas e manadas de bois e do carneiros!
Sr. Presidente: para facilitar ainda mais as negociações para um Convénio nós concordámos que a parte relativa à mão de obra fôsse, prorrogada por seis meses, e a êste respeito diz o ilustre colega, mas aí é que está a grande questão, vai-se dar à União tudo quanto tínhamos e a questão compensadora onde ficou?
É a morte; não é um modo de viver é um modo de morrer!
Sr. Presidente: eu já tenho ouvido dizer que trato sempre com certo dessassombro todos os assuntos; com efeito foi assim que encarei esta questão, porque eu ainda acredito que os homens quando são sinceros, quando são verdadeiros, quando têm a consciência do dever cumprido, alguém lhes há-de fazer justiça, o então sossêgo.
Agora mesmo tive uma prova de que é verdadeiro o meu raciocínio, visto que, apesar de tocarem os sinos grandes de alarme, ainda não me deram um tiro. A consciência pública já está farta de conhecer as artes de tantos sineiros que em Portugal tem havido.
Sr. Presidente: não é para admirar que tendo eu uma opinião em Junho, tenha agora outra em Março, pois estas questões coloniais têm umas características especiais.
O ilustre Deputado interpelante disse que a mão de obra era o menos, mas o não cumprimento da 2.ª e 3.ª partes da Convenção é que era a morte certa de Moçambique; porém dias antes, numa conferência na Associação dos Lojistas, para elucidar a opinião pública, dizia que a mão de obra é que era o principal e que a 2.ª e 3.ª partes não tinham importância nenhuma.
O Sr. Álvaro de Castro: — Não é bem essa a frase.
O Orador: — Queira V. Ex.ª desculpar, mas é o que vem aqui nos jornais. Eu não queria ler para não tomar tempo à Câmara.
O Sr. Álvaro de Castro: — São notícias menos exactas.
O Orador: — Eu imaginava que era assim.
O que eu não posso é ouvir dizer que o Govêrno está negociando um convénio que é a ruína da província de Moçambique.
Como é que poderá compreender-se que tendo nós feito um grande favor à União, ela no dia seguinte possa tratar-nos como inimigo, fazer-nos uma guerra de extermínio à nossa província de Moçambique; e como é que nós, alegando êsse grande benefício, podemos bater o pé e dizer:
«Nem mais um preto para a União».
Não compreendo.